Notícias 2019
Avicultura catarinense está otimista com 2019
Análise é do presidente da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV), José Antônio Ribas Júnior

O ano de 2018 foi um dos mais difíceis para o agronegócio, com insumos em alta, consumo em baixa e os problemas potencializados pela greve dos transportadores. Agora, porém, o otimismo e a confiança estão voltando ao mercado. A retomada do crescimento iniciará em 2019, mas, o período ainda será de dificuldades. A análise é do presidente da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV), José Antônio Ribas Júnior, que avalia os cenários brasileiro e mundial para a carne de frango.
José Antônio Ribas Júnior é considerado um dos maiores especialistas na área. Atua há 25 anos na produção de aves e suínos: 20 anos na Sadia e cinco anos na JBS. Engenheiro agrônomo de formação, concluiu pós-graduação em Gestão Empresarial pela USP/Unicamp. Preside a Câmara Nacional de Integração das duas principais entidades nacionais do agronegócio – a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Por favor, faça uma avaliação de como foi o ano de 2018 para a avicultura brasileira e catarinense?
O ano de 2018 foi desafiador para o setor. Tivemos no primeiro semestre uma greve dos caminhoneiros que dilacerou o sistema de produção de aves e suínos. Perdemos produção, comprometemos produtividades, aumentamos custos e todos estes impactos não se restringiram apenas ao período de greve. O pós-greve seguiu trazendo suas consequências, entre elas a tabela de frete mínimo ainda em debate. Custos que se adicionam a uma conta que o setor não consegue pagar. Ainda vivemos embargos de mercados e uma reacomodação do sistema oficial de fiscalização que precisa de ajustes, sob pena de inviabilizar a produção nacional. Somos defensores de níveis elevados de qualidade, pois foram com estas competências, que atingimos mais de 150 mercados no mundo. Tivemos um ano ainda com grãos caros, fato que também agrega custos relevantes aos nossos produtos. Nestas dificuldades mostramos nossa resiliência e certamente aprendemos muito. No final do ano 2018 tivemos a abertura de novos mercados, o que ilustra que temos qualidade, e nos dá uma expectativa positiva para 2019. Este ano tivemos em SC a certificação do 1° Compartimento de Frango para abate do Mundo, para a Unidade Seara de Itapiranga. Cito isso para reforçar que temos uma produção de qualidade diferenciada. Em resumo, desafios relevantes, muito aprendizado e a certeza que o setor precisa voltar a gerar lucro, pois é isso que sustenta a continuidade dos processos e investimentos.
A greve dos caminhoneiros arrebentou, de forma irrecuperável, muitos setores da economia nacional, inclusive a avicultura?
Foi um episódio que gerou sacrifícios e prejuízos irreparáveis ao setor. Houve perdas de plantéis, comprometimento da qualidade, da produtividade e repercussões que se arrastaram por todo o segundo semestre. Falamos em SC de prejuízos acima da centena de milhões. Não discutimos as motivações, mas a conta ficou para o setor, que foi o mais afetado. Infelizmente a politização do movimento atrapalhou o processo de negociação. O pós-greve ainda deixou uma herança pesada. A tabela do frete mínimo precisa de ajustes. O setor não suporta mais pagar as contas que nos são impostas. Corremos o risco de inviabilizar nosso setor e torná-lo menor do que hoje. Nosso setor quer focar em produzir e gerar riqueza para o País.
Quais as lições que essa greve deixa para um setor tão complexo e vulnerável como a avicultura industrial, tendo em vista que pairam ameaças de uma nova greve em 2019?
Todos os episódios do ano geraram lições duras e importantes. O setor precisa fazer sua voz ser ouvida pelo Governo. Todos precisamos ter contingências mais efetivas para as crises. E, por fim, colocar todas as estruturas público e privada trabalhando a serviço de ampliar nosso setor e ganhar mais espaço no mercado mundial. Crescimento gera riqueza e é o caminho para o desenvolvimento econômico e social do Pais. Sabemos fazer, só precisamos de convergência de objetivos. Com este modelo mental, todos entenderão que o setor precisa ser blindado. Não podemos ficar vulneráveis como a greve dos caminhoneiros nos deixou. Os risco foram imensos, poderíamos perder até nosso status sanitário, o que seria uma catástrofe econômica e social. Esta missão é de todos. Esperamos que em quaisquer episódio de greve, todos tenham a competência de tratar proativamente.
As exportações brasileiras de carne de frango foram duramente prejudicadas com a perda do mercado europeu… Poderemos recuperar?
Podemos e devemos fazer isso. Muitas lições foram aprendidas nos dois últimos anos. Desde os processos mais básicos de ajustes na produção até nosso posicionamento como Pais frente aos mercados. Na produção avícola temos competências e virtudes comparativas que são diferenciadoras. Por exemplo, somos o único país do mundo com relevância econômica neste setor livre das doenças de notificação obrigatória. Ainda, somos muito competitivos em custos. E, por fim, temos qualidade em toda a cadeia, do produtor à mesa do consumidor. Estes elementos todos nos fazem ter a certeza que recuperaremos mercado. Há um trabalho duro a ser feito. Governo Federal, Estadual e empresas, juntos, precisam reconstruir a confiança e, fundamentalmente, “vender” nossas virtudes. Somos muito competentes em expor nossos erros, que foram pequenos, precisamos dar visibilidade às nossas qualidades. O momento é difícil, mas iremos superar e sairemos mais fortes. O mundo sabe da avicultura profissional, competente e qualificada que fazemos aqui.
A perda do mercado europeu foi, ainda, sequela da operação Carne Fraca?
Tudo se conecta. Excluídos os exageros e imperfeições da primeira etapa, os processos subsequentes e todas as repercussões foram construídos com mais consistência. O setor entende a importância deste processo investigativo e apoia. Não somos e não seremos simpáticos aos erros que eventualmente sejam cometidos. Pelo contrário, queremos defender o nosso maior patrimônio que é a qualidade da nossa produção. Mas reforço que não se coloque tudo no mesmo pacote. Erros pontuais ou individuais devem ser tratados como tal. O setor é maior do que isso, e tem, em sua grande maioria, gente do bem produzindo, com qualidade e gerando empregos e riqueza às cidades, estados e ao País.
Quais as projeções que o Senhor faz para 2019? Vamos encerrar essa que foi é uma das maiores recessões da história republicana brasileira?
Temos a expectativa de um 2019 melhor. Sairemos desta crise política, social e econômica. O País precisa retomar o rumo do desenvolvimento. Afinal, em grande parte dependemos apenas de nós mesmos. A boa notícia é que há fatos novos, mercados se abrindo e uma reversão de expectativas em virtude do novo governo que foi democraticamente eleito. Todos os brasileiros merecem dias melhores. Somos um povo trabalhador. Nossas projeções para 2019 são realistas. Será um ano ainda difícil, mas que reverte a tendência ruim que estávamos inseridos. Lentamente, a economia deve retomar crescimento. Há um ambiente otimista para investimentos. Especificamente no setor, vamos em busca de ampliar mercados, retomar o espaço perdido na Europa e, teremos um cenário de grãos mais adequado. Fatores que colaboram com a reversão da crise. Enfim, o País precisa se unir novamente para uma agenda de desenvolvimento.
O que o setor espera do Governo de Jair Bolsonaro?
Como todos os brasileiros, antes de quaisquer expectativa mais elaborada, queremos seriedade e honestidade. O País precisa destravar agendas que permitirão crescimento e mais emprego. A reforma da Previdência, a continuidade da simplificação das relações trabalhistas, reforma política e tributária, enfim, um Estado enxuto e eficiente. Não são temas fáceis ou rápidos, mas precisamos começar a jornada de modernização do Estado e das relações de trabalho. Para distribuir riqueza, há um requisito obrigatório, gerar riqueza. O agronegócio é gerador de riqueza. O empresário brasileiro merece respeito e apoio. Com esta mentalidade iremos recolocar o País numa agenda positiva de desenvolvimento econômico e social. As políticas agrícolas para grãos e para financiamento da modernização tecnológica da cadeia produtiva são temas relevantes. Há muitos estudos e temos que implementar alternativas para os custos logísticos de movimentação dos grãos.
Qual deve ser a relação com o novo Ministério da Agricultura?
A nova Ministra da Agricultura terá todo o apoio do setor. Os desafios já citados aqui são grandes, mas juntos será mais fácil de vencer. Acreditar no Brasil é cada um fazer sua parte. Menos discurso e mais ações. Menos interesses políticos individuais ou partidários e mais coletividade. Precisamos crescer, e não há outro caminho que não seja com trabalho. Se deixarmos a iniciativa privada trabalhar e não criarmos tantos obstáculos, o resultado será um país melhor. Quero enfatizar a necessidade de investimentos na segurança sanitária em nossas cadeias produtivas, com ações de controle de fronteiras, ampliação da capacidade de diagnóstico para capacitar reações rápidas e eficientes, e qualificação das ações contingenciais para crises.

Notícias
Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



