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Aspectos clínicos da Franciselose e estratégias de controle

Queda na temperatura da água é o principal fator de risco para ocorrência da doença nas fazendas de criação.

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A Franciselose, também conhecida como granulomatose visceral bacteriana, é uma doença causada pela bactéria Gram-negativa, intracelular facultativa, denominada Francisella orientalis. Este agente tem se consolidado como um patógeno de importância para a criação de tilápias em todo o Brasil, emergindo no início da última década na tilapicultura brasileira. Desde então, a franciselose têm ganhado território e causado problemas sanitários em todos os sistemas de criação, tais como tanques-redes, viveiros escavados, bem como em sistemas de tanques elevados.

Atualmente a doença é endêmica nos principais polos de criação de tilápia no Brasil, causando uma doença sazonal na bacia do rio São Francisco, ocorrendo em vários Estados do Nordeste brasileiro, bem como no Centro-Sul do Brasil, onde particularmente encontra condições de causar maiores perdas, uma vez que as condições climáticas favorecem a manutenção da doença por um longo período do ano.

Queda na temperatura da água é o principal fator de risco para ocorrência da franciselose nas fazendas de criação. Dessa forma, a doença ganha maior importância nos períodos de final do outono, inverno e início da primavera, caracterizando-se como uma enfermidade sazonal. Geralmente, a franciselose inicial sua manifestação com temperatura da água abaixo de 25ºC, mas em algumas regiões do Brasil temos observado casos severos com temperaturas em entre 25 a 27ºC em períodos específicos do ano, especialmente durante o início da primavera.

Outros fatores de risco podem atuar sobre o aumento da suscetibilidade dos peixes frente ao desafio a este patógeno, com atenção especial à densidade de estocagem, além de parâmetros físico-químicos da água, especialmente sobre a alcalinidade em viveiros escavados. Empiricamente, observarmos que durante períodos de alto risco para ocorrência da franciselose, viveiros escavados com baixa alcalinidade aparentemente apresentam a doença de forma mais agressiva, acumulando maiores perdas relacionadas à doença.

Grupo de risco

Tradicionalmente, a franciselose era uma doença que acometia formas jovens de tilápia como principal grupo de risco para a doença, impactando especialmente as fases de criação dos alevinos e juvenis. No entanto, ao passar dos anos temos observado que esta bactéria cada vez mais tem infectado peixes maiores, podendo causar surtos de mortalidade importantes em animais entre 200-400 g de peso vivo, os quais os custos de tratamento por meio de uso de medicamentos antibióticos acabam impactando muito sobre o custo de produção da tilápia. Especialmente na temporada de quedas de temperatura do ano de 2021, observamos que o peso dos peixes diagnosticados com franciselose aumentou drasticamente em relação aos últimos anos (Figura 1), o que possivelmente nos indica a capacidade de adaptação desta bactéria em animais em fase de terminação do ciclo de cultivo.

Figura 1. Peso (g) de tilápias diagnosticadas com Francisella orientalis entre os anos de 2019 a 2021. Dados registrados pelo histórico de diagnóstico do Laboratório AQUAVET/UFMG

Patogenia

A Francisella orientalis é uma bactéria intracelular facultativa, a qual possui a habilidade de viver dentro células de defesa que compõem o sistema imune dos animais, especialmente dentro de macrófagos, sendo a principal linhagem de célula responsável pela fagocitose e eliminação de diferentes patógenos. Uma vez infectando os macrófagos, a Francisella utiliza diferentes estratégias que impedem sua eliminação pela imunidade celular, conseguindo driblar os mecanismos de defesa da tilápia. Somado a este processo, a infecção induz intensa reação inflamatória mediada pela migração de macrófagos nos órgãos-alvos, sendo baço e rins os mais afetados pela doença, dando início à formação de múltiplos granulomas nestes órgãos que podem ser observados a olho nu em estágios avançados da doença (Figura 2).

Figura 2. Lesões granulomatosas observadas em tilápia do Nilo com franciselose. (a) Baço exibindo múltiplos granulomas (seta), além de aumento de tamanho do órgão (esplenomegalia). (b) Rim caudal exibindo múltiplos granulomas.

Curiosamente, as doenças granulomatoses geralmente são processos patológicos crônicos, com curso da doença demorada na maioria dos animais, podendo levar meses de evolução clínica. No entanto, no caso das doenças granulomatosas em tilápia essa realidade é um tanto diferente, já que após a exposição dos animais suscetíveis à bactéria, os granulomas podem ser notados microscopicamente a partir de 7 dias pós infecção. Da mesma forma, o início dos sinais clínicos e ocorrência de mortalidade associada a esta doença, bem como observação de granulomas a olho nu, se iniciam entre 14 a 21 dias pós infecção em situação de campo.

Com o avanço da doença no animal infectado, especialmente associado à manutenção dos fatores de risco para a doença, a franciselose pode avançar e causar granulomatose visceral em vários outros órgãos, tais como brânquias (Figura 3a), fígado (Figura 3b), intestinos, coração, cérebro, olhos, além de miosite granulomatose bacteriana, que por sua vez trata-se da infecção ocasionada na musculatura dos peixes, causando inúmeros pequenos pontos pretos no filé dos animais infectados, com dimensões em torno de 1 mm. Estas lesões pretas no filé estão relacionadas à presença de granulomas contendo melanomacrófagos no entorno do foco inflamatório, que por sua vez possuem o pigmento melanina, caracterizando-se como uma das causas de descarte de filés em frigoríficos.

Figura 3. Lesões granulomatosas observadas em tilápia do Nilo com franciselose. (a) Granulomatose branquial (seta), onde pode notar inúmeros pontos brancos (granulomas) nos filamentos branquiais. (b) Granulomatose hepática (seta), onde pode-se notar vários pontos brancos indicativo de granulomas no fígado de uma tilápia doente.

Impacto sobre o desempenho dos animais

Um dos principais impactos notáveis quando a franciselose adentra uma fazenda de criação, é a queda de desempenho zootécnico. Tradicionalmente, quando o período de quedas de temperatura da água se inicia, naturalmente as tilápias diminuem seu apetite, bem como reduzem sua taxa de crescimento e pioram a conversão alimentar. No entanto, esta condição tende a piorar intensamente com a ocorrência da franciselose neste período, na qual os animais podem parar totalmente de se alimentar e os índices zootécnicos pioram drasticamente, impactando diretamente os custos de produção, aumentando o ciclo de cultivo, além de dificultar o uso adequado de rações medicadas devido ao impacto sobre o apetite dos peixes.

A queda de desempenho zootécnico nos peixes pode passar desapercebida para alguns produtores, uma vez que naturalmente os peixes diminuem seu crescimento durante períodos de queda na temperatura da água. No entanto, para os tilapicultores mais experientes, o atraso no crescimento dos animais e piora na taxa de conversão alimentar é notória com a ocorrência concomitante de frio e Francisella orientalis.

Diagnóstico da Franciselose

O diagnóstico clínico presuntivo para Franciselose é facilmente realizado a campo, a partir da visualização dos principais sinais clínicos, tais como queda acentuada no apetite durante períodos de inverno, associada à redução no crescimento dos animais e, principalmente, pela visualização de granulomas nos órgãos dos peixes moribundos, especialmente do grupo de risco (alevinos e juvenis). No entanto, a confirmação da suspeita clínica de campo é realizada a partir de exames laboratoriais, utilizando técnicas específicas para isolamento e identificação de Francisella orientalis, ou ainda a partir da combinação de ferramentas moleculares por meio detecção do DNA bacteriano como a reação por PCR, sendo estes os principais métodos utilizados para diagnóstico definitivo da doença.

Por outro lado, nos últimos anos uma outra doença tem emergido no Brasil e tem sido facilmente confundida com a franciselose, sendo a Edwardsielose, causada pela bactéria Gram-negativa Edwardsiella tarda. Esta doença também possui a capacidade de causar doença granulomatosa em formas jovens de tilápia, não sendo possível diferenciar as duas enfermidades baseando-se simplesmente pelo histórico clínico e sinais clínicos a campo. Portanto, a obtenção do diagnóstico definitivo por meio de uma completa análise laboratorial torna-se imprescindível para correta designação de causa da doença granulomatosa em tilápia.

Tratamento da doença

Uma vez que a doença se estabeleceu na fazenda de criação, sua ocorrência será anual, sendo dificilmente erradicada. Desta forma, os produtores precisam estabelecer uma rotina de monitoramento frequente da ocorrência de franciselose, baseado nas análises clínicas com visualização dos granulomas em animais do grupo de risco durante os períodos de queda na temperatura da água, aliado com a confirmação do diagnóstico em laboratório. A partir disso, a única forma mais efetiva para controle da doença ativa em um lote de peixes doentes é a partir do uso de rações medicadas com antibióticos, sendo que o diagnóstico precoce é a chave do sucesso para alcançar uma boa resposta no tratamento da franciselose.

O uso de medicamentos antibióticos para tratamento da franciselose enfrenta um importante problema no Brasil, pela falta de moléculas com indicação de bula para tratamento especificamente de casos de Francisella orientalis. Desta forma, o uso de qualquer molécula se torna off label, ou seja, sem a devida indicação de bula pelo fabricante do produto. Essa situação é válida inclusive para antibióticos com registro de uso para aquicultura no Brasil, os quais constam indicação contra Streptococcus  spp. e Aeromonas spp., além disso, é sabido que as dosagens de antibiótico necessárias para controle da franciselose são maiores em relação àquelas indicadas para estreptococoses e aeromonioses.

Vacinação

Atualmente a melhor estratégia para prevenção das doenças infecciosas em qualquer atividade de produção animal, bem como para saúde humana, é a partir do uso de vacinas. No Brasil ainda não estão disponíveis vacinas licenciadas contra a franciselose, no entanto, o uso de vacinas customizadas, também denominadas como vacinas autógenas, tem ganhado um importante espaço neste mercado, sendo a melhor alternativa para controle da doença pelos tilapicultores.

Para produção de uma vacina autógena contra franciselose, necessariamente os técnicos de campo e ou produtores precisam contactar uma indústria veterinária habilidade pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) para produção e comercialização de vacinas autógenas. A partir desta etapa, um médico veterinário de campo irá realizar a coleta de peixes doentes na propriedade alvo, onde esteja ocorrendo os casos clínicos da doença e enviar as amostras clínicas para um laboratório especializado em diagnóstico de peixes. Com a obtenção do isolado de campo da Francisella orientalis, é feita uma prescrição do uso de vacina autógena contra este patógeno e solicitada autorização de produção da vacina para o Mapa.

Após a obtenção da aprovação de produção da vacina autógena pelo ministério, que ocorre em até 48 h após a realização do pedido, a indústria veterinária habilitada recebe o isolado de campo e prepara a produção de “sementes” para produção da vacina utilizando a bactéria isolada dos peixes doentes. Desta forma, proporcionamos alta especificidade antigênica necessária para o controle da doença, com uso de cepas bacterianas que ocorrem a campo, obtendo máxima proteção para o plantel vacinado com um produto customizado. Além disso, outro grande benefício das vacinas autógenas é a agilidade em entregar soluções contra doenças emergentes, como o caso da franciselose, que ainda não possuem vacinas licenciadas no mercado, proporcionando uma solução efetiva para redução no uso de antibióticos para tratamento da doença, além de promover mais saúde e bem estar animal durante o ciclo de produção protegido contra os patógenos.

Mais informações sobre o setor pesqueiro você pode conferir na edição digital sobre Aquicultura.

Fonte: Por Santiago Benites de Pádua, médico-veterinário e gerente de Produtos Aqua Vaxxinova

Suínos

Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade

Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.

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Fotos: Divulgação/Agroceres Multimix

Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix

Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.

Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR

Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.

As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.

A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.

Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.

De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.

O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.

Diagnóstico

Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.

A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:

  • Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
  • Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
  • Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
  • Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.

A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.

Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.

A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.

A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.

A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.

Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.

As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.

O acesso é gratuito e a edição Suínos pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural com Lucas Avelino Rezende
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Suínos

Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade

Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.

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Foto: Shutterstock

Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.

Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis ​​esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.

Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.

Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.

O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.

Comunicação e conscientização

Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.

O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.

Compromisso do setor

Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,

Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.

A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.

O acesso é gratuito e a edição Suínos pode ser lida na íntegra on-line clicando aqui. Tenha uma boa leitura!

Fonte: O Presente Rural
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Suínos

Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela

Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.

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Foto: Divulgação/Sistema Faep

Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.

Fotos: Divulgação/Arquivo OPR

O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.

Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.

“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.

Exportações

Foto: Claudio Neves

Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.

Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.

Perspectivas

Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.

Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.

Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.

Segurança do trabalho

Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.

Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.

Fonte: Assessoria Sistema Faep
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