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Balde Cheio reverte para a sociedade R$ 44,41 para cada real investido

Produtores de leite de 375 municípios de 18 estados brasileiros adotam a tecnologia, que atribuem mais sustentabilidade à atividade.

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Dados de 2022 apontam que para cada R$ 1 investido em 2022 no Programa Balde Cheio da Embrapa, R$ 44,41 foram revertidos para a sociedade brasileira. O valor reflete a adoção da metodologia para produções de leite de 375 municípios de 18 estados brasileiros. Mais de três mil propriedades leiteiras receberam consultoria individualizada de 247 técnicos em treinamento continuado.

O programa está na estrada há 25 anos, promovendo maior sustentabilidade ambiental e melhoria na qualidade de vida dos produtores de leite. Os números estão no Relatório de Avaliação de Impactos do Programa Balde Cheio , elaborado em conjunto pelos centros de pesquisa da Embrapa: Pecuária Sudeste (SP), que é líder do Programa; Cocais (MA), Rondônia (RO) e Pesca e Aquicultura (TO).

Fotos: Gisele Rosso

A aplicação da metodologia propicia aumento da produtividade e do rendimento, em função da intensificação e melhorias nos sistemas de produção. Em 2022 foram comprovadas propriedades em diferentes estados e com níveis tecnológicos iniciais muito diversos. “Nesse sentido, chama a atenção que, independentemente da produtividade inicial ou da região, a produção com a aplicação de tecnologias adequadas para cada estágio multiplicado por três ou quatro vezes”, destaca o coordenador do Balde Cheio, André Novo, que também é chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pecuária Sudeste. Estima-se que as propriedades integrantes do programa tenham produtividade anual de 4.485 litros por hectare, enquanto a média geral brasileira é de 1.180 litros por hectare ao ano.

“O Balde Cheio promoveu uma mudança de chave dentro do processo de gestão da propriedade. Ao falar de gestão, refiro-me à propriedade, não apenas ao controle financeiro, do que entra e o que sai”, elogia Ingergleice Abreu, produtora da Agropecuária Saint Expedit, integrante do programa há três anos.

Para ela, a equipe auxiliou na tomada de decisões a curto, médio e longo prazos. Inclusive animais que antes eram descartados, passaram a receber outro manejo e se tornaram produtivos. “Aprendemos que, com medidas simples, podemos oferecer maior conforto animal, o que deixou o rebanho mais produtivo”, pontua, destacando a importância do técnico. “Tem sido fundamental a presença constante do técnico, que nos ajuda muito tirando dúvidas e nos apoiando. A equipe não exige nada, não vende nada. As coisas são acordadas”, ressalta o produtora.

Abreu salienta, ainda, que muitas pessoas acreditam que os investimentos são altos, mas não é bem assim. “A ideia é otimizar o processo com o menor custo possível”, enfatiza.

Criado para melhorar o desempenho da pecuária leiteira, o Balde Cheio atua por meio da capacitação contínua de técnicos e produtores. O método contribui para o incremento da renda, em bases sustentáveis, com adoção de ferramentas de gerenciamento de propriedades e tecnificação, considerando a realidade local. Ou seja, o programa compartilha soluções de forma customizada, conforme as características de cada estabelecimento rural, de forma participativa, em que todos se corresponsabilizam pela tomada de decisões.

Sustentabilidade ambiental
O Balde Cheio também promove a sustentabilidade ambiental. “Temos percebido resultados positivos, no sentido de nascentes sendo preservadas e águas em curso descontaminadas”, afirma o zootecnista da Embrapa Pesca e Aquicultura Cláudio Barbosa, responsável pelo projeto no Tocantins. Segundo ele, os efeitos negativos das estimativas diminuíram nas propriedades. “Houve aumento de áreas de sombra por meio do plantio de árvores, beneficiando a fauna silvestre, pássaros e insetos polinizadores. Além disso, houve preservação de matas ciliares e conservação de solos com declividades, evitando-se erosões”, sublinha.

Outro ponto relevante notado no Tocantins e no Pará foi o abandono do uso da queima anual. Com a entrada no Balde Cheio, os produtores contam que deixaram a prática de lado. Nos estados de São Paulo e Rondônia, alguns ressaltaram o aumento do consumo de água depois do Balde Cheio, com a segurança das pastagens. Já não há que dizer respeito à qualidade do recurso, o efeito foi bom. No Tocantins e no Pará, os animais não pisoteiam mais as margens de cursos d’água, contribuindo para a preservação e a redução do assoreamento. Há relatos de que, devido à maior preservação dos cursos d’água nesses estados, houve aumento da mata ciliar.

“A conservação da biodiversidade e a recuperação ambiental são fundamentais para a sustentabilidade da atividade. O conjunto de práticas preconizado pelo Balde Cheio permitiu ainda conter a pressão pela abertura de novas áreas para pastagens. Além disso, alguns animais silvestres voltaram a ser vistos, assim como a vegetação nativa e áreas de preservação que eram usadas para sombreamento foram poupadas”, observa Barbosa.

25 anos de trajetória
A iniciativa foi da Embrapa Pecuária Sudeste, em 1998, e idealizada pelo pesquisador aposentado Artur Camargo, que sempre viu o programa como uma possibilidade de melhorar a autoestima do produtor de leite e dar dignidade às pessoas e bem-estar às vacas. Camargo priorizou, durante todos os anos à frente do Balde Cheio, uma mudança de vida e de percepção de mundo.

O Balde Cheio capacita profissionais de assistência, extensão rural e pecuaristas em técnicas, práticas e processos agrícolas, zootécnicos, gerenciais e ambientais. A capacitação ocorre na propriedade rural, transformada em sala de aula. Também há aulas teóricas para extensionistas e produtores nas regiões de abrangência do programa.

As propriedades utilizadas como “salas de aula” são chamadas de Unidades Demonstrativas (UDs), e recebem visitas de produtores periodicamente. Dessa forma, mais pessoas são alcançadas. Já as fazendas que apenas recebem assistência do técnico são designadas Propriedades Assistidas (PAs). “A Unidade Demonstrativa e as Propriedades Assistidas, acompanhadas por um técnico, formam uma rede de aprendizagem dinâmica em que as escolhas tecnológicas são realizadas de acordo com o estágio de desenvolvimento de cada propriedade e adaptadas às condições locais. O ritmo da introdução de cada passo é determinado por uma série de fatores e de forma gradativa em um processo semelhante ao conceito de “troca de marchas” de um carro”, explica André Novo.

Para participar do programa, o produtor deve cumprir alguns critérios, como, por exemplo, realizar exames anuais nos animais para detecção de brucelose e tuberculose, fazer o acordo com o consultor e anotar os controles zootécnicos e econômicos econômicos da propriedade.

Segundo Novo, as parcerias são obrigatórias para o programa. Assim, são possíveis cooperações com serviços de extensão rural governamentais, associações de produtores, cooperativas, organizações não governamentais, prefeituras, fundações, agências de desenvolvimento e, principalmente, profissionais autônomos ligados à extensão rural.

Apesar do conceito e dos elementos-chave serem os mesmos desde o início, o programa passa continuamente por melhorias. Desde 2017 funciona em rede. Vários centros de pesquisa da Embrapa foram chamados para participar, além de parceiros externos. Atualmente, 13 Unidades da Embrapa ( Acre  (AC),  Agroindústria de Alimentos  (RJ),  Café  (DF),  Clima Temperado  (RS), Cocais (MA),  Gado de Leite  (MG), Rondônia (RO),  Semiárido  (PE) ),  Tabuleiros Costeiros  (SE),  Pecuária Sul  (RS), Pesca e Aquicultura (TO),  Agricultura Digital  (SP) e a Unidade Mista de Pesquisa e Transferência de Tecnologias (UMIPT) de Francisco Beltrão (PR) estão engajadas para fortalecer o compartilhamento da ciência e das tecnologias.

Impacto das tecnologias
A produção de leite médio brasileiro é de menos de 100 litros por dia. No Balde Cheio, a maioria (cerca de 75% dos participantes) produz mais de 200 litros por dia. Tal fato confirma a metodologia como potencializadora do desempenho e dos resultados do trabalho do pecuarista.

A maior produtividade nas fazendas está relacionada a várias tecnologias e conceitos utilizados de forma customizada, como sanidade animal, bem-estar, gerenciamento, supervisão, manejo intensivo de pastagens, estruturação de rebanhos, eficiência na reprodução e preservação ambiental. Os impactos sociais e econômicos direcionados pela metodologia Ambitec-Agro com adoção de práticas nos estados de Rondônia, São Paulo, Maranhão e Tocantins estão relacionados, principalmente, ao bem-estar e saúde animal, geração de renda, agregação de valor na propriedade, segurança alimentação e qualificação dos trabalhadores e pecuaristas.

Apesar de o número total de propriedades atendidas ter aumentado em quase 60% em 2022 em relação a 2021, a distribuição não foi abundante. Houve aumento significativo em Rondônia e Tocantins, e expansão moderada no Rio de Janeiro e Paraná. A assinatura de parceria com a Entidade Autárquica de Assistência Técnica e Extensão Rural ( Emater ) de Rondônia, permitiu a expansão do número de técnicos e produtores atendidos. Rio de Janeiro, Tocantins e Paraná também tiveram maiores taxas de adoção em comparação a 2021.

Nenhum programa ocorreu incremento no número de técnicos em treinamento. Eram 200 em 2018, passaram para 222 (2021) e para 247 profissionais em 2022.

No total, foram 99 parcerias em 2022. São laticínios, cooperativas, associações de produtores, órgãos de extensão rural oficiais ou privados, ONGs, bancos, entidades do Sistema “S” (entidades corporativas externas ao treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica), que atua no âmbito local, garantindo a adoção do Balde Cheio.

Balde Cheio e os ODS
O programa contribui para o cumprimento de vários Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ( ODS ):

ODS 1 – Erradicação da pobreza, em função das ações que visam reduzir a proporção de homens, mulheres e crianças que vivem em situação de pobreza, especialmente no campo.

ODS 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável, o programa colabora para acabar com a fome no campo e alcançar a segurança alimentar. Com a melhoria da qualidade da produção local, beneficia tanto os produtores quanto o sistema de produção regional.

ODS 3 – Saúde e bem-estar, o princípio básico do Balde Cheio é o de garantir uma vida saudável e promover o bem-estar para todos no campo.

ODS 8 – trabalho decente e crescimento econômico, a diversificação e uso de tecnologias busca agregar qualidade e valor aos produtos, a intensificação sustentável e o crescimento das propriedades leiteiras.

ODS 10 – Redução das desigualdades, o Balde Cheio fomenta o desenvolvimento integral dos produtores e de suas famílias. A metodologia reforça o compromisso de melhorar a vida no campo e eliminar a vulnerabilidade de pequenos produtores familiares.

Fonte: Embrapa Pecuária Sudeste

Bovinos / Grãos / Máquinas Seminário de Criadores e Pesquisadores

Pecuaristas debatem planejamento reprodutivo e desafios da prenhez em novinhas precoces

Transferência de conhecimento tem proporcionado uma evolução expressiva no desempenho genético dos rebanhos, melhorando a qualidade dos animais e, consequentemente, a oferta no mercado.

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Fotos: Fernando Samura

Transmitir uma mensagem com mais clareza e divulgar informações que tenham aplicabilidade no campo. Estes foram os objetivos centrais que nortearam as discussões do 28º Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores, promovido recentemente pela Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP), em Uberaba (MG). Conforme os organizadores, a edição de 2024 foi uma das maiores já realizadas, registrando um crescimento de público de 25% em relação ao ano anterior.

Zootecnista, especialista em Agronegócio e diretora de Mercado e Associados da ANCP, Fernanda Borges: “O Seminário não só reforçou a importância da fase da prenhez ao parto na cadeia produtiva, como também destacou o papel da ANCP em promover a inovação e o desenvolvimento contínuo da pecuária nacional”

Com o tema “Da prenhez ao parto”, o seminário focou nos avanços mais recentes da pecuária de corte, no planejamento reprodutivo e nos desafios associados a prenhez em novilhas precoces, atraindo cerca de 500 participantes, entre criadores associados, pecuaristas, pesquisadores, professores e estudantes de ciências agrárias, técnicos agropecuários, profissionais de programas de melhoramento genético, associações de raças bovinas e empresas da área de genética de todo o país.

O evento ofereceu uma programação rica e diversificada, com especialistas renomados no setor discutindo e compartilhando conhecimentos sobre as novas tecnologias e práticas que estão moldando o futuro da produção bovina no Brasil. Além de palestras e discussões em plenário, os participantes tiveram a oportunidade de acompanhar uma mesa-redonda, o lançamento de novas DEPs (Diferença Esperada na Progênie) e a divulgação do sumário de touros 2024.

ExpoGenética

Esta foi a segunda vez que o Seminário integrou a programação da ExpoGenética, reforçando seu papel como um dos principais fóruns de debate e troca de conhecimento no setor. “A ExpoGenética é um dos principais encontros da pecuária de corte no Brasil, proporcionando uma excelente oportunidade de networking. É um ambiente em que criadores, pesquisadores e empresas se conectam, trocam conhecimentos e estabelecem parcerias que impulsionam o setor”, ressalta a zootecnista, especialista em Agronegócio e diretora de Mercado e Associados da ANCP, Fernanda Borges.

De acordo com a profissional, a escolha do tema que norteou as discussões da 28ª edição do evento se deu em razão de que os criadores têm investido cada vez mais na precocidade sexual de novilhas, buscando com que esses animais emprenhem em idades mais jovens. Contudo, esse avanço trouxe à tona um novo desafio: dificuldades no parto devido ao tamanho, idade e desenvolvimento da fêmea.

Além de oferecer uma plataforma para atualização e a troca de conhecimento, Fernanda diz que o evento visa popularizar o melhoramento genético em toda a cadeia produtiva, atingindo desde pequenos até grandes criadores. “Nosso objetivo é garantir que todos tenham acesso às ferramentas necessárias para desenvolver melhor seu rebanho para que compreendam e reconheçam o potencial que possuem nas mãos”, frisou, acrescentando: “Muitos criadores ainda baseiam suas decisões em achismos, opiniões de vizinhos ou informações genéricas, sem conhecer as reais oportunidades que o melhoramento genético pode oferecer. Neste sentido, o seminário busca formar multiplicadores de conhecimento, de modo que a informação chegue a todos os níveis da cadeia produtiva, contribuindo para o fortalecimento da pecuária nacional”.

Conforme a zootecnista, o Brasil tem um enorme potencial para melhorar não apenas a quantidade, mas também a qualidade da produção de carne. O investimento em genética, segundo ela, é uma alternativa com excelente custo-benefício e pode proporcionar ganhos acumulativos ao longo dos anos, sem complexidades desnecessárias. “O Seminário não só reforçou a importância da fase da prenhez ao parto na cadeia produtiva, como também destacou o papel da ANCP em promover a inovação e o desenvolvimento contínuo da pecuária nacional”, frisou.

Ciência e prática

Fernanda destaca a importância do Seminário Nacional de Criadores e Pesquisadores como o evento mais relevante promovido pela ANCP ao longo do ano. Com quase três décadas de trajetória, o Seminário se consolidou como um importante canal para a disseminação dos avanços em pesquisa e desenvolvimento aplicados à prática pecuária. “A ANCP investe intensamente em pesquisas e no desenvolvimento de conhecimento que possa ser diretamente aplicado pelos produtores no dia a dia. O seminário desempenha um papel importante ao reunir e compartilhar essas inovações, originadas de colaborações com universidades e centros de pesquisa”, menciona.

Essa transferência de conhecimento tem proporcionado uma evolução expressiva no desempenho genético dos rebanhos, melhorando a qualidade dos animais e, consequentemente, a oferta no mercado. “O impacto positivo dessas inovações reverbera por toda a cadeia produtiva da carne, beneficiando todos os envolvidos e garantindo que o conhecimento transmitido durante o seminário se reflita em avanços concretos na prática pecuária”.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura de leite e na produção de grãos acesse a versão digital de Bovinos, Grãos e Máquinas, clique aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Bovinos / Grãos / Máquinas

Indicador sobe 3% na 1ª dezena, mas pecuaristas esperam maiores altas

No atacado, os preços da carne com osso também registram aumentos, impulsionados pela demanda aquecida, de acordo com colaboradores consultados pelo Cepea.

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Foto: Shutterstock

Levantamentos do Cepea mostram que as cotações do boi gordo seguem em alta, sustentadas pela oferta limitada de animais prontos para abate no spot.

No acumulado da primeira dezena de setembro, o Indicador Cepea/B3 subiu 3,1%, passando de R$ 239,75 no último dia útil de agosto, para R$ 247,20 na última terça-feira (10).

Segundo pesquisadores do Cepea, apesar do movimento altista, pecuaristas se mantêm resistentes em entregar o boi, na expectativa de valores maiores que os atuais.

No atacado, os preços da carne com osso também registram aumentos, impulsionados pela demanda aquecida, de acordo com colaboradores consultados pelo Cepea.

Divulgação recente do IBGE mostra que o volume abatido no segundo trimestre foi recorde, com destaque para a categoria fêmea (vaca e novilha) – foram 8,8 milhões de cabeças no semestre, o que representou 45,7% do total de animais abatidos.

 

Fonte: Assessoria Cepea
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Bovinos / Grãos / Máquinas Desempenho produtivo

Dietas com DL-Metionina protegida melhora produção de leite, proteínas e sólidos totais em dias de calor extremo

Um estudo conduzido em parceria com UFLA mostrou aumento significativo da produção de leite, da proteína, da lactose e dos sólidos totais durante o período de estresse térmico

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Divulgação Evonik

Artigo escrito por Tales Lelis, médico veterinário com mestrado em Produção Animal pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor Regional de Negócios e Soluções para Ruminantes da Evonik.

Nutrição, sanidade, manejo, mão de obra, gestão e sucessão familiar são alguns dos desafios diários da produção de leite. As altas temperaturas aliadas a fenômenos como seca e incêndios em todo o mundo se tornam o mais recente obstáculo a ser enfrentado pelo produtor. Para se ter uma ideia, no final do mês de julho o Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia, indicou que o mundo teve o dia mais quente já registrado, quando a temperatura média global atingiu 17,09º C. O recorde anterior havia sido registrado em julho de 2023, quando a média global foi de 17,08º C. O último mês de junho também registrou o décimo terceiro mês consecutivo de recordes de calor na Terra.

Para o mês de agosto, por exemplo, a projeção é que, na Alemanha, as temperaturas cheguem aos seus maiores níveis, oito graus Celsius acima da média dos últimos 30 anos. Nos Estados Unidos, mais de 30 milhões de pessoas estarão em regiões onde ondas de calor prometem ser intensificadas.

No Brasil, o cenário não é diferente. Estamos vivendo um inverno mais quente e com máximas preocupantes, ultrapassando os 35ºC em muitas cidades, algo pouco comum para esta época do ano. Uma onda de calor elevou as temperaturas em diversas regiões do país e dados meteorológicos recentes indicam que essa tendência de alta vai se intensificar, potencialmente alcançando até 38ºC em algumas localidades em pleno inverno.

O ano passado entrou para a história como o mais quente. E a projeção é de que 2024 pode superar essa marca. Todos estes dados mostram que as ondas de calor extremo que temos vivenciado nos últimos anos devem permanecer e este quadro tem impacto especialmente importante na agricultura e, sobretudo, na produção animal.

O desempenho produtivo e as funções metabólicas de vacas leiteiras são fortemente afetados pelo estresse térmico (Prathap et al., 2016). Queda de produtividade, aumento das perdas embrionárias ou perdas gestacionais e distúrbios metabólicos em função do combate ao estresse provocado pelo calor são alguns dos efeitos dos dias mais quentes nos animais. Então, como identificar os sinais de uma vaca em estresse térmico? Bom, o sinal amarelo pode ser aceso quando observarmos sintomas como: aumento da taxa respiratória, alta da salivação do animal, redução de ingestão de alimento e comportamento de se manter em pé por muito tempo, reduzindo assim a sua ingestão de alimento e o tempo de ruminação. Quando estes sintomas são observados é importante agir porque já está ocorrendo perdas produtivas.

Neste cenário, a ambiência é um fator primordial para reduzir este impacto negativo que o calor exerce sobre os animais. Isso exige melhorias na qualidade do alojamento, garantindo conforto. O fornecimento de sombra, ventilação e aspersão de água são algumas das técnicas de resfriamento mais utilizadas. A disponibilidade de água, em qualidade e quantidade, também é primordial.

Além da ambiência, a nutrição também pode ser um aliado de primeira hora diante deste quadro. Uma estratégia nutricional bem direcionada pode reduzir os efeitos negativos do calor no desempenho do rebanho. Um exemplo é a suplementação de DL-Metionina protegida. O modelo de ação desta ferramenta reduz os efeitos do estresse térmico através de um incremento dos agentes antioxidantes, de uma redução da inflamação e da melhoria da função imunológica da vaca. O que ocorre é que o estresse provocado pelo calor excessivo aumenta as concentrações de radicais livres circulantes com potencial efeito deletério em diversas funções fisiológicas. A inclusão de DL-Metionina protegida contribui com um aumento dos agentes antioxidantes e a consequente redução dos radicais livres.

Um estudo conduzido no período do verão em uma fazenda comercial no sudoeste brasileiro em parceria com a Universidade Federal de Lavras (UFLA) mostrou que a suplementação da dieta com DL-Metionina protegida melhorou o desempenho de vacas leiteiras sob estresse térmico. Neste levantamento o objetivo foi avaliar os efeitos da metionina protegida no rúmen (RPM), na produção e na composição do leite, bem como nas respostas fisiológicas de vacas leiteiras lactantes durante a estação mais quente.

Desenho experimental e medições

Neste estudo, 80 vacas primíparas da raça Holandesa (43,7 ± 4 quilos de leite e 182 ± 63 dias em lactação) divididas em dois grupos experimentais, pareados por produção de leite e dias em lactação. Elas foram alimentadas com uma dieta sem (controle) ou com 0,75 gramas por quilo de matéria seca de DL-Metionina protegida (85% de DL-metionina; RPM) misturado em uma dieta totalmente misturada basal por 9 semanas.

As vacas foram alojadas em um sistema de Compost Barn equipado com ventiladores e aspersores. E a temperatura do ar e a umidade foram registradas diariamente a cada 10 minutos para o cálculo do índice de temperatura e umidade (THI). A produção de leite também foi registrada diariamente e amostras de leite foram coletadas para análises de proteína, gordura, lactose, ureia e contagem de células somáticas nas semanas 3, 6 e 9.

Durante estas semanas, a temperatura intravaginal (IT) e a taxa respiratória (RR) foram medidas em 15 vacas por grupo; a IT foi registrada a cada 5 minutos durante 4 dias por semana e a RR foi estimada às 10h e às 17h, contando os movimentos do flanco por 30 segundos durante dois dias.

 

Resultados

As vacas que tiveram a dieta suplementada com DL-Metionina protegida tiveram um aumento significativo da produção de leite (+2,0 kg/d, P<0,01), da proteína (+50 g/d, P=0,03), da lactose (+108 g/d, P=0,03) e dos sólidos totais (+176 g/d, P=0,03) durante o período de estresse térmico. A conversão alimentar também foi melhor no grupo que recebeu a dieta suplementada com a DL-Metionina protegida na comparação com o grupo controle (1,74 vs. 1,62).

Esta suplementação com a metionina não impactou a ingestão de matéria seca dos animais. Apesar de a temperatura intravaginal (IT) não ser afetada pelo tratamento, houve uma tendência de aumento do tempo acima de 39°C com uso de metionina em relação ao grupo controle. A taxa respiratória (RR) também apresentou uma tendencia de elevação para o grupo RPM na comparação com o grupo controle.

Em resumo, podemos concluir que a suplementação de vacas leiteiras com DL-Metionina protegida durante a estação mais quente contribui com aumento na produção de leite, proteína e sólidos totais. Os resultados demonstram que a DL-Metionina protegida é uma ferramenta valiosa para enfrentar o estresse térmico em sistemas de produção de leite.

Fonte: Por Tales Lelis, médico veterinário, diretor Regional de Negócios e Soluções para Ruminantes da Evonik com O Presente Rural
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