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Além de um desafio, uma necessidade
Agentes limpantes são produtos que têm a função de retirar resíduos de agroquímicos do circuito hidráulico sem inativar o ingrediente ativo

Artigo escrito por Marco Antônio Gandolfo, professor da UENP Campus Luiz Meneghel, e Ulisses Gandolfo, diretor Técnico do Instituto Dashen – Bandeirantes – PR
Embora os avanços tecnológicos na agricultura tenham contribuído com a produção do setor, eles também trouxeram novas preocupações aos produtores. Entre elas, a maior complexidade dos circuitos hidráulicos dos pulverizadores modernos, elevando não só a capacidade operacional das máquinas, mas também a dificuldade de sua limpeza ou descontaminação. Esta nova era trouxe desafios operacionais que ainda estão sendo estudados e entendidos, e que serão abordados a seguir sobre a ótica de experiências recentes, que poderão orientar ações para evitar que a contaminação cruzada dos pulverizadores possa prejudicar o potencial produtivo das lavouras.
Agentes limpantes e descontaminantes
Os agentes limpantes são produtos que têm a função de retirar resíduos de agroquímicos do circuito hidráulico sem inativar o ingrediente ativo. Entre eles estão os detergentes, ácidos, bases e ésteres. Estes produtos são, geralmente, mais baratos e não requerem produtos específicos para cada ingrediente ativo. Já os descontaminantes têm a função de inativar as moléculas do ingrediente ativo presente no circuito hidráulico do pulverizador, sendo também chamados de inativadores.
Por atuarem de forma mais específica sobre alguns ingredientes ativos, demandam testes prévios sobre o agroquímico que se pretende inativar para atestar sua ação. Entre eles destacam-se o amoníaco, o peróxido de hidrogênio e o ozônio. A indústria química tem desenvolvido produtos específicos para inativar determinados herbicidas. Isso permite seu uso com menor risco de contaminação cruzada, mas demandam testes que determinem a concentração que devem ser usados para obtenção da eficácia.
Tipos de pulverizador
Os equipamentos de circuito simples e menos sofisticados e com poucos pontos de restrição, como pulverizadores costais são mais fáceis de limpar, sendo que, normalmente o uso de detergentes associados a procedimentos simples como a tríplice lavagem são suficientes. Além disso, por se tratar de equipamentos de pequena capacidade, o volume de líquido residual das lavagens não representa um grande problema ambiental no descarte. Este líquido residual deve ser descartado na área agrícola onde o agroquímico foi aplicado ou em área de manejo. Os pulverizadores de circuito combinado como os montados e de arrasto já apresentam alguns pontos de restrição como filtros, antigotejadores e eventualmente fluxômetros, os quais devem ser retirados e limpos separadamente para melhorar o processo exigindo, portando, maior rigor na sua limpeza.
Os equipamentos com circuitos hidráulicos complexos como os autopropelidos são os mais difíceis de se assegurar uma limpeza eficaz, independentemente do método ou do produto usado. Sugere-se neste caso, que ao final do turno diário de trabalho, o pulverizador seja limpo antes da máquina ser guardada. Ao considerar que a limpeza será efetuada pelo menos em três etapas (tríplice lavagem) e se tratando de equipamentos com elevada capacidade do tanque, o volume residual será, da mesma forma, bastante elevado, requerendo tempo e área agrícola ou de manejo suficientes para o devido descarte.
Passo a passo: procedimento de limpeza
Passo 1: Para máquinas com tanque de polietileno e aço inoxidável, colocar meio tanque de água. Para máquinas com tanque de fibra de vidro completar o tanque com água até sua capacidade nominal. Adicionar o agente limpante na concentração recomendada no tanque e agitar o líquido por no mínimo 20 minutos por todo circuito hidráulico e esgotar o conteúdo do tanque.
Passo 2: Remover as pontas de pulverização, filtros dos bicos, filtros de sucção, filtros de linha, drenos dos segmentos de barra (quando presente) e limpá-los separadamente. Deve-se remover também o lastro da calda.
Passo 3: Montar os filtros de sucção, de linha e as pontas de pulverização. Não montar os filtros dos bicos nem os drenos dos segmentos de barra (quando presente). Para máquinas com tanque de polietileno e aço inoxidável colocar meio tanque de água. Para máquinas com tanque de fibra de vidro completar o tanque até sua capacidade nominal. Ligar a pulverização até o esgotamento total do conteúdo do tanque. A ausência de filtros dos bicos e drenos dos segmentos de barra fará o líquido escoar rapidamente pelas barras, facilitando a retirada de resíduos sólidos do circuito.
Passo 4: Montar todo o circuito e lavar uma vez mais com água, sendo que para máquinas com tanque de polietileno e aço inoxidável, colocar meio tanque de água e para máquinas com tanque de fibra de vidro completar o tanque até sua capacidade nominal.
Embora existam procedimentos e produtos recomendados para a limpeza, o conhecimento das dificuldades e limitações de cada equipamento e a adoção de medidas especificas para estes casos pode ser mais eficiente que medidas gerais. Deve-se considerar ainda, que o mercado continuará oferecendo novos agroquímicos, que terão maiores riscos de contaminação do pulverizador que os produtos atuais, somado ao fato de que a complexidade dos circuitos hidráulicos dos pulverizadores continuará aumentando, impondo ao usuário cuidados especiais não só em sua calibração, configuração e operação, mas também na forma de limpeza.

Notícias
Santa Catarina registra avanço simultâneo nas importações e exportações de milho em 2025
Volume importado sobe 31,5% e embarques aumentam 243%, refletindo demanda das cadeias produtivas e oportunidades geradas pela proximidade dos portos.

As importações de milho seguem em ritmo acelerado em Santa Catarina ao longo de 2025. De janeiro a outubro, o estado comprou mais de 349,1 mil toneladas, volume 31,5% superior ao do mesmo período do ano passado, segundo dados do Boletim Agropecuário de Santa Catarina, elaborado pela Epagri/Cepa com base no Comex Stat/MDIC. Em termos de valor, o milho importado movimentou US$ 59,74 milhões, alta de 23,5% frente ao acumulado de 2024. Toda a origem é atribuída ao Paraguai, principal fornecedor externo do cereal para o mercado catarinense.

Foto: Claudio Neves
A tendência de expansão no abastecimento externo se intensificou no segundo semestre. Em outubro, Santa Catarina importou mais de 63 mil toneladas, mantendo a curva ascendente registrada desde julho, quando os volumes mensais passaram consistentemente da casa das 50 mil toneladas. A Epagri/Cepa aponta que esse movimento deve avançar até novembro, período em que a demanda das agroindústrias de aves, suínos e bovinos segue aquecida.
Os dados mensais ilustram essa escalada. De outubro de 2024 a outubro de 2025, as importações variaram de mínimas próximas a 3,4 mil toneladas (março/25) a máximas superiores a 63 mil toneladas (setembro/25). Nesse intervalo, meses como junho, julho e agosto concentraram forte entrada do cereal, acompanhados de receitas que oscilaram entre US$ 7,4 milhões e US$ 11,2 milhões.
Exportações crescem apesar do déficit interno
Em um cenário aparentemente contraditório, o estado, que possui déficit anual estimado em 6 milhões de toneladas de milho para suprir seu grande parque agroindustrial, também ampliou as exportações do grão em 2025.
Até outubro, Santa Catarina embarcou 130,1 mil toneladas, um salto de 243,9% em relação ao mesmo período de 2024. O valor exportado também chamou atenção: US$ 30,71 milhões, alta de 282,33% na comparação anual.

Foto: Claudio Neves
Segundo a Epagri/Cepa, essa movimentação ocorre majoritariamente em regiões produtoras próximas aos portos catarinenses, onde os preços de exportação tornam-se mais competitivos que os do mercado interno, especialmente quando o câmbio favorece vendas externas ou quando há descompasso logístico entre oferta e demanda regional.
Essa dinâmica reforça um traço estrutural conhecido do agro catarinense: ao mesmo tempo em que é um dos maiores consumidores de milho do país, devido ao peso das cadeias de proteína animal, Santa Catarina não alcança autossuficiência e depende do cereal de outras regiões e países para abastecimento. A exportação pontual ocorre quando há excedentes regionais temporários, oportunidades comerciais ou vantagens logísticas.
Perspectivas
Com a entrada gradual da nova safra 2025/26 no estado e no Centro-Oeste brasileiro, a tendência é que os volumes importados se acomodem a partir do fim do ano. No entanto, o comportamento do câmbio, os preços internacionais e o resultado final da produção catarinense seguirão determinando a necessidade de compras externas — e, por outro lado, a competitividade das exportações.
Para a Epagri/Cepa, o quadro de 2025 reforça tanto a importância do milho como insumo estratégico para as cadeias de proteína animal quanto a vulnerabilidade decorrente da dependência externa e interestadual do cereal. Santa Catarina continua sendo um estado que importa para abastecer seu agro e exporta quando a lógica de mercado permite, um equilíbrio dinâmico que movimenta portos, indústrias e produtores ao longo de todo o ano.
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Brasil e Japão avançam em tratativas para ampliar comércio agro
Reunião entre Mapa e MAFF reforça pedido de auditoria japonesa para habilitar exportações de carne bovina e aprofunda cooperação técnica entre os países.

OMinistério da Agricultura e Pecuária (Mapa), representado pelo secretário de Comércio e Relações Internacionais, Luis Rua, realizou uma reunião bilateral com o vice-ministro internacional do Ministério da Agricultura, Pecuária e Florestas (MAFF), Osamu Kubota, para fortalecer a agenda comercial entre os países e aprofundar o diálogo sobre temas da relação bilateral.
No encontro, a delegação brasileira apresentou as principais prioridades do Brasil, incluindo temas regulatórios e iniciativas de cooperação, e reiterou o pedido para o agendamento da auditoria japonesa necessária para a abertura do mercado para exportação de carne bovina brasileira. O Mapa também destacou avanços recentes no diálogo e reforçou os pontos considerados estratégicos para ampliar o fluxo comercial e aprimorar mecanismos de parceria.
Os representantes japoneses compartilharam seus interesses e expectativas, demonstrando disposição para intensificar o diálogo técnico e buscar convergência nas agendas de interesse mútuo.
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Bioinsumos colocam agro brasileiro na liderança da transição sustentável
Soluções biológicas reposicionam o agronegócio como força estratégica na agenda climática global.

A sustentabilidade como a conhecemos já não é suficiente. A nova fronteira da produção agrícola tem nome e propósito: agricultura sustentável, um modelo que revitaliza o solo, amplia a biodiversidade e aumenta a captura de carbono. Em destaque nas discussões da COP30, o tema reposiciona o agronegócio como parte da solução, consolidando-se como uma das estratégias mais promissoras para recuperação de agro-ecossistemas, captura de carbono e mitigação das mudanças climáticas.

Thiago Castro, Gerente de P&D da Koppert Brasil participa de painel na AgriZone, durante a COP30: “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida”
Atualmente, a agricultura e o uso da terra correspondem a 23% das emissões globais de gases do efeito, aproximadamente. Ao migrar para práticas sustentáveis, lavouras deixam de ser fontes de emissão e tornam-se sumidouros de carbono, “reservatórios” naturais que filtram o dióxido de carbono da atmosfera. “A agricultura sustentável é, em sua essência, sobre restaurar a vida. E não tem como falar em vida no solo sem falar em controle biológico”, afirma o PhD em Entomologia com ênfase em Controle Biológico, Thiago Castro.
Segudo ele, ao introduzir um inimigo natural para combater uma praga, devolvemos ao ecossistema uma peça que faltava. “Isso fortalece a teia biológica, melhora a estrutura do solo, aumenta a disponibilidade de nutrientes e reduz a necessidade de intervenções agressivas. É a própria natureza trabalhando a nosso favor”, ressalta.
As soluções biológicas para a agricultura incluem produtos à base de micro e macroorganismos e extratos vegetais, sendo biodefensivos (para controle de pragas e doenças), bioativadores (que auxiliam na nutrição e saúde das plantas) e bioestimulantes (que melhoram a disponibilidade de nutrientes no solo).
Maior mercado mundial de bioinsumos
O Brasil é protagonista nesse campo: cerca de 61% dos produtores fazem uso regular de insumos biológicos agrícolas, uma taxa quatro vezes maior que a média global. Para a safra de 2025/26, o setor projeta um crescimento de 13% na adoção dessas tecnologias.
A vespa Trichogramma galloi e o fungo Beauveria bassiana (Cepa Esalq PL 63) são exemplos de macro e microrganismos amplamente utilizados nas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho e algodão, para o controle de lagartas e mosca-branca, respectivamente. Esses agentes atuam nas pragas sem afetar polinizadores e organismos benéficos para o ecossistema.
Os impactos do manejo biológico são mensuráveis: maior porosidade do solo, retenção de água e nutrientes, menor erosão; menor dependência de fertilizantes e inseticidas sintéticos, diminuição na resistência de pragas; equilíbrio ecológico e estabilidade produtiva.
Entre as práticas sustentáveis que já fazem parte da rotina do agro brasileiro estão o uso de inoculantes e fungos benéficos, a rotação de culturas, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e o manejo biológico de pragas e doenças. Práticas que estimulam a vida no solo e o equilíbrio natural no campo. “Os produtores que adotam manejo biológico investem em seu maior ativo que é a terra”, salienta Castro, acrescentando: “O manejo biológico não é uma tendência, é uma necessidade do planeta, e a agricultura pode e deve ser o caminho para a regeneração ambiental, para esse equilíbrio que buscamos e precisamos”.



