Colunistas Dependência nacional externa
Após um mês de conflito no Leste europeu, setor de fertilizantes segue apreensivo
Segundo a Anda, o consumo brasileiro de fertilizantes somou 45,85 milhões de toneladas em 2021, sendo que 85% desses fertilizantes foram importados. As culturas de soja, milho e cana-de-açúcar são as três principais demandantes – juntas, responderam por 73% do consumo anual.

O mercado mundial de fertilizantes, que já enfrentava consecutivos e fortes aumentos nos preços ao longo de 2021, ficou ainda mais apreensivo ao longo do último mês, tendo em vista o conflito no leste europeu, região que é uma das maiores fornecedoras globais de fertilizantes e de gás natural.
Conforme dados da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), o Brasil é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo. A taxa de crescimento de consumo deste insumo foi de 4,3% a.a. nos últimos 20 anos, contra taxa mundial de 4,8% a.a. Dentre os fertilizantes intermediários, o Brasil é o segundo maior consumidor de potássico do mundo, ficando atrás somente da China. O Brasil também é o terceiro maior consumidor de fertilizante fosfatado (P2O5) e o quarto maior de nitrogenado.
Em 2021, segundo a Anda, o consumo brasileiro de fertilizantes somou 45,85 milhões de toneladas, sendo que 85% desses fertilizantes foram importados. As culturas de soja, milho e cana-de-açúcar são as três principais demandantes – juntas, responderam por 73% do consumo anual.
Dentre os principais fertilizantes importados está o cloreto de potássio – 96% do volume desse produto consumido no Brasil é importado. Por sua vez, apenas quatro países são responsáveis por quase 80% da produção mundial: Canadá (32%), Belarus (18%), Rússia (18%) e China 12%. Em 2021, o Brasil importou cerca de 12,8 milhões de toneladas de cloreto de potássio, sendo que 32,6% vieram do Canadá, 28,2%, da Rússia e 18,7%, de Belarus.
Dependência
A dependência nacional de fertilizantes estrangeiro ficou ainda mais evidente em 2021, quando a União Europeia (UE) impôs sanção econômica sobre Belarus e impediu a exportação do fertilizante potássico por meio dos países membros da UE. Mais recentemente, com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, a UE impôs sanção econômica ao país russo, o que deve limitar ainda mais a oferta desse fertilizante para o mundo. Em março do ano passado, dados indicam que o KCl era negociado no Porto de Vancouver/Canadá, em média, a US$ 248/tonelada; esse valor foi triplicado para US$ 815/t em março de 2022.
Quanto ao nitrogenado, conforme a Anda, a Rússia é o segundo maior produtor do mundo (10%), ficando atrás da China (29%). Dentre os nitrogenados importados pelo Brasil, a ureia responde por mais 72% do teor de nutriente N, e a Rússia é a segunda principal fornecedora dessa matéria-prima, correspondendo por 17% de toda a ureia importada nos últimos cinco anos (2017-2021).
No caso no nitrato de amônio, o impacto é ainda mais intenso, pois quase todo o fertilizante (98%) importado pelo Brasil vem da Rússia. Para o fertilizante fosfatado, os maiores produtores mundiais de pentóxido de fosforo (P2O5) são a China (39%), Marrocos, Estados Unidos e Rússia. Dentre os fertilizantes importados, cerca de 74% do P2O5 são representados pelo MAP, e a Rússia foi o segundo maior fornecedor do fertilizante, responsável por cerca de 21% do fosfato importado nos últimos cinco anos.
Preços
Os preços internacionais dos nitrogenados estão em disparada desde outubro. Em um ano, (de março/2021 para março/2022), a tonelada da ureia prill comercializada no porto de Yuznhy (Ucrânia) se valorizou 110%. No mesmo período, o valor médio da tonelada do nitrato de amônio dobrou no porto russo de São Petersburgo. Quanto ao fertilizante fosfatado, os preços médios do MAP (fosfatado monoamônico) negociado nos portos de Casa Blanca (Marrocos) e de São Petersburgo subiram respectivos 92% e 88%.
Minas de potássios
Todo esse contexto suscita o questionamento da excessiva dependência da produção agrícola por fertilizantes importados. Sobre essa questão aponta-se a existência de minas de potássios em solo nacional. Além das minas de potássio exploradas em Sergipe, estudo realizado pelo Ministério de Minas e Energia identificou minas de potássio no Centro-Oeste do Amazonas, estimando que esta região teria uma reserva de 3,2 bilhões de toneladas do minério. A exploração econômica dessas minas, contudo, esbarra em processos judiciais.
Saída do mercado de fertilizantes
No caso da redução nacional da oferta de nitrogenado, esta se deveu, conforme o artigo da Forbes, a uma decisão estratégica da Petrobras de vender ativos visando à diminuição de endividamento, saindo do mercado de fertilizantes a partir de 2017 – fábricas de Camaçari (BA) e de Laranjeiras (SE) foram fechadas em março de 2018. No ano seguinte, duas unidades nesses locais foram arrendadas para a Unigel.
A fábrica de nitrogenado em Araucária (PR), foi colocada em hibernação em 2020 pela Petrobras, por ter operação deficitária, pois a matéria-prima utilizada (resíduos asfálticos) estava mais cara que os produtos finais (ureia e amônia). Já a UFN3 (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados 30), em Três Lagoas (MS), teve as atividades paralisadas em 2018, após a decisão anterior da Petrobras de sair do segmento de fertilizantes.
Recentemente, segundo o governo do Estado de Mato Grosso do Sul, o grupo russo Acron demonstrou interesse em comprar a unidade. A saída da estatal resultou em uma forte diminuição na oferta do nitrogenado nacional. Vale ressaltar que o seu projeto da UFN4 (Linhares – ES) nem saiu do papel e a UFN5 (Uberaba – MG), que deveria ser concluída em 2014, teve seu projeto interrompido em 2015.
A UFN5 seria uma importante unidade para a produção de amônia, que é matéria-prima para a produção do MAP (mono-amonio fosfato). O grande gargalo para tornar essas unidades de fertilizantes nitrogenados competitivas é o valor do gás natural.
Segurança alimentar x dependência de fertilizantes
O fato é que o Brasil se tornou um grande produtor de alimentos para o mundo e também é classificado como um dos grandes atores para a segurança alimentar global. Porém, a produção agrícola cresceu dependente dos fertilizantes importados nesses últimos 20 anos.
O conflito entre Rússia e Ucrânia expôs claramente a vulnerabilidade do nosso sistema produtivo no que toca fertilizantes. Trata-se de uma questão mais ampla, que se agravou com a queda da confiabilidade de se ter no mercado externo importante fonte de suprimentos em geral – no caso, fertilizantes em especial. De imediato rearranjos no padrão de trocas comerciais se fazem necessários.
A produção nacional de fertilizantes é questão estratégica e precisa ser avaliada com presteza, tendo em vista a definição de como ela será implementada. Complexidades de natureza político-institucional e socioambientais precisam ser tratadas tendo em conta os interesses nacionais numa gama de questões inter-relacionadas.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
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Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



