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ANCP lança tecnologia inédita para melhorar a genética do gado de corte
Inovação chega aos programas da entidade em 2026 e promete elevar a precisão das avaliações, revolucionando seleção e acasalamentos na pecuária de corte.

A Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) anuncia uma inovação que marca um novo capítulo no melhoramento genético brasileiro: a implementação da variabilidade gamética nas avaliações genéticas de gado de corte. A tecnologia será incorporada aos programas da ANCP em 2026 em uma série de etapas, posicionando a instituição como pioneira no cenário global.
Segundo Cristiano Botelho, CEO da ANCP, “A ANCP tem a inovação no seu DNA. Após anos lançando novas características e ferramentas, buscamos algo realmente disruptivo. Fomos apresentados a essa tecnologia, já utilizada em países como os Estados Unidos, e decidimos trazer em primeira mão para os nossos Associados.”
A variabilidade gamética permite prever a dispersão genética dos gametas antes da reprodução, oferecendo aos criadores uma ferramenta inédita para refinar estratégias de seleção e acasalamento.

Foto: Divulgação/Arquivo OPR
O responsável por desenvolver esta tecnologia foi o Dr. Daniel Jordan de Abreu Santos, é pesquisador de pós-doutorado com passagem por universidades de prestígio como Maryland (EUA) e New England (Austrália), que em parceria com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, desenvolveu a tecnologia de segregação gamética para a raça holandesa – considerada uma das mais avançadas do mundo em genética.
“A ANCP é uma das principais instituições de avaliação genética de gado de corte no Brasil, pioneira na utilização de DEP e tecnologia genômica. É uma plataforma ideal para aplicar e validar essa tecnologia na realidade brasileira. Eles já têm mais de 500 mil animais genotipados e um pipeline robusto, o que facilita a implementação.”, destaca o pesquisador.
Dr. Daniel Jordan, explica que, com essa tecnologia, é possível olhar para o valor médio transmitido aos descendentes e também para a variabilidade. Isso aumenta a precisão, ajuda a padronizar características sensíveis e pode possibilitar ganhos expressivos em produtividade.
Para Fábio Gomes, coordenador de Pesquisa e Inovação da ANCP, “É a primeira vez que essa abordagem será aplicada no Brasil. Ela amplia a capacidade de escolha dos melhores reprodutores e matrizes, considerando não só homogeneidade, mas também extremos desejáveis para características econômicas.”
A informação sobre a avaliação gamética estará disponível na avaliação genética para todos os animais genotipados dos Criadores Associados e a ANCP irá disponibilizar ainda, um módulo opcional para acasalamentos dirigidos no Programa ANCP PAG em 2026. “Essa inovação vai beneficiar diretamente nossos associados, garantindo mais eficiência e competitividade para a pecuária brasileira”, completa Fábio.

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Brasil e Índia fecham acordo para levar tecnologias da Embrapa à pecuária leiteira
Parceria une empresas dos dois países para desenvolver soluções avançadas em genética e reprodução animal.

A Embrapa assinou na segunda-feira (08) o Memorando de Entendimento (MOU) de cooperação científica e tecnológica com um consórcio de cinco empresas privadas, sendo três indianas e duas brasileiras. O acordo, com validade de 10 anos, tem como foco principal a transferência e a validação de tecnologias genômicas da Embrapa para a pecuária leiteira daquele país.
Pela Índia, participam a Leads Agri Genetics Private Limited (focada em genética animal e tecnologias de laticínios, incluindo seleção genômica e fertilização in vitro); a LeadsConnect Services Private Ltd (pioneira em Analytics com foco em AgriTech, agricultura inteligente para o clima e análise de dados) e a B.L. Kamdhenu Farms Limited (entidade dedicada a promover a pecuária leiteira na Índia e desenvolver um ecossistema sustentável para raças nativas). Pelo Brasil, assinam o MOU a Fazenda Floresta (especializada na produção de embriões in vitro e operações leiteiras de alto desempenho) e DNAMARK (laboratório focado em melhoramento genético e genômica aplicada).
O embaixador da Índia no Brasil, Dinesh Bhatia, destaca que esta é a primeira vez que um acordo de cooperação técnico-científica é firmado entre empresas brasileiras e indianas na área de melhoramento genético de ponta, envolvendo técnicas modernas de reprodução animal. Ele ressalta ainda que a iniciativa é um desdobramento do Memorando de Entendimento assinado entre a Embrapa e o Conselho Indiano de Pesquisa Agrícola (ICAR), em julho deste ano, com o objetivo de ampliar a cooperação em pesquisa agropecuária.
A presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, lembra que a parceria entre Brasil e Índia na área de pesquisa agropecuária é antiga, especialmente no campo do melhoramento genético bovino. Segundo ela, nas últimas décadas, técnicas modernas como genômica, biotecnologia, edição gênica e bioinformática passaram a integrar esse trabalho, trazendo novos desafios às pesquisas e ampliando as oportunidades de compartilhar avanços voltados ao aumento da produtividade de leite nos dois países. Para Massruhá, a cooperação com instituições indianas reforça a posição da Empresa como referência global em agropecuária tropical e abre uma frente científica ainda mais abrangente. “Embora o foco inicial seja a pecuária, o escopo de cooperação definido é bastante amplo”, acrescenta.
Segundo o pesquisador Marcos Vinícius G. B. Silva, da Embrapa Gado de Leite (MG), essa iniciativa inédita permitirá transferir, adaptar e validar o portfólio de tecnologias genômicas da Embrapa em um dos maiores mercados de laticínios do mundo, com foco inicial nas raças zebuínas. “A parceria oferece uma via de mão dupla. A Embrapa contribui com sua expertise em genômica, bioinformática, melhoramento genético e biotecnologias reprodutivas; em contrapartida, terá acesso aos bancos de dados genômicos e fenotípicos de raças indianas”, destaca. Segundo ele, esse acesso é vital para aprimorar os modelos de predição genômica da Embrapa e irá acelerar o ganho genético do rebanho indiano.
As instituições se comprometem a estabelecer projetos conjuntos em ciência e tecnologia nas áreas de recursos naturais e mudanças climáticas (adaptação e resiliência dos sistemas produtivos); biotecnologia, microbiomas, nanotecnologia e geotecnologia; bioeconomia e bioprodutos; tecnologia agroindustrial; automação e agricultura digital: incluindo inteligência artificial e tecnologia da informação.
A implementação dessa cooperação se dará por meio de Projetos de Cooperação Científica (PCC) ou Projetos de Cooperação Técnica (PCT), que deverão detalhar recursos, responsabilidades e, crucialmente, os direitos de propriedade intelectual (PI) sobre novos processos ou produtos obtidos. Com a assinatura do Memorando, as partes iniciam o processo de definição dos projetos específicos (PCCs e PCTs) que darão corpo e operacionalidade ao plano de colaboração. “O sucesso dessa iniciativa irá posicionar a genômica brasileira como uma ferramenta essencial no desenvolvimento sustentável da pecuária global”, conclui Silva.
Do berço indiano à exportação de genética: a saga do zebu no Brasil
Originárias da Índia, as raças zebuínas denominadas Bos indicus chegaram ao Brasil no século XIX como alternativa ao Bos taurus (raças de origem europeia, como a Holandesa). O objetivo era a criação de rebanhos mais adaptados às condições tropicais do País, o que na pecuária de corte se deu principalmente com a raça Nelore. Na bovinocultura de leite, a maior expressão é a raça Gir que viveu um período de intensa valorização em meados do século passado apelidada de Febre do Gir.

Foto: Divulgação/ABCZ
O chefe-adjunto de Transferência de Tecnologias da Embrapa Gado de Leite, Rui da Silva Verneque, afirma que as importações subsequentes, realizadas até a década de 1960, foram cruciais para a formação do patrimônio genético nacional, incluindo a criação da raça sintética Girolando (Gir X Holandês), definida por Verneque como “um milagre do melhoramento bovino brasileiro”.
O Brasil se posiciona hoje como um exportador de genética bovina de zebu. Para o chefe-geral da Embrapa Gado de Leite, José Luiz Bellini a assinatura do memorando simboliza o reconhecimento internacional da qualidade do trabalho desenvolvido no Brasil. Silva acrescenta que a parceria com a Índia no desenvolvimento genômico das raças zebuínas completa um ciclo histórico, revertendo o fluxo genético. “De importador, agora exportamos conhecimento em melhoramento para o país de origem da raça”, afirma o pesquisador.
“Essa parceria não é apenas um gesto de cooperação, mas uma demonstração de que o rebanho Gir brasileiro, fruto de décadas de seleção e pesquisa, alcançou um nível de excelência que o credencia a guiar o melhoramento da raça em seu próprio país de origem” diz Bellini. A “saga” do zebu se completa, então, com o Brasil consolidando-se como uma superpotência na pecuária tropical.
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Leite de jumenta ganha força como alternativa para a pecuária leiteira brasileira
Produto de alto valor agregado e potencial terapêutico avança em pesquisas e abre novas oportunidades para alimentação, cosméticos e geração de renda no campo.

Produto de alto valor agregado nos mercados europeu e asiático, alcançando preços entre 30 e 50 euros por litro, o leite de jumenta é apontado como uma alternativa para fortalecer a pecuária leiteira do Brasil. Sua composição nutricional semelhante à do leite humano, especialmente no que se refere ao perfil de proteínas e lactose, abre espaço para atender à forte demanda por produtos funcionais e hipoalergênicos.
O professor do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Gustavo Carneiro, explica que o leite de jumenta reúne características nutricionais e imunológicas únicas. “O produto tem grande potencial tanto no mercado nacional quanto internacional, especialmente para crianças com intolerância às proteínas do leite de vaca. Isso abre oportunidades para nichos especializados em alimentação infantil e produtos funcionais, agregando valor à produção de asininos em regiões rurais e contribuindo para o desenvolvimento de cadeias produtivas locais e para a geração de renda complementar aos produtores rurais”, informa.
Além do consumo como alimento, o leite pode ser transformado em derivados cosméticos. O pesquisador chama atenção para a crescente demanda da indústria cosmética. Rico em vitaminas (A, B1, B2, C e E), minerais e compostos bioativos, o leite de jumenta promove hidratação, elasticidade e regeneração da pele. Cremes, loções, sabonetes e máscaras faciais já atraem consumidores na Europa e na Ásia, onde cresce o interesse por cosméticos naturais.
As matérias-primas derivadas da asininocultura também podem atender a indústria farmacêutica. A pele do animal é utilizada na produção de biofármacos, colágeno e gelatina, insumos valorizados pelas indústrias farmacêutica e alimentícia. “Além disso, poderá abrir espaço para o turismo rural e o agroturismo, com a oferta de produtos artesanais e experiências relacionadas à produção do leite”, acrescenta.
Pesquisas voltadas para bebês em UTIs
O leite de jumenta é objeto de estudo na Universidade do Agreste de Pernambuco (Ufape), em Garanhuns. A expectativa dos pesquisadores é que, até 2026, o leite possa ser oferecido de forma segura para UTIs pediátricas, devido às suas qualidades terapêuticas. O professor e pesquisador Jorge Lucena, que coordena o grupo responsável pelo estudo e detalha o rigor do processo de produção. “Tudo é desenvolvido com base nas boas práticas. Temos um rebanho controlado, vacinado contra as principais enfermidades, além das boas práticas de ordenha e da pasteurização do leite. A previsão é que os testes finais para uso em humanos ocorram em breve, permitindo que o alimento esteja disponível para UTIs neonatais dos hospitais de Pernambuco no primeiro semestre de 2026”, informa Lucena. Segundo os pesquisadores, esse modelo já é consolidado em países como a Itália, que serve de referência para o trabalho realizado pela universidade.
Fortalecimento da cadeia produtiva
Com pesquisas avançando e o interesse do mercado em expansão, a asininocultura é vista como uma forma de gerar renda no campo, ganhando força dentro da lógica da economia circular — em que resíduos e subprodutos são transformados em biogás, adubo ou farinha de carne e ossos.
Se os resultados previstos se confirmarem nos próximos anos, o Brasil pode consolidar uma nova cadeia produtiva baseada na inovação, no valor agregado e no uso sustentável dos recursos da asininocultura.
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Infestação de maria-mole eleva risco de intoxicação em bovinos no Rio Grande do Sul
Secretaria Estadual da Agricultura revela níveis alarmantes da planta tóxica e reforça práticas eficazes de controle nas propriedades rurais.

A expansão da maria-mole (Senecio spp.) em propriedades rurais no Rio Grande do Sul voltou a acender o alerta na bovinocultura. Um estudo conduzido entre 2023 e 2024 pelo Laboratório de Histopatologia do Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Saúde Animal Desidério Finamor (IPVDF) identificou alta infestação da planta, responsável por causar seneciose, doença hepática fatal e sem tratamento, na maioria das áreas avaliadas.
O levantamento, realizado pelo pesquisador Fernando Karam, em parceria com a Emater/RS-Ascar, originou o Comunicado Técnico “Infestação de maria-mole (Senecio spp.) e o risco da intoxicação: resultados de pesquisa”, recém-publicado pelo Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (DDPA/Seapi).
Segundo Karam, a letalidade da seneciose se aproxima de 100%, tornando o controle da planta a única forma de proteção para os rebanhos. Durante o período do estudo, foram visitadas propriedades nos municípios de Guaíba, Eldorado do Sul, Viamão e Charqueadas. “Os resultados confirmam a predominância de infestação muito alta na maior parte dos locais. Nas poucas áreas com baixa presença de maria-mole, isso se deveu diretamente à boa cobertura vegetal e ao uso de pastoreio ovino”, explica.
Essas práticas, afirma o pesquisador, são hoje as estratégias mais eficazes para mitigar o problema, já que não existem alternativas terapêuticas para os animais intoxicados. O impacto econômico para a bovinocultura é considerado significativo.
Karam ressalta ainda que o risco aumenta no outono e no inverno, quando os bovinos ingerem a planta de forma acidental. “Nesse período, a maria-mole apresenta maior concentração de alcaloides tóxicos. Por isso, controles como roçadas estratégicas, integração com ovinos e manejo adequado do pasto são essenciais para evitar mortes e prejuízos expressivos”, expõe.



