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Biodiversidade e manejo conservacionista: pré-requisitos para frear a degradação do solo
Boas práticas agrícolas podem proporcionar um aumento significativo no estoque de carbono no solo.

A manutenção da biodiversidade na agricultura, com manejos e práticas de conservação do solo, é determinante para frear o processo de desgaste e perda deste precioso recurso. O alerta de pesquisadores que integram o Núcleo Paranaense da Sociedade Brasileira da Ciência do Solo (NEPAR-SBCS) ganha força no Dia Mundial do Solo, celebrado em 5 de dezembro. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) .
O uso e manejo adequados do solo merecem atenção prá lá de especial, principalmente neste momento em que o mundo se volta para o mercado global de carbono, assunto amplamente debatido na COP 26, em Glasgow, na Escócia, no início de novembro.
A agricultura paranaense, praticada de modo intensivo, é pioneira no uso dos terraços para o controle da erosão, no desenvolvimento e na difusão do Sistema Plantio Direto como forma de preservação do solo, redução da erosão e da emissão de gases para atmosfera.
Entretanto, mesmo diante desse histórico muitos produtores deixaram as práticas conservacionistas de lado e o solo paranaense volta a enfrentar desafios decorrentes de problemas de erosão e de degradação das características físico-químicas e biológicas. “Continuar produtiva sem aumentar os processos de degradação do solo é um desafio enorme da agricultura contemporânea, que precisa ser trabalhado com cuidado e eficiência”, afirma pesquisador da área de solos do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (antigo Iapar), Arnaldo Colozzi.
Segundo ele, isso ficou claro na pauta da COP 26, que indicou as Soluções Baseadas na Natureza (SbN) como as mais eficazes para se fazer a descarbonização e reduzir as emissões de gases de efeito estufa em escala global.
De acordo com Colozzi, as boas práticas agrícolas podem proporcionar um aumento significativo no estoque de carbono no solo, trazendo além da vantagem socioambiental, renda extra ao produtor rural, por meio dos créditos de carbono.
Do ponto de vista tecnológico, destaca Colozzi, a pesquisa avançou nas últimas décadas na proposição de sistemas de produção mais tecnificados, os quais promovem a biodiversidade, conservam matéria orgânica e utilizam os solos de forma mais sustentável. Porém, existe uma defasagem enorme na transferência dessas tecnologias, na aceitação e na prática pelo produtor, principalmente motivada por força da pressão econômica.
“O agricultor, historicamente, faz a opção pelo uso de tecnologias que dão maior retorno econômico, que nem sempre são conservacionistas. Talvez com a efetivação do mercado de carbono ele possa fazer a escolha por tecnologias conservacionistas, privilegiando não só a produção mas também a conservação ambiental e, desta forma, passe a ter algum retorno econômico com o mercado de carbono”, acredita Colozzi.
Prejuízos
Diversas pesquisas têm quantificado as perdas de nutrientes que acontecem quando ocorre o processo erosivo. Estudo que contou com a participação do pesquisador Tiago Telles, também do IDR-PR, mostra que o prejuízo médio causado pela perda de nutrientes nas lavouras anuais do Paraná chegaria a R$ 242 milhões. No Brasil, a estimativa do custo da perda dos nutrientes somaria R$ 2,11 bilhões.
“Para estimar os custos, os teores de fósforo, potássio, cálcio e magnésio na água da enxurrada e na terra carreada pela erosão foram somados, convertidos em superfosfato triplo, cloreto de potássio e calcário dolomítico, e multiplicados pelos seus preços de mercado”, explica Telles.
O pesquisador destaca que foi verificado apenas os custos que o produtor teria com as perdas dos macronutrientes. “Se trata de um valor bem subestimado, pois não consideramos os custos com hora/máquina, mão de obra e outros aspectos. Também não estimamos essas perdas nem em pastagens nem em lavouras permanentes”, acrescenta o pesquisador.
Biodiversidade
Promover a biodiversidade do solo e o manejo conservacionista são pré-requisitos para a mudança do atual cenário de degradação. “Os organismos do solo realizam a maioria dos processos biogeoquímicos que suportam o crescimento das plantas e possibilitam cultivos produtivos, garantindo assim maior sustentabilidade na exploração agrícola”, explica Arnaldo Colozzi.
Ele aponta diversos benefícios, pois o equilíbrio biológico potencializa a ação dos organismos benéficos, mantém inimigos naturais, o que reduz a ocorrência de pragas e doenças. “Com isso, o produtor reduz gastos com insumos agrícolas, além de propiciar produtos de melhor qualidade com menor custo de produção”, afirma o pesquisador, lembrando que com cultivos mais eficientes e produtivos, não há a necessidade de ampliação de áreas para exploração agrícola com desmatamentos e desflorestamentos.
Produtor precisa fazer o básico
Não usar ou negligenciar o uso das práticas conservacionistas de solo têm seu preço: perda de sementes, insumos e nutrientes, entre outros. O prejuízo vem mais tarde: no custo final de produção e na perda da qualidade da terra, levada pela erosão.
O diretor do NEPAR-SBCS, Adriel Ferreira da Fonseca, destaca que o produtor precisa fazer pelo menos o que é considerado básico entre as práticas conservacionistas. “O básico bem feito é a melhor alternativa. Entre esses cuidados é importante a calagem para diminuir a acidez do solo, manter a cobertura de solo e a rotação de culturas para aumentar o uso eficiente de nutrientes”, afirma Fonseca.
O manejo adequado das plantas, adoção do Sistema Plantio Direto (SPD) e a manutenção dos terraços também estão na agenda de recomendações. “O que, muitas vezes, acaba acontecendo é que o produtor tira os terraços por acreditar que terá maior operacionalidade das máquinas e, por isso, também não fazem a rotação de culturas. Não investem em plantas de cobertura e, depois, querem consertar com a utilização de adubos de forma inadequada e em doses excessivas”, exemplifica o diretor.
Ele aponta que muitos não seguem a orientação para a adoção da calagem. “É preciso ser feita de acordo com a análise de solo. É uma das principais práticas que constrói um perfil de solo de melhor qualidade”, afirma.
A pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) Graziela Moraes de Cesare Barbosa, que integra a Rede de Agropesquisa afirma que, em estudos preliminares, já foi possível identificar a redução do escoamento superficial em 70% quando se utilizam os terraços. Ela alerta para os riscos que o período de chuvas traz para o solo e o desempenho da produção. “Temos visto em visitas às lavouras, que muitos produtores têm retomado a adoção dos terraços. Porém, ainda não fazem a rotação de culturas e usam o escarificador e a grade niveladora. Isso acaba pulverizando o solo, deixando-o muito suscetível aos processos erosivos. Os estudos na Rede Agropesquisa têm mostrado a eficiência dos terraços”, afirma Graziela.
A pesquisadora acrescenta que ainda não é possível mensurar os resultados do trabalho de fiscalização da Adapar, que resultou no aumento da adoção dos terraços já que, nos últimos dois anos, houve uma crise hídrica severa no Paraná.
“Porém, com as fortes chuvas que ocorreram em outubro deste ano, na região Noroeste, muitos produtores que não fizeram uso dos terraços perderam todo ou parte do plantio de verão. A recomendação é que façam um bom Plantio Direto, mantenham uma boa cobertura de solo e não usem escarificador e grade de forma alguma e adotem os terraços. Mesmo que o solo tenha uma boa infiltração de água, parte vai escoar e os terraços servem para evitar o escoamento superficial, que provoca perda do solo, adubo, sementes e nutrientes”, conclui Graziela.

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Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



