Conectado com

Colunistas

Benefícios da utilização de minerais e vitaminas antioxidantes para bovinos de leite

Estudos mais recentes indicam que a suplementação com antioxidantes durante o período de estresse térmico pode contribuir para a melhor integridade da barreira intestinal, sendo capaz de aumentar a produtividade e imunidade dos animais de produção.

Publicado em

em

A produção de radicais livres e seus danos aos animais causam preocupações, principalmente em rebanhos de alta produção. A utilização de estratégias nutricionais como minerais e vitaminas para mitigar os efeitos negativos dos radicais livres na saúde e reprodução dos bovinos tem se demonstrado eficiente, proporcionando benefícios aos animais.

Os radicais livres são formados como produto final normal do metabolismo celular proveniente da cadeia de transporte de elétrons mitocondrial ou da estimulação do NADPH, ou seja, uma quantidade mínima de produção de radicais livres é essencial para os processos vitais dos animais.

Entretanto, a produção de radicais livres fica mais elevada nos animais quando ocorrem lesões teciduais, infecções, parasitas, hipoxia, toxinas, exercícios extremos, deficiência nutricional, salinidade, estresse térmico e exposição a metais pesados. Por isso, é necessário que exista um equilíbrio entre a produção de radicais livres e sua eliminação. Quando existe desequilíbrio entre os radicais livres e antioxidantes (elementos que favorecem a eliminação dos radicais livres) ocorre o estresse oxidativo.

Os antioxidantes são substâncias que, mesmo presentes em baixas concentrações, são capazes de atrasar ou inibir o estresse oxidativo. A classificação mais utilizada para estas substâncias se divide em dois sistemas: o enzimático, composto pelas enzimas produzidas no organismo, e o não enzimático. Alguns minerais e vitaminas como manganês, zinco, cobre, selênio e vitamina E fazem parte destes sistemas, atuando diretamente ou indiretamente, sendo considerados de extrema importância para o metabolismo dos animais.

Problemas relacionados ao aumento do estresse oxidativo

O ataque dos radicais livres nos compartimentos celular ou tecidos pode causar vários problemas, entre eles danos ao DNA e à proteína síntese, aos lipídios de membrana, às proteínas, aos ácidos nucléicos, enzimas, transdução de sinal de membrana, além de  outras lesões em moléculas pequenas, resultando em prejuízos na formação celular e tecidual dos animais. Acredita-se que estes danos favorecem o desenvolvimento de distúrbios metabólicos e doenças subclínicas, acarretando em problemas de saúde e baixa produtividade animal.

Além disso, o estresse oxidativo pode ocasionar problemas de ordem reprodutiva como a peroxidação lipídica da membrana plasmática do espermatozoide, que está ligada negativamente ao potencial de fertilidade, podendo provocar também danos ao DNA do esperma, que é o principal fator que contribui para a transmissão de DNA paterno defeituoso para um feto.

Há períodos na vida dos bovinos de leite em que a concentração de radicais livres é elevada, contribuindo para o aumento do estresse oxidativo. Dentre estes períodos, podemos citar:

– Período de transição nos bovinos de leite (pré e pós-parto). A superprodução de radicais livres neste período deve-se principalmente ao aumento da atividade metabólica  e da taxa respiratória, à lipomobilização de ácidos graxos e ao baixo nível de glicose.

Este período é caracterizado por um certo grau de inflamação que representa uma adaptação dos processos patológicos. De fato, um nível controlado de inflamação é necessário e benéfico para a produção e adaptação bem-sucedida na transição.

Os processos de mobilização excessiva de lipídios, as disfunções inflamatória e imunológica e o estresse oxidativo estão interligados, contribuindo para o aumento das doenças durante o período de transição.

Ondas de calor e o estresse oxidativo. O estresse térmico participa da indução do estresse oxidativo, uma vez que níveis elevados de radicais livres foram observados em vacas leiteiras expostas a condições de calor.

– Início da vida dos bezerros. O desenvolvimento do sistema imune dos bezerros acontece lentamente até a sua maturidade plena, observada por volta dos seis meses de idade. Dessa forma, bezerros em condições de subnutrição e em péssimas condições de higiene são mais propensos a apresentarem infecções.

Um dos mecanismos bactericidas para controlar infecções é denominado de “explosão respiratória”. Nesse processo, as células do sistema imunológico que fagocitam e matam patógenos geram grandes quantidades de radicais livres. Estes, podem causar a lipoperoxidação na membrana plasmática das células do sistema imune, reduzindo o potencial de defesa do organismo. Portanto, os antioxidantes são importantes para a proteção das células imunes, principalmente quando os animais apresentam baixa imunidade.

Suplementação com antioxidantes

Dentre os métodos disponíveis para suplementação de antioxidante, o acréscimo de vitaminas e minerais à dieta dos animais é provavelmente o mais utilizado nas fazendas leiteiras, principalmente na forma de núcleos adicionados à dieta total. Esta prática tenta minimizar os efeitos da produção excessiva de radicais livres, melhorando o estado de saúde dos animais e reduzindo a incidência de doenças.

Entretanto, a suplementação excessiva ocasiona alguns efeitos prejudiciais como o aumento na produção de pró-oxidantes, sendo necessário que o produtor sempre consulte o nutricionista animal antes de fazer a inclusão de vitaminas e minerais nas dietas.

Para validar se a suplementação com minerais e vitaminas antioxidantes está  contribuindo para redução do estresse oxidativo, pesquisadores trabalham com enzimas biomarcadores antioxidantes como GPX-Px e Rd, GSH, SOD, CAT e o estado antioxidante total TAS. Suas elevações na circulação sanguínea demonstram o aumento da atividade de antioxidantes e evidenciam que a suplementação mineral vitamínica auxilia na redução do estresse oxidativo.

O mineral selênio (Se), por exemplo, está contido no centro ativo da enzima antioxidante GSH-Px e na tioredoxina redutase. O cobre (Cu) e o Zinco (Zn) fazem parte da enzima antioxidante CuZn-SOD, e o Manganês (Mn) está no sítio ativo da enzima antioxidante Mn-SOD. Estes minerais antioxidantes, Se, Cu, Mn e Zn, também influenciam no desempenho dos neutrófilos e em sua capacidade de neutralizar microorganismos. Os neutrófilos desempenham importante ação durante a fagocitose e atuam na linha de defesa contra microorganismos que invadem o organismo e a glândula mamária.

Período de transição nos bovinos de leite (pré e pós-parto)

A administração de vitamina E em combinação com Se aumenta a imunidade e o status antioxidante, demonstrando resultados na prevenção de retenção de placenta e infecções intramamárias. Estes dados foram evidenciados em estudo de metanálise em que as contagens de células somáticas eram significativamente reduzidas no leite em resposta ao tratamento com vitamina E e Se, o que mostra sua eficácia na redução da incidência de mastite.

Doenças uterinas pós-parto, como retenção de membranas fetais (RFM), endometrite ou metrite estão associados à baixa fertilidade e diminuição da produção de leite. Dentre os fatores que levam o animal a ter retenção da placenta está a falta de antioxidantes, principalmente de vitamina E, como demonstrado na metanálise realizada por Bourne e equipe. A limitação de vitamina E e selênio provocam redução do fluxo de células do sistema imunológico para as carúnculas da placenta, diminuindo a eficácia no descolamento da placenta.

Bicalho e seu grupo de estudos relataram concentrações séricas reduzidas de Ca, Mg, Mo e Zn em vacas com RFM. As vacas afetadas pela metrite apresentaram concentrações mais baixas de Ca, Mo, P, Se e Zn e as vacas que apresentaram endometrite tinham níveis significativamente mais baixos de Ca, Cu, Mo e Zn em comparação a animais não afetados por estas doenças.

O estresse oxidativo é  um dos principais influenciadores na patogênese de doenças como a retenção de placenta e mastite e tem sido identificado como uma ligação entre o metabolismo de nutrientes e inflamação durante o período pós-parto.

Portanto, o controle do estresse oxidativo através de suplementação de antioxidantes, melhora potencialmente o estado de saúde dos animais e o desempenho produtivo e reprodutivo no pós-parto.

Início da vida dos bezerros

Na fase inicial da vida, os bezerros enfrentam um grande desafio que é desenvolver um sistema imune robusto o suficiente para protegê-los de uma variedade de patógenos. Essa jornada se torna ainda mais complexa devido à imunidade imatura desses animais durante o período neonatal, momento em que a resposta dos linfócitos aos estímulos é menor comparada com a dos animais adultos.

O estresse oxidativo no início da vida dos bezerros pode comprometer algumas funções dos linfócitos e, consequentemente, a capacidade de ativação e produção de anticorpos, deixando seu sistema imune mais debilitado.

Teixeira e seu grupo de estudo, avaliando bezerros leiteiros recebendo duas injeções subcutâneas (15, 10, 5 e 60 mg/mL de Cu, Mn, Se e Zn, respectivamente) de 1mL aos 3 e 30 dias de idade, observaram maior atividade de neutrófilos e da enzima GPX aos 14 dias após o nascimento, 42% de redução na ocorrência de casos de diarreia e 35% menos chance de apresentar pneumonia ou otite até o desmame com 50 dias, embora esses benefícios não tenham se refletido no ganho médio diário ou mortalidade reduzida. Outras pesquisas também verificaram aumento das enzimas antioxidantes CAT e SOD 10 dias após a aplicação injetável de Cu e Zn em bezerros, melhorando seu sistema imune.

Ondas de calor e o estresse oxidativo

Artigo escrito pela zootecnista, doutora em Nutrição e Produção de Ruminantes e coordenadora técnica de Bovinos de Leite da Premix, Elissa Forgiarini Vizzotto – Fotos: Divulgação/Premix

Vacas em estresse térmico apresentam aumento na permeabilidade da parede intestinal e as causas desta disfunção não são totalmente compreendidas. A origem provavelmente seja multifatorial e inclui o desvio do fluxo sanguíneo dos órgãos internos para a periferia, na tentativa de dissipar o calor, mas causando a falta de oxigênio intestinal e isquemia, contribuindo para o aumento dos radicais livres.

Estudos mais recentes indicam que a suplementação com antioxidantes durante o período de estresse térmico pode contribuir para a melhor integridade da barreira intestinal, sendo capaz de aumentar a produtividade e imunidade dos animais de produção.

O selênio pode efetivamente retardar o estresse oxidativo e a inflamação em vacas leiteiras sob estresse térmico. Como demonstrado no estudo de Calamari, o Se levedura aumenta a atividade da enzima GSH, resultando em melhora no sistema antioxidante de vacas em lactação.

É  esperado que os eventos de estresse oxidativo se ampliem no futuro como resultado do aumento da temperatura ambiental, agravada pelo melhoramento genético que busca aperfeiçoar o desempenho da produção que, inevitavelmente, resulta em maior calor metabólico para o animal.

Os antioxidantes adicionados nas dietas, como os minerais e vitaminas, são uma forma viável para evitar o estresse oxidativo e manter a saúde e bem-estar dos animais de produção.

As referências bibliográficas se encontram com a autora.

Fonte: Por Elissa Forgiarini Vizzotto, zootecnista, doutora em Nutrição e Produção de Ruminantes e coordenadora técnica de Bovinos de Leite da Premix.

Colunistas

Avanços e desafios da agricultura regenerativa tropical

Evolução das práticas regenerativas permite a melhoria no ambiente de produção com uma melhoria da qualidade do solo como principal capital do agricultor.

Publicado em

em

Fotos: Divulgação/Arquivo Pessoal

O mundo desafia a agricultura a dar segurança alimentar para uma demografia ainda em crescimento, contribuir com emissões negativas para as mudanças climáticas e ainda contribuir com produção com densidade nutricional e qualidade. A agricultura brasileira pode contribuir com essa agenda de forma relevante. Atualmente, o Brasil está entre os 5 maiores produtores de alimentos e é o primeiro colocado na exportação de vários produtos agrícolas.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

É considerado o mais importante produtor de grãos nos trópicos. Estima-se que a produção agropecuária no Brasil já alimenta mais de 1 bilhão de pessoas no mundo e que as projeções da OCDE-FAO indicam uma ampliação considerável da importância do Brasil no comércio agroalimentar global até 2032. Vários são os motivos que levam a essas importantes conquistas.

Podemos citar a contribuição da agricultura industrial através da “revolução verde”, por exemplo. No entanto, muitas vezes a produção de alimentos vegetais e animais, fibras e energia também estão ancoradas em custos ocultos ao meio ambiente: a biodiversidade do sistema, a qualidade do solo agrícola, a saúde das pessoas nas cidades, a saúde dos consumidores finais, o bem-estar animal e das pessoas que trabalham diretamente no campo.

Além disso, é conhecido que esse sistema de produção convencional necessita de condições ambientais estáveis para garantir boas produtividades. Ou seja, o sistema convencional é extremamente suscetível às adversidades climáticas, as quais estão se tornando cada vez mais frequentes em diferentes regiões do Brasil. As externalidades negativas do sistema convencional de produção, somadas às suas limitações adaptativas aos extremos climáticos, requerem uma transição regenerativa e novos fundamentos de produção.

Dentro deste contexto de conscientização da sociedade por alimentos com ausência de resíduo químico, com características organolépticas superiores e com maior densidade nutricional, das necessidades de mitigar os efeitos de mudança climática, de garantir a manutenção dos recursos para as gerações futuras, de atender as demandas presentes e de preservar a biodiversidade do sistema produtivo, alguns produtores têm implementado práticas agrícolas bem conhecidas pela Ciência.

A novidade é que essas soluções estão sendo adotadas em escala. Essas práticas e técnicas de manejo regenerativo (Fig. 1) são capazes de reduzir significativamente a dependência de insumos importados, a poluição do ambiente, enquanto são capazes de aumentar a eficiência e a resiliência dos sistemas produtivos, permitindo a manutenção de boas produtividades mesmo em períodos prolongados (superior a 60 dias, no caso de grãos) sem chuvas.

A evolução das práticas regenerativas permite a melhoria no ambiente de produção com uma melhoria da qualidade do solo como principal capital do agricultor. Estes também começam a prestar serviços ambientais para toda a sociedade, principalmente para as cidades, fornecendo água e alimento de qualidade, bem como mitigando os efeitos climáticos através do abatimento do carbono utilizando insumos de baixa emissão, com os manejos que privilegiam o aumento de carbono orgânico no solo, e ainda permitem o sequestro de carbono de forma permanente através do intemperismo aprimorado de minerais silicáticos, que são utilizados como condicionadores de solo, bioativação do sistema, melhoria da qualidade do solo e fontes de nutrientes.

Ao promover e valorizar a biodiversidade através da integração das áreas produtivas com as áreas naturais remanescentes, estes produtores garantem o refúgio de inimigos naturais das pragas e obtêm importantes serviços ecossistêmicos. Além de tudo, por utilizarem insumos e serviços dos seus contextos locais e regionais, compartilham a prosperidade com a sociedade, criando riqueza e oportunidades para a comunidade ao seu redor, atendendo assim aos requisitos ESG (Sustentabilidade Ambiental, Social e de Governança Corporativa – Environmental, Social and Governance, em inglês) em plenitude.

Fig. 1: A Agricultura Regenerativa Tropical é um novo modelo de produção agrícola e pecuária que busca a melhoria contínua da saúde do ecossistema produtivo e do uso eficiente de recursos finitos. Baseia-se em uma agricultura de processos, onde diferentes manejos, técnicas e práticas são integradas para obter uma gestão holística do ecossistema.

Desta forma, entende-se como Agricultura Regenerativa Tropical (ART) um conjunto de ações e boas práticas que atuam na recuperação do ecossistema produtivo de forma a deixar um saldo de impactos positivo nas características físicas e químicas do solo, na micro e na macrodiversidade do solo, na resiliência da produção, na redução de resíduos nos produtos, no sequestro de carbono e na melhoria da sociedade local e regional. Esses produtores de alimentos, fibras e energia atuam conscientemente na adoção de manejos e suas práticas que visam promover positivamente o ambiente de produção utilizando recursos e tecnologias acessíveis da forma mais eficiente possível dentro de uma agricultura de processos, em que desafios bióticos e abióticos são equacionados através de manejos realizados em caráter preventivo. Por todas essas características, a ART tem uma forte conexão com o consumidor final, o qual prioriza a regeneração e cura dos agroecossistemas, visando impactos positivos ao ambiente, à cadeia e à sociedade. Com essa missão, os produtores visam criar novas formas de relacionamento com as cadeias de fornecedores de insumos, serviços e equipamentos, bem como de fidelidade com as cadeias de valor e com os consumidores, diferenciando sua produção, seja pela forma de produzir como pela qualidade intrínseca do produto final.

Entre as práticas utilizadas na ATR podemos destacar:

  • Manejo integrado da fertilidade do solo através do uso de remineralizadores, fertilizantes minerais naturais, corretivos e circularidade da matéria orgânica com o processamento adequado de insumos orgânicos, visando a eliminação de patógenos e germinação de plantas daninhas;
  • Rotação de culturas e sistema de plantio direto sobre a palha, visando aumentar a diversificação de plantas no sistema enquanto mantém, sempre que possível, o solo coberto e revolvido o mínimo possível;
  • Uso de comunidades microbianas funcionais e de microrganismos específicos que atendam às necessidades da cultura;
  • Redução e, quando possível, a eliminação de insumos que agridem a vida no solo, nas plantas e das pessoas;
  • Recuperação de pastagens degradadas;
  • Integração lavoura-pecuária-floresta;
  • Gestão integrada da paisagem.

A implementação destas práticas depende de o agricultor sair da zona de conforto e experimentar novos processos visando a redução de custos, com uso de soluções locais e regionais. Cabe ao agricultor, pecuarista, e/ou consultor identificar a lista de prioridades a serem equacionadas e determinar a melhor forma de atuar nos processos para implementar a transição. Por exemplo, muitas doenças e a presença de pragas podem ser equacionadas com uma nutrição adequada e balanceada. Como não existe uma tabela de determinação do requerimento e balanço nutricional da cultura para cada tipo de solo, o mais adequado é construir a fertilidade do solo de forma estruturante e deixar que a planta determine qual nutriente está sendo necessário em determinada fase fisiológica.

Essa fertilidade do solo pode ser construída ao longo dos anos com o manejo integrado da fertilidade do solo, o qual visa aumentar a eficiência do uso de fertilizantes solúveis através do uso de remineralizadores, fertilizantes minerais naturais e compostos orgânicos. No início da implementação deste manejo, correções pontuais através da adubação foliar podem ser necessárias ao longo do ciclo da cultura. O monitoramento semanal da lavoura se faz necessário para atender as demandas nutricionais e de correção para a supressão de pragas e doenças.

Com bom senso e políticas públicas, a adoção das práticas regenerativas devem continuar crescendo rumo à sustentabilidade da nossa agricultura. Na perspectiva de país, a ampliação da regeneração agrícola tem muitas justificativas para se transformar numa iniciativa estratégica, implementada de forma permanente e legitimada na Política Nacional Agrícola. Pois, podemos reduzir de forma significativa nossa dependência internacional de insumos fundamentais; podemos aumentar a renda dos agricultores e ativar as economias locais com a circulação de recursos da aquisição de insumos e serviços; podemos promover uma redução significativa nas contaminações e no oferecimento de produtos de melhor qualidade; podemos desempenhar uma agricultura de carbono negativo e, finalmente, podemos atender às demandas e compromissos das cadeias de valor por produtos regenerativos.

Fonte: Por Pablo Hardoim e Eduardo de Souza Martins, membros do Grupo Associado de Agricultura Sustentável
Continue Lendo

Colunistas

CAR e interesse público

Com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

Publicado em

em

Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

Uma situação está gerando ansiedade e impaciência no universo rural catarinense. O motivo é o imbróglio em que se tornou a implantação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) em Santa Catarina. A inscrição do CAR é perene e obrigatória para todas as propriedades ou posses rurais do país.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

Criado pela Lei nº 12.651/2012, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

Por decisão administrativa do Governo do Estado, a gestão do CAR foi entregue ao Instituto do Meio Ambiente (IMA), mas não evoluiu como seria necessário. Por essa razão, atendendo apelo das principais entidades do agronegócio de Santa Catarina, a Assembleia Legislativa aprovou e o governador sancionou lei que inclui a Secretaria da Agricultura e Pecuária no Sistema Estadual do Meio Ambiente – SISEMA.

Efetivamente, a lei nº 18.973, de 11 de julho de 2024, incluiu a Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária no Sistema Estadual do Meio Ambiente, permitindo que participe da gestão do Cadastro Ambiental Rural, do Programa de Regularização Ambiental (PRA), da Certificação das Cotas de Reserva Ambiental (CRA) e nas políticas de desenvolvimento rural sustentável.

O principal resultado prático esperado dessa medida era a homologação dos 397.731 cadastros ambientais rurais existentes. Mas isso não ocorreu.

Como se sabe, a inscrição no CAR é o primeiro passo para obtenção da regularidade ambiental do imóvel, e contempla: dados do proprietário, possuidor rural ou responsável direto pelo imóvel rural; dados sobre os documentos de comprovação de propriedade e ou posse; e informações georreferenciadas do perímetro do imóvel, das áreas de interesse social e das áreas de utilidade pública, com a informação da localização dos remanescentes de vegetação nativa, das Áreas de Preservação Permanente (APP), das Áreas de Uso Restrito, das Áreas Consolidadas e das Reservas Legais.

Os proprietários rurais fizeram o CAR em um processo autodeclaratório, mas faltava – e ainda falta – a revisão e homologação desses cadastros pelo Governo do Estado, tarefa que deveria ter iniciado em 2021.

Por que é importante estar com o CAR regularizado? A inscrição no Cadastro Ambiental Rural e a homologação pelo órgão oficial estatal permitem acessar os benefícios do Programa de Regularização Ambiental (PRA) e garantem redução de juros nas operações de crédito rural para custeio e investimentos.

Aparentemente, os órgãos estatais (IMA e SAP) não se entenderam ainda – e quem sai prejudicado é o produtor/proprietário rural. Isso porque o PRA possibilita a suspensão de sanções em função de infrações jurídicas por supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal (RL) e uso restrito, além da regularização das áreas sem autuação por infração administrativa ou crime ambiental.

De outro lado, com o PRA, o produtor também consegue acesso facilitado ao crédito rural, contratação do seguro agrícola em condições melhores e prazo de 20 anos para recomposição do passivo ambiental. São benefícios importantes para nossos agricultores, que são verdadeiros protetores do meio ambiente.

Precisamos correr contra o tempo. Os órgãos da Administração estadual – IMA, Secretaria da Agricultura etc. – devem urgentemente criar grupos de trabalho para homologar o CAR de cada produtor/proprietário rural, levando os benefícios que a lei prevê, como jurídicos e financeiros aos produtores.

A burocracia deve estar subordinada ao interesse público. E não o contrário.

Fonte: Por José Zeferino Pedrozo, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
Continue Lendo

Colunistas

No agro, governança e transparência é questão de sobrevivência

Atitudes sustentáveis levam ao acesso a novas fontes de financiamento e capital, que contribuem para a prosperidade de suas atividades e podem mudar não só o futuro da empresa, mas do país.

Publicado em

em

Fotos: Shutterstock

O agronegócio desempenha um papel fundamental na economia global, fornecendo alimentos, fibras e combustíveis que sustentam a vida moderna. No entanto, para manter e expandir suas operações e ter acesso a novas tecnologias, as empresas do setor precisam de acesso a capital e, para isso, é necessário investimento em transparência e governança.

Foto: Gisele Rosso

Óbvio que transparência e governança são componentes essenciais para qualquer empresa que deseja operar de forma sustentável e responsável. No entanto, no contexto do agronegócio esses princípios assumem uma importância ainda maior devido aos impactos ambientais e sociais significativos associados à agricultura e à pecuária.

Num primeiro momento, a transparência envolve a divulgação aberta e acessível de informações sobre as operações da empresa. Isso inclui dados sobre práticas contábeis, fiscais e trabalhistas, impactos ambientais, uso de recursos naturais e condições de trabalho. Quando as empresas do agronegócio são transparentes, elas demonstram também comprometimento com a responsabilidade social e a sustentabilidade.

Isso não apenas atrai investidores preocupados com essas questões, mas também ajuda a construir uma reputação positiva junto aos consumidores, o que pode impulsionar as vendas e a rentabilidade a médio e curto prazos.

A governança corporativa refere-se as estruturas e processos que regem o funcionamento interno de uma empresa. No agronegócio isso inclui a gestão de riscos ambientais e sociais, a conformidade com regulamentações governamentais e regras contábeis, a gestão de cadeia ética de suprimentos e muito mais. Ter uma governança sólida não apenas minimiza o risco de crises, mas também melhora a eficiência operacional, a tomada de decisões estratégicas e, sobretudo, facilita o acesso ao capital.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

E, por que a governança e transparência são importantes para acessar capital mais barato? A resposta está na crescente conscientização dos investidores e das instituições financeiras sobre os riscos associados ao agronegócio. À medida que os problemas ambientais, como desmatamento e escassez de água, e as preocupações sociais, como condições de trabalho e direitos indígenas e quilombolas ganham destaque, investidores estão cada vez mais interessados em apoiar empresas que abordem essas questões de maneira responsável.

Empresas que investem em transparência e governança têm maior probabilidade de atrair investidores comprometidos com critérios ambientais, sociais e de governança (ESG). Esses investidores estão dispostos a fornecer capital a taxas mais favoráveis para empresas que demonstram um compromisso genuíno com a sustentabilidade e a responsabilidade social. Portanto, as empresas do agronegócio que adotam práticas transparentes e sólidas de governança estão bem-posicionadas para acessar capital mais barato.

Além disso, as instituições financeiras estão cada vez mais incorporando métricas ESG em suas decisões de empréstimos e investimentos. Isso significa que as empresas que não investem em transparência e governança correm o risco de serem consideradas de maior risco, o que pode resultar em custos de capital mais elevados.

Um exemplo notável é a emissão de títulos verdes, que são instrumentos de dívida usados para financiar projetos sustentáveis. Em novembro de 2023, o Tesouro Nacional fez a sua primeira emissão de títulos sustentáveis. Essa emissão foi de um novo título, denominado Global 2031 ESG, com vencimento em 18 de março de 2031. O título foi emitido no montante de US$ 2,0 bilhões, com uma taxa de retorno para o investidor de 6,50% a.a. – fato que certamente influenciará o setor privado a seguir o mesmo caminho. As empresas do agronegócio que adotam práticas transparentes e de governança podem se beneficiar ao emitir este tipo de títulos, pois a demanda por eles está em alta e as taxas de juros tendem a ser mais baixas em comparação com títulos tradicionais.

Sócio líder do escritório de Maceió da BDO,  Leonardo Gomes – Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal

As empresas do agronegócio podem explorar oportunidades de financiamento de impacto, que são investimentos voltados para projetos com benefícios sociais e ambientais mensuráveis. Esses investimentos muitas vezes oferecem condições favoráveis de empréstimo ou investimento e podem ser uma fonte valiosa de capital para empresas comprometidas com a responsabilidade social e ambiental.

Fica, então, evidente a importância para as empresas do agronegócio investirem em transparência e governança. Isso não apenas as coloca em uma posição favorável para atrair investidores comprometidos com ESG, mas também as ajuda a acessar capital mais barato e a se adaptar às crescentes expectativas da sociedade em relação a responsabilidade ambiental e social.

À medida que o mundo se volta para a sustentabilidade, as empresas do agronegócio que abraçam esses princípios avançam mais rápido. É um ciclo virtuoso que garante perenidade e sucesso a longo prazo. Atitudes sustentáveis levam ao acesso a novas fontes de financiamento e capital, que contribuem para a prosperidade de suas atividades e podem mudar não só o futuro da empresa, mas do país.

Fonte: Por Leonardo Gomes, sócio líder do escritório de Maceió da BDO.
Continue Lendo

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.