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Aspectos clínicos da Franciselose e estratégias de controle

Queda na temperatura da água é o principal fator de risco para ocorrência da doença nas fazendas de criação.

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A Franciselose, também conhecida como granulomatose visceral bacteriana, é uma doença causada pela bactéria Gram-negativa, intracelular facultativa, denominada Francisella orientalis. Este agente tem se consolidado como um patógeno de importância para a criação de tilápias em todo o Brasil, emergindo no início da última década na tilapicultura brasileira. Desde então, a franciselose têm ganhado território e causado problemas sanitários em todos os sistemas de criação, tais como tanques-redes, viveiros escavados, bem como em sistemas de tanques elevados.

Atualmente a doença é endêmica nos principais polos de criação de tilápia no Brasil, causando uma doença sazonal na bacia do rio São Francisco, ocorrendo em vários Estados do Nordeste brasileiro, bem como no Centro-Sul do Brasil, onde particularmente encontra condições de causar maiores perdas, uma vez que as condições climáticas favorecem a manutenção da doença por um longo período do ano.

Queda na temperatura da água é o principal fator de risco para ocorrência da franciselose nas fazendas de criação. Dessa forma, a doença ganha maior importância nos períodos de final do outono, inverno e início da primavera, caracterizando-se como uma enfermidade sazonal. Geralmente, a franciselose inicial sua manifestação com temperatura da água abaixo de 25ºC, mas em algumas regiões do Brasil temos observado casos severos com temperaturas em entre 25 a 27ºC em períodos específicos do ano, especialmente durante o início da primavera.

Outros fatores de risco podem atuar sobre o aumento da suscetibilidade dos peixes frente ao desafio a este patógeno, com atenção especial à densidade de estocagem, além de parâmetros físico-químicos da água, especialmente sobre a alcalinidade em viveiros escavados. Empiricamente, observarmos que durante períodos de alto risco para ocorrência da franciselose, viveiros escavados com baixa alcalinidade aparentemente apresentam a doença de forma mais agressiva, acumulando maiores perdas relacionadas à doença.

Grupo de risco

Tradicionalmente, a franciselose era uma doença que acometia formas jovens de tilápia como principal grupo de risco para a doença, impactando especialmente as fases de criação dos alevinos e juvenis. No entanto, ao passar dos anos temos observado que esta bactéria cada vez mais tem infectado peixes maiores, podendo causar surtos de mortalidade importantes em animais entre 200-400 g de peso vivo, os quais os custos de tratamento por meio de uso de medicamentos antibióticos acabam impactando muito sobre o custo de produção da tilápia. Especialmente na temporada de quedas de temperatura do ano de 2021, observamos que o peso dos peixes diagnosticados com franciselose aumentou drasticamente em relação aos últimos anos (Figura 1), o que possivelmente nos indica a capacidade de adaptação desta bactéria em animais em fase de terminação do ciclo de cultivo.

Figura 1. Peso (g) de tilápias diagnosticadas com Francisella orientalis entre os anos de 2019 a 2021. Dados registrados pelo histórico de diagnóstico do Laboratório AQUAVET/UFMG

Patogenia

A Francisella orientalis é uma bactéria intracelular facultativa, a qual possui a habilidade de viver dentro células de defesa que compõem o sistema imune dos animais, especialmente dentro de macrófagos, sendo a principal linhagem de célula responsável pela fagocitose e eliminação de diferentes patógenos. Uma vez infectando os macrófagos, a Francisella utiliza diferentes estratégias que impedem sua eliminação pela imunidade celular, conseguindo driblar os mecanismos de defesa da tilápia. Somado a este processo, a infecção induz intensa reação inflamatória mediada pela migração de macrófagos nos órgãos-alvos, sendo baço e rins os mais afetados pela doença, dando início à formação de múltiplos granulomas nestes órgãos que podem ser observados a olho nu em estágios avançados da doença (Figura 2).

Figura 2. Lesões granulomatosas observadas em tilápia do Nilo com franciselose. (a) Baço exibindo múltiplos granulomas (seta), além de aumento de tamanho do órgão (esplenomegalia). (b) Rim caudal exibindo múltiplos granulomas.

Curiosamente, as doenças granulomatoses geralmente são processos patológicos crônicos, com curso da doença demorada na maioria dos animais, podendo levar meses de evolução clínica. No entanto, no caso das doenças granulomatosas em tilápia essa realidade é um tanto diferente, já que após a exposição dos animais suscetíveis à bactéria, os granulomas podem ser notados microscopicamente a partir de 7 dias pós infecção. Da mesma forma, o início dos sinais clínicos e ocorrência de mortalidade associada a esta doença, bem como observação de granulomas a olho nu, se iniciam entre 14 a 21 dias pós infecção em situação de campo.

Com o avanço da doença no animal infectado, especialmente associado à manutenção dos fatores de risco para a doença, a franciselose pode avançar e causar granulomatose visceral em vários outros órgãos, tais como brânquias (Figura 3a), fígado (Figura 3b), intestinos, coração, cérebro, olhos, além de miosite granulomatose bacteriana, que por sua vez trata-se da infecção ocasionada na musculatura dos peixes, causando inúmeros pequenos pontos pretos no filé dos animais infectados, com dimensões em torno de 1 mm. Estas lesões pretas no filé estão relacionadas à presença de granulomas contendo melanomacrófagos no entorno do foco inflamatório, que por sua vez possuem o pigmento melanina, caracterizando-se como uma das causas de descarte de filés em frigoríficos.

Figura 3. Lesões granulomatosas observadas em tilápia do Nilo com franciselose. (a) Granulomatose branquial (seta), onde pode notar inúmeros pontos brancos (granulomas) nos filamentos branquiais. (b) Granulomatose hepática (seta), onde pode-se notar vários pontos brancos indicativo de granulomas no fígado de uma tilápia doente.

Impacto sobre o desempenho dos animais

Um dos principais impactos notáveis quando a franciselose adentra uma fazenda de criação, é a queda de desempenho zootécnico. Tradicionalmente, quando o período de quedas de temperatura da água se inicia, naturalmente as tilápias diminuem seu apetite, bem como reduzem sua taxa de crescimento e pioram a conversão alimentar. No entanto, esta condição tende a piorar intensamente com a ocorrência da franciselose neste período, na qual os animais podem parar totalmente de se alimentar e os índices zootécnicos pioram drasticamente, impactando diretamente os custos de produção, aumentando o ciclo de cultivo, além de dificultar o uso adequado de rações medicadas devido ao impacto sobre o apetite dos peixes.

A queda de desempenho zootécnico nos peixes pode passar desapercebida para alguns produtores, uma vez que naturalmente os peixes diminuem seu crescimento durante períodos de queda na temperatura da água. No entanto, para os tilapicultores mais experientes, o atraso no crescimento dos animais e piora na taxa de conversão alimentar é notória com a ocorrência concomitante de frio e Francisella orientalis.

Diagnóstico da Franciselose

O diagnóstico clínico presuntivo para Franciselose é facilmente realizado a campo, a partir da visualização dos principais sinais clínicos, tais como queda acentuada no apetite durante períodos de inverno, associada à redução no crescimento dos animais e, principalmente, pela visualização de granulomas nos órgãos dos peixes moribundos, especialmente do grupo de risco (alevinos e juvenis). No entanto, a confirmação da suspeita clínica de campo é realizada a partir de exames laboratoriais, utilizando técnicas específicas para isolamento e identificação de Francisella orientalis, ou ainda a partir da combinação de ferramentas moleculares por meio detecção do DNA bacteriano como a reação por PCR, sendo estes os principais métodos utilizados para diagnóstico definitivo da doença.

Por outro lado, nos últimos anos uma outra doença tem emergido no Brasil e tem sido facilmente confundida com a franciselose, sendo a Edwardsielose, causada pela bactéria Gram-negativa Edwardsiella tarda. Esta doença também possui a capacidade de causar doença granulomatosa em formas jovens de tilápia, não sendo possível diferenciar as duas enfermidades baseando-se simplesmente pelo histórico clínico e sinais clínicos a campo. Portanto, a obtenção do diagnóstico definitivo por meio de uma completa análise laboratorial torna-se imprescindível para correta designação de causa da doença granulomatosa em tilápia.

Tratamento da doença

Uma vez que a doença se estabeleceu na fazenda de criação, sua ocorrência será anual, sendo dificilmente erradicada. Desta forma, os produtores precisam estabelecer uma rotina de monitoramento frequente da ocorrência de franciselose, baseado nas análises clínicas com visualização dos granulomas em animais do grupo de risco durante os períodos de queda na temperatura da água, aliado com a confirmação do diagnóstico em laboratório. A partir disso, a única forma mais efetiva para controle da doença ativa em um lote de peixes doentes é a partir do uso de rações medicadas com antibióticos, sendo que o diagnóstico precoce é a chave do sucesso para alcançar uma boa resposta no tratamento da franciselose.

O uso de medicamentos antibióticos para tratamento da franciselose enfrenta um importante problema no Brasil, pela falta de moléculas com indicação de bula para tratamento especificamente de casos de Francisella orientalis. Desta forma, o uso de qualquer molécula se torna off label, ou seja, sem a devida indicação de bula pelo fabricante do produto. Essa situação é válida inclusive para antibióticos com registro de uso para aquicultura no Brasil, os quais constam indicação contra Streptococcus  spp. e Aeromonas spp., além disso, é sabido que as dosagens de antibiótico necessárias para controle da franciselose são maiores em relação àquelas indicadas para estreptococoses e aeromonioses.

Vacinação

Atualmente a melhor estratégia para prevenção das doenças infecciosas em qualquer atividade de produção animal, bem como para saúde humana, é a partir do uso de vacinas. No Brasil ainda não estão disponíveis vacinas licenciadas contra a franciselose, no entanto, o uso de vacinas customizadas, também denominadas como vacinas autógenas, tem ganhado um importante espaço neste mercado, sendo a melhor alternativa para controle da doença pelos tilapicultores.

Para produção de uma vacina autógena contra franciselose, necessariamente os técnicos de campo e ou produtores precisam contactar uma indústria veterinária habilidade pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para produção e comercialização de vacinas autógenas. A partir desta etapa, um médico veterinário de campo irá realizar a coleta de peixes doentes na propriedade alvo, onde esteja ocorrendo os casos clínicos da doença e enviar as amostras clínicas para um laboratório especializado em diagnóstico de peixes. Com a obtenção do isolado de campo da Francisella orientalis, é feita uma prescrição do uso de vacina autógena contra este patógeno e solicitada autorização de produção da vacina para o Mapa.

Após a obtenção da aprovação de produção da vacina autógena pelo ministério, que ocorre em até 48 h após a realização do pedido, a indústria veterinária habilitada recebe o isolado de campo e prepara a produção de “sementes” para produção da vacina utilizando a bactéria isolada dos peixes doentes. Desta forma, proporcionamos alta especificidade antigênica necessária para o controle da doença, com uso de cepas bacterianas que ocorrem a campo, obtendo máxima proteção para o plantel vacinado com um produto customizado. Além disso, outro grande benefício das vacinas autógenas é a agilidade em entregar soluções contra doenças emergentes, como o caso da franciselose, que ainda não possuem vacinas licenciadas no mercado, proporcionando uma solução efetiva para redução no uso de antibióticos para tratamento da doença, além de promover mais saúde e bem estar animal durante o ciclo de produção protegido contra os patógenos.

Mais informações sobre o setor pesqueiro você pode conferir na edição digital sobre Aquicultura.

Fonte: Por Santiago Benites de Pádua, médico-veterinário e gerente de Produtos Aqua Vaxxinova

Suínos

Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura

Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

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Foto: Divulgação/Swine Day

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.

O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.

As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.

Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.

Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.

Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.

Fonte: O Presente Rural
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Suínos

Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças

Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

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Foto: Shutterstock

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.

Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.

No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.

Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.

Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos

Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde

Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

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Foto: Jonathan Campos

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.

Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock

Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.

Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.

O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.

Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.

Fonte: O Presente Rural com informações Itaú BBA Agro
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