Suínos Diplomacia e cautela
Alimento, comércio e guerra
Protagonizar no mercado internacional de alimentos, nesse mundo, não será tarefa para amadores.

Um dos fundamentos do marketing reza que o cliente é uma entidade a ser mantida em estado de encantamento constante, ou algo muito próximo disso. Esse é o ideal. Quanto maior o encantamento, maior o potencial de fidelidade e agregação de valor. A União Europeia (UE), por exemplo, é um cliente brasileiro de US$ 16 bilhões (2020), com importações de grãos, carnes e frutas, principalmente.
Olhando pelo valor é um cliente bom, embora distante do nosso número 1, a China, com importações de US$ 36 bilhões (2020). Como nem tudo é perfeito, a Europa também é aquele cliente tipo bocudo, que reclama do fornecedor publicamente, inclusive na imprensa, mas que devemos cultivar com diplomacia e cautela, não só pelo que representa hoje, mas pelo que pode vir a ser no futuro, a bordo de um acordo comercial Mercosul-União Europeia.
Nas artes da diplomacia e do comércio, conhecer bem o interlocutor e o clima negocial é pressuposto essencial. A Europa vive mudanças de lideranças políticas e com isso pode elevar o tom crítico ao agro brasileiro nos próximos tempos, em nome de bandeiras ambientais e de engajamento na questão climática. Tudo temperado por algum viés ideológico e um pano de fundo concorrencial, afinal Brasil e UE são concorrentes no mercado mundial de alimentos.
Na Alemanha, de governo novo com o chanceler Olaf Scholz, após 16 anos com a chanceler Angela Merkel, a nova ministra das Relações Exteriores é Annalena Baerbok, uma das líderes do Partido Verde e simpática a movimentos de pressão global sobre a Amazônia. No gabinete alemão também figura outro líder do Partido Verde em cargo estratégico, Robert Habeck, político que está à frente do Ministério das Finanças e Proteção Climática.
A França, outra nação com influência forte na política internacional da UE, terá eleições em abril e os chamados “verdes” são força política ascendente por lá. Como o país assumirá a presidência rotativa da UE neste ano, um fortalecimento eleitoral das bandeiras ambientalistas poderá trazer maior pressão de opinião pública sobre o nosso agro e o acordo Mercosul-UE. Pode até evoluir para um aumento do protecionismo, como já se ensaiou recentemente, insuflando restrições a produtos brasileiros, dada a condução de nossa política ambiental.
De nosso lado, há valores de troca estratégicos para se colocar na mesa. Por exemplo: a segurança alimentar mundial, da qual o Brasil é fiador importante; a nossa revolução agrícola tropical sustentável, em expansão e ensinando os trópicos a produzir melhor; e a maior reserva biológica do mundo, cujo manejo adequado pode representar vantagens comparativas essenciais na descarbonização da economia mundial. Isto nós temos e podemos negociar com o mundo (será que queremos?), ainda usando para construir novas percepções sobre o Brasil, pois hoje em dia os conflitos (comerciais ou não) são guerras de narrativas também.
Tudo isso estará agora sob a influência dos impactos da guerra na Ucrânia, com seu potencial de estimular políticas protecionistas na Europa, debilidade geopolítica das potências e, talvez, até novos blocos de poder euroasiáticos. Além, é claro, dos efeitos econômicos imediatos do conflito, como a escalada de preços das commodities, algum impulso na inflação mundial e o desarranjo em cadeias globais de fornecimento, como ocorre com os fertilizantes.
Cerca de 70% da nossa produção agro fica no mercado interno, que é autossuficiente, embora com gargalos de desigualdade social e nutricional. Assim, os horizontes de crescimento da nossa agropecuária apontam para além-mar e não apenas com commodities, mas também com alimentos de valor agregado e alinhados com as expectativas dos mercados mundiais quanto à saúde, uso responsável de recursos naturais e transparência com os consumidores. Tudo em meio a cenários de incertezas, transições e volatilidade. Protagonizar no mercado internacional de alimentos, nesse mundo, não será tarefa para amadores.
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Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

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Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.
Colunistas
Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

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Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.



