Suínos
Alojamento de cachaços e as consequências para o bem-estar dos leitões
Apesar dos inegáveis avanços, ainda há desafios tanto no que concerne às demandas de produtividade quanto aos diversos sistemas de criação adotados, alguns dos quais ainda causam estresse direto e baixo bem-estar nos suínos.

O Brasil ocupa a quarta posição de produção e exportação de carne suína no mundo, sendo que 77,5% do que é produzido é consumido pelos próprios brasileiros. Os consumidores têm buscado informações acerca dos sistemas de produção em que os animais são criados e iniciativas legislativas procuram acompanham este processo. Nesse sentido, a Instrução Normativa nº 113, de 16 de dezembro de 2020 prevê adoção de práticas que visam melhorar o bem-estar dos suínos.
Apesar dos inegáveis avanços, ainda há desafios tanto no que concerne às demandas de produtividade quanto aos diversos sistemas de criação adotados, alguns dos quais ainda causam estresse direto e baixo bem-estar nos suínos. Os cachaços, geralmente esquecidos, são frequentemente alojados em ambientes desafiadores, com estímulos mínimos e sujeitos a movimentação restrita e isolamento social. Fatores ambientais estressantes podem afetar o desenvolvimento dos animais causando alterações na qualidade do sêmen e possíveis modificações nas informações genéticas que são transferidas para a prole, através de mecanismos epigenéticos. Estes mecanismos representam modificações na forma que os genes são “ativados” ou “desativados”, nas diversas fases de desenvolvimento. Os efeitos epigenéticos mais relatados na literatura são relacionados com a contribuição materna, conhecido como programação fetal. O nosso trabalho é o primeiro que relata o impacto epigenético com avalição do fenótipo dos leitões associado às condições dos cachaços.
Os machos apresentam uma variabilidade significativa na contribuição dos efeitos ambientais nas mudanças epigenéticas em seus gametas, e essa variabilidade é influenciada pelos vários estágios da espermatogênese. Durante esse processo, marcas epigenéticas podem ser incorporadas às células germinativas, impactando a descendência subsequente através de mecanismos transgeracionais. Mecanismos epigenéticos que causam pequenas alterações no DNA podem desempenhar um papel importante na reprogramação fetal e no desenvolvimento neurológico, afetando consequentemente o comportamento animal.
O estresse ambiental pode contribuir para o surgimento de doenças físicas e mentais em diferentes momentos da vida. Exemplo disso foi o trabalho do nosso grupo demonstrando os efeitos reprodutivos causados pelo alojamento de cachaços, onde machos alojados em celas apresentaram maiores fatores associados à infertilidade.
Durante o desenvolvimento desta pesquisa, estudamos o impacto do bem-estar do cachaço nas caraterísticas comportamentais, fisiológicas e produtivas dos seus leitões. Diferentes níveis de bem-estar nos cachaços foram definidos a partir de três alojamentos diferentes: celas, baias e baias com enriquecimento ambiental, como feno, banho e escovação duas vezes por dia (Figura 1, 1.1 e 1.2).

Figura 1

Figura 1.1

Figura 1.2
O sêmen dos cachaços dos três tipos de alojamento e manejo foram coletados e misturados na mesma dose e utilizados para inseminar marrãs alojadas ao ar livre (Figura 2 e 2.1). Após o parto, coletamos dados produtivos como mortalidade e peso. Durante a maternidade os leitões foram submetidos a três testes comportamentais para avaliar medo, ansiedade e exploração (combinação de teste de campo aberto/novo objeto e labirinto em cruz elevado). Após os desmame, avaliações de agressividade (contagem de lesões cutâneas) e dor (limiar nociceptivos) foram realizados nos leitões, assim como do estresse fisiológico (cortisol salivar). Ao final realizamos o teste de paternidade dos leitões para identificar qual dos cachaços era o progenitor e qual a forma de alojamento e manejo que o animal recebeu.
Descobertas
Nossos principais achados indicam que o alojamento dos cachaços alterou as características dos seus leitões em diversos aspectos. Evidenciamos que o número de leitões nascidos vivos e desmamados foi maior quando vindo de cachaços mantidos em baias enriquecidas em comparação com baias padrão. Comportamentos e valores relacionados à percepção de dor foram menores na prole dos cachaços que foram mantidos em celas do que nos filhos dos cachaços mantidos em baias.

Figura 2

Figura 2.1
Destacamos ainda que essas alterações também se manifestaram em comportamentos associados a emoções observadas através de testes consolidados na pesquisa animal, nos quais os filhos de cachaços alojados em celas exibiram menos comportamento de medo em comparação com os filhos de cachaços alojados em baias enriquecidas. No entanto, os leitões filhos dos cachaços alojados em celas mostraram maiores níveis de ansiedade e exploração em comparação aos leitões de cachaços alojados em baias.
Adicionalmente, outro fator interessante revelado pela nossa pesquisa está relacionado à resposta ao estresse. Os leitões nascidos de cachaços com enriquecimento ambiental se estressaram menos quando expostos a desafios de isolamento e novidade.
Nossas descobertas indicam que o ambiente de criação de cachaços afetou o número de leitões nascidos vivos, a percepção de dor, a emocionalidade (ansiedade, medo e exploração), bem como a resposta ao estresse de seus filhos. Destinar mais atenção e recursos para desenvolver melhores condições de alojamento de cachaços é de suma importância, pois o ambiente de produção não só afeta o bem-estar do cachaço, mas também o bem-estar e resiliência dos seus leitões.
Animais que possuem melhores condições de bem-estar, apresentam menos problemas de saúde, melhores índices reprodutivos e são mais fáceis de manejar, desta forma sendo mais rentáveis para o produtor.
As referências bibliográficas estão com os autores. Contato: adroaldo.zanella@usp.br; sabei_le@alumni.usp.br.

Leandro Sabei – Foto: Arquivo Pessoal

Adroaldo Zanella – Foto: Arquivo Pessoal
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Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



