Bovinos / Grãos / Máquinas
Airton Spies traz olhar profundo sobre presente e futuro da cadeia de leite no Brasil
À medida que o setor cresce, várias tendências moldam a forma como o leite é produzido, processado, distribuído e consumido no país.

Com uma vasta geografia e recursos naturais abundantes, o Brasil possui condições favoráveis para se destacar cada vez mais na produção de leite. Historicamente, a região Sul do país tem desempenhado um papel de destaque nesse setor, com suas terras férteis e clima propício para a pecuária leiteira, no entanto, o futuro do leite brasileiro transborda as fronteiras dos estados sulistas, com diferentes regiões do país explorando seu potencial e contribuindo para o crescimento e a diversificação da indústria leiteira, com destaque para o insuperável estado de Minas Gerais.
À medida que a cadeia cresce, várias tendências moldam a forma como o leite é produzido, processado, distribuído e consumido no país. O aumento da conscientização dos consumidores sobre a origem e a qualidade dos alimentos também tem impulsionado a demanda por produtos lácteos mais saudáveis, sustentáveis e inovadores, uma vez que os consumidores estão cada vez mais interessados em saber sobre as práticas de produção, bem-estar animal, rastreabilidade e impacto ambiental da indústria do leite.
Além disso, a tecnologia desempenha um papel crucial na transformação do setor leiteiro. Desde a aplicação de sistemas de monitoramento e gestão em tempo real nas fazendas até a automação de processos industriais, a tecnologia está otimizando a eficiência da produção, melhorando a qualidade e segurança dos produtos e permitindo a adoção de práticas mais sustentáveis.
No entanto, à medida que o setor vislumbra um futuro promissor no Brasil, também enfrenta desafios significativos. Questões como mudanças climáticas, escassez de recursos naturais, volatilidade dos preços, concorrência global e a necessidade de garantir a rentabilidade dos produtores. Neste contexto, o engenheiro agrônomo, coordenador geral da Aliança Láctea Sul-Brasileira e consultor da Spiesagro, Airton Spies, afirma que explorar o futuro do leite no Brasil envolve analisar as oportunidades emergentes, as tendências tecnológicas, as demandas dos consumidores e as estratégias adotadas pelos diversos atores do setor.
Região Sul

Engenheiro agrônomo, coordenador geral da Aliança Láctea Sul-Brasileira e consultor da Spiesagro, Airton Spies – Foto: Divulgação
O profissional enfatiza que a produção de leite na região Sul do Brasil está se expandindo além da média nacional, impulsionada pelo uso crescente de tecnologias avançadas que aprimoram a produtividade e a qualidade do leite. “Estamos testemunhando uma transformação no setor, uma revolução silenciosa, que está rompendo com o modelo tradicional de produção de leite para consumo familiar e venda de excedentes, migrando para um modelo no qual os produtores se especializam e o leite se torna sua principal ou única atividade econômica. Isso resulta em uma maior escala de produção e uma diminuição no número de produtores”, analisa.
Conforme Spies, os produtores de médio e grande porte estão aumentando sua escala de produção e profissionalizando suas operações, seguindo o exemplo de outras cadeias de produção animal. “Estima-se que nos últimos oito anos mais de 50% dos produtores de leite deixaram a atividade nos três estados da região Sul”, estima o coordenador geral da Aliança Láctea Sul-Brasileira.
No setor de laticínios também ocorre uma mudança significativa, com a concentração da produção em um número menor de empresas. Gradualmente, o setor está se organizando para aumentar a eficiência da logística de coleta e investir no desenvolvimento da capacidade de seus fornecedores de leite. “Tudo isso contribui para tornar o setor mais competitivo em relação a outras regiões do país”, comenta o engenheiro agrônomo.
Por sua vez, Spies enaltece que as principais oportunidades do setor residem na expansão do mercado externo para produtos lácteos brasileiros. Embora a região Sul já seja responsável por 40% do leite industrializado do país, sua população consumidora representa apenas 15% do total do Brasil. “Para aumentar ainda mais a produção é crucial conquistar novos mercados, inclusive em regiões distantes. No entanto existem grandes desafios, entre os quais a necessidade de reduzir o custo de produção, resolvendo os gargalos que o setor enfrenta e que resultam em custos médios finais 20% mais elevados dos produtos em relação aos custos dos lácteos nos principais países exportadores”, expõe Spies.
Para lidar com esses desafios, os governadores e líderes da região sulista estabeleceram a Aliança Láctea Sul-Brasileira em 2014. Essa aliança é um fórum permanente que reúne o setor público e privado com o objetivo de resolver problemas comuns e aproveitar as oportunidades, por meio de uma estratégia conjunta delineada no Plano de Eficiência e Competitividade para o setor de leite.
Tendências
A perspectiva para a produção de leite na região Sul é a continuação do processo de transformação estrutural e tecnológica que já está em andamento. Isso vai levar à modernização do setor e à sua maior competitividade, inclusive no mercado global. “Os efeitos dessa transformação incluem a eliminação de ineficiências na cadeia de produção e a fabricação de produtos lácteos que possuem os três atributos essenciais para competir no mercado internacional: alta qualidade, baixo custo e eficiência logística/industrial”, menciona Spies.
Produção nacional x produção sulista
Em relação a produção total de leite produzido no Brasil, Spies diz que tem se mantido estagnada nos últimos nove anos, tanto em termos de volume total produzido, que se mantém em 34 bilhões de litros por ano, como na produção de leite industrializado, que estagnou em 25 bilhões de litros/ano. “Na verdade, houve até mesmo uma redução de 5,1% em 2022 quando comparado com o ano anterior. No entanto, na região Sul, a produção de leite continua a crescer impulsionada pela revolução tecnológica e organizacional que o setor tem implementado.
Essa tendência é particularmente evidente na região formada pelo Noroeste gaúcho, Oeste catarinense e Sudoeste paranaense, que representa a área com a maior concentração desse novo cluster de produção de leite no Brasil. Além disso, a mesorregião do Centro Oriental do Paraná se destaca pela produção de leite com o uso de tecnologia de ponta e um cooperativismo sólido, tornando-se a nova referência para a produção competitiva de leite no país”, destaca.
Inovações
O engenheiro agrônomo ressalta que novas tecnologias são apresentadas e incorporadas a todo momento na cadeia produtiva do leite. No nível de produção a campo, existem avanços que aprimoram a produtividade, a qualidade e humanizam o trabalho dos produtores. A melhoria genética do rebanho, o desenvolvimento de novas variedades de plantas forrageiras, o uso de máquinas mais adequadas para a produção de alimentos, o manejo do gado, a ordenha e o resfriamento do leite, bem como tecnologias que melhoram a sanidade e o bem-estar animal, são apenas alguns exemplos. “Inovações para aprimorar a gestão do negócio e monitorar animais, máquinas e pastagens por meio de inteligência artificial, agricultura de precisão e ordenha automatizada estão se tornando realidade no campo. Esses avanços contribuem para melhorar a eficiência e os resultados, seja na produção baseada em pastagens ou em sistemas de confinamento, como compost barn ou free stall”, avalia o consultor.
No setor industrial, Spies evidencia melhorias no transporte do leite, com caminhões adequados que controlam e mantêm a qualidade do leite ao longo de todo o percurso e que estão impactando a cadeia produtiva. “Essas mudanças estão acontecendo com tanta velocidade, que no curto e médio prazo, não haverá mais espaço para quem não adotar os novos padrões tecnológicos. A régua vai subir para todos”, enaltece.
Iniciativas e políticas públicas
Existem várias iniciativas e políticas públicas que podem ser implementadas para apoiar o crescimento e a sustentabilidade da produção de leite na região Sul. Spies enfatiza que uma das principais missões dos governos é garantir um ambiente macroeconômico estável, promovendo um crescimento seguro e livre da economia. “Isso impulsiona investimentos, gera mais empregos, melhora a renda da população e, consequentemente, aumenta o consumo de produtos lácteos, que está estagnado no Brasil em 165 litros por habitante/ano há quase uma década, devido à alta elasticidade-renda desses produtos”, pondera Spies.
Para a melhoria da eficiência e da competitividade da produção, o profissional cita as principais políticas públicas que precisam ser implantadas para apoiar o crescimento e a sustentabilidade do setor, entre as quais estão melhoria nas estradas rurais, investimentos em redes de energia trifásica, infraestrutura de conectividade para acesso à internet no campo, defesa agropecuária robusta para proteger os rebanhos e sanear doenças como a brucelose e tuberculose, incentivo à pesquisa e assistência técnica, linhas de crédito customizadas para a produção de leite e especialmente, um programa de incentivo à exportação de lácteos para as indústrias. “É preciso criar um ambiente favorável a investimentos, com crédito e incentivos fiscais, para criar as condições iniciais de competitividade exportadora. O Brasil já tem habilitação para exportar lácteos para dezenas de países, porém o problema é que nossos custos de produção ainda estão acima da média dos principais exportadores”, avalia, salientando: “Superar os gargalos que geram esses custos a mais deve ser a prioridade das políticas públicas e do setor privado. Nesse contexto se inclui a reforma tributária, para proporcionar um tratamento justo e eliminar as assimetrias na tributação que o setor enfrenta. Somente através de esforços conjuntos será possível impulsionar a competitividade e a sustentabilidade da produção de leite no país”.
Desafios e oportunidades para os produtores

Foto: Shutterstock
Atualmente, os produtores de leite no Sul do Brasil enfrentam diversos desafios que afetam sua competitividade e impactam o setor como um todo. O principal desafio reside no alto custo de produção dos lácteos, o que resulta em uma falta de competitividade no mercado externo. Diversos fatores contribuem para esse alto custo, incluindo a baixa produtividade média por vaca e por hectare de terra, a baixa produtividade da mão de obra e a desorganização da logística. “Trabalhamos muito e empregamos uma estrutura fixa muito cara para produzir pouco leite. A produção de leite no Brasil é muito dispersa e heterogênea. A média nacional é de 2.250 litros de leite/vaca/ano, mas na região Sul as vacas já produzem 3.800 litros/ano em média”, compara.
Na prática, o Brasil tem vários “Brasis” quando o assunto é leite, tanto na produção, como no mercado. Enquanto a região Nordeste, com seus nove estados, produz menos da metade do volume total que sua população de 67 milhões de habitantes consome, a região Sul tem uma produção que atende 2,5 vezes o volume que seus 30 milhões de habitantes absorvem. “Por essa razão, as políticas de desenvolvimento do setor devem ser diferenciadas. No Nordeste e demais regiões do Brasil, a produção pode aumentar para abastecer o mercado local e regional, enquanto no Sul temos que preparar a produção para conquistar o mercado internacional”, ressalta, complementando: “Devemos lembrar que o mercado de lácteos no Brasil ainda goza da proteção de uma Tarifa Externa Comum de 28%, que o país impõe aos produtos importados de países que não fazem parte do Mercosul. É importante eliminar as ineficiências que o setor ainda tem e se preparar para poder competir de igual para igual com o mercado”.
O consultor reitera que as oportunidades estão na exportação e no aumento do consumo interno por meio de melhoria da renda per capita da população, resultado do crescimento da economia. Porém o mercado interno está saturado para o poder de compra atual dos consumidores.
A produção nacional atende 97% do consumo interno e o país exporta menos de 0,2% da produção nacional. “A situação de estagnação atual implica em que para um produtor aumentar sua produção outro tem que reduzir ou sair da atividade. Portanto, para ‘furar o teto’ limitado pelo mercado interno, a região Sul precisa organizar e formatar sua produção para rumar para os portos, embarcar nos navios na forma de leite em pó, queijos e manteiga e conquistar os principais mercados importadores do mundo. Existem também oportunidades para exportar produtos diferenciados de maior valor agregado que devemos aproveitar, mas o volume é limitado”, pontua Spies.
A renda per capita em países populosos como a China e diversas outras nações da Ásia, Oriente Médio, África, América Latina e América Central está melhorando e o consumo de proteínas animais tende a crescer.
A boa notícia para o Brasil é que os principais exportadores de lácteos – Nova Zelândia, União Europeia, Estados Unidos, Austrália, Argentina e Uruguai – têm pouco espaço para aumentar sua produção, muito por conta de pressões ambientais e metas assumidas no Acordo do Clima pela redução de emissões de gases que causam efeito estufa. “Nesse cenário, o Brasil terá espaço para participar ativamente no abastecimento desses mercados, pois temos aqui, mais terra, água, sol e fotossíntese para produção de plantas forrageiras e grãos que as vacas convertem em produtos lácteos. Precisamos converter essa nossa vantagem comparativa em uma vantagem competitiva, aliás, como já fizemos em diversas cadeias do agronegócio brasileiro, inclusive, com o boi de corte”, frisa o profissional.
Sustentabilidade ambiental e Bem-estar animal
A sustentabilidade ambiental e a preocupação com o bem-estar animal estão tendo um impacto muito grande sobre a cadeia produtiva. Spies ressalta que essas influências resultam do aumento da consciência ambiental da população em geral e são drivers positivos para o setor melhorar seu desempenho e sua imagem. “O consumo consciente e responsável está se espalhando como uma prática normal entre os consumidores, principalmente em mercados mais exigentes. A produção de lácteos feita com degradação de recursos naturais não será tolerada pelo mercado. Práticas de agricultura sustentável, regenerativa, que reduza ou zere as emissões líquidas de carbono ao longo da cadeia produtiva vão ser muito mais valorizadas e agregam valor”, exalta o consultor.
O coordenador geral da Aliança Láctea Sul-Brasileira elenca que a produção atual precisa atender aos princípios do tripé da sustentabilidade – ambiental, econômica e social – e também estar alinhada com a agenda ESG – ambiental, social e governança – para o que as certificações de conformidade serão necessárias. “Investimentos em geração de energia renovável com base em biogás, fotovoltaica e eólica devem ser parte do modelo de produção com sustentabilidade”, assegura, complementando: “Produzir leite submetendo os animais a qualquer tipo de sofrimento ou crueldade é totalmente rechaçado pelo mercado e pelos consumidores, além de ser eticamente deplorável. O setor terá que dar toda a atenção e investir cada vez mais em conforto animal, para gerar as condições de bem-estar animal necessárias. A produção de leite com ‘vacas felizes’ não será um diferencial, mas uma condição para acessar o mercado”, reforça Spies.
Indústrias de laticínios
De outro lado, Spies salienta que as indústrias de laticínios precisam investir no desenvolvimento dos ‘seus fornecedores’. Isso significa estabelecer relações mais fidelizadas, sólidas e duradouras com os produtores de leite. “O setor não pode funcionar na relação informal, baseada no ‘fio do bigode’. Há necessidade de se estabelecer formas de contratualização da produção, para trazer mais segurança para ambos os lados. Só assim teremos mais condições de investir e crescer. A alta ociosidade da capacidade industrial, que na região Sul é estimada em 40%, é nefasta e gera custos que o setor não pode carregar, se quiser competir abertamente com o mercado global”, alerta Spies, ampliando: “Não existe produtor de leite sustentável sem indústria, e não existe indústria viável sem o produtor. É preciso estabelecer parcerias formais, com integração da produção, que vai trazer mais previsibilidade e competitividade para a cadeia produtiva. Sem contratos, não há como exportar, e sem exportação, há pouco espaço para crescer”.
Menos produtores de leite
A redução do número de produtores de leite, por meio da seleção dos mais eficientes, como vem acontecendo, não significa necessariamente que o setor vai empregar menos pessoas. Ao contrário, o número de empregos, renda e oportunidades que o setor vai gerar depende muito mais do volume total de leite que será capaz de produzir, processar e vender. “Teremos menos produtores de leite, mas como a produção utiliza muito trabalho, surgirão milhares de empregos ao longo da cadeia produtiva, de forma que a mudança em curso vai trazer muitos benefícios para o país. O leite é o setor que tem grandes ganhos de eficiência a incorporar e é sim candidato a ser mais uma estrela do agronegócio brasileiro”, exalta.
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Brasil avança em norma que libera exportação de subprodutos de bovinos e bubalinos
Proposta moderniza regras sanitárias e permite que empresas do Sisbi-Poa destinem materiais sem demanda interna a plantas com inspeção federal para exportação.

O Brasil deu um passo importante para ampliar o aproveitamento de subprodutos de bovinos e bubalinos destinados ao mercado internacional. O Projeto de Lei 4314/2016, de autoria do ex-deputado Jerônimo Goergen (RS), moderniza regras sanitárias e autoriza que empresas integrantes do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Sisbi-Poa) destinem ao exterior materiais que não têm demanda alimentar no mercado interno, desde que o envio seja feito por estabelecimentos com fiscalização federal.
A proposta, aprovada na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara, na terça-feira (18), recebeu ajustes de redação e correções técnicas apresentadas pelo relator, deputado Cabo Gilberto Silva (PL-PB).
Ele destacou que versões anteriores do texto acumulavam vícios materiais e erros de referência à Lei 1.283/1950, que regula a inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal no país, o que comprometia a clareza normativa e poderia gerar insegurança jurídica.
Adequação técnica e segurança jurídica

Deputado Cabo Gilberto Silva: “A remissão incorreta não decorre da vontade do legislador, mas de um erro material, passível de correção. Preservar a referência ao artigo 12 garante coerência e evita contradições interpretativas” – Foto: Divulgação/FPA
Cabo Gilberto apontou que substitutivos anteriores citavam equivocadamente o artigo 11 da Lei 1.283/1950, quando a referência correta deveria ser o artigo 12, que trata diretamente das condições de inspeção sanitária. Para o relator, manter o erro poderia abrir brechas interpretativas. “A remissão incorreta não decorre da vontade do legislador, mas de um erro material, passível de correção. Preservar a referência ao artigo 12 garante coerência e evita contradições interpretativas”, afirmou.
Ele também corrigiu dispositivos que, segundo sua avaliação, extrapolavam a competência do Parlamento ao abordarem temas típicos de regulamentação pelo Poder Executivo. “Alguns trechos invadiam competências próprias do Poder Executivo. Ajustamos essas inconsistências para preservar a constitucionalidade e a técnica legislativa”, explicou.
Exportação via estabelecimentos com inspeção federal
Com essas correções, o texto final deixa claro que estabelecimentos estaduais ou municipais integrados ao Sisbi-Poa poderão destinar subprodutos sem demanda local a plantas industriais com inspeção federal, habilitadas pelo Ministério da Agricultura para exportação.
A medida atende mercados externos que utilizam esses materiais em diversas aplicações industriais e contribui para ampliar o aproveitamento de resíduos do abate, fortalecer a cadeia produtiva e garantir conformidade sanitária nas operações internacionais.
Avanço regulatório
Para o deputado Cabo Gilberto, a atualização moderniza a legislação e posiciona o Brasil para aproveitar melhor oportunidades no comércio global. “A atualização aperfeiçoa a legislação, reforça o papel do Sisbi-Poa e contribui para que o país aproveite oportunidades no mercado internacional sem comprometer a fiscalização sanitária”, destacou o relator.
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Aliança Láctea debate crise do leite e traça estratégias para fortalecer o setor no Sul e Sudeste
Encontro em Florianópolis reuniu lideranças de vários estados para discutir competitividade, exportações, antidumping e ações conjuntas para reverter a crise da cadeia produtiva.

Os desafios do atual cenário da cadeia produtiva do leite e as estratégias para fortalecer o setor foram destaques na reunião da Aliança Láctea Sul Brasileira (ALSB), realizada na terça-feira (18), na sede do Sistema Faesc/Senar, em Florianópolis. O evento, realizado de forma híbrida, reuniu lideranças das federações de agricultura, representantes da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, bem como de governos estaduais e entidades dos três Estados do Sul, do Centro Oeste e de São Paulo, para discutir temas estratégicos para o futuro da cadeia produtiva do leite.
A abertura do evento reforçou a importância da atuação conjunta para a construção de políticas públicas que assegurem competitividade, sustentabilidade e crescimento para o segmento. Durante sua explanação, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc), José Zeferino Pedrozo, expressou a satisfação em sediar o encontro e expôs a preocupação com essa grave crise que afeta diretamente a economia rural e a sobrevivência de mais de milhares de famílias produtoras.

Registro das lideranças que participaram da reunião de forma presencial – Foto: Enzo Santiago
O dirigente lembrou da audiência pública, recém-realizada pela Alesc, para discutir a atual situação da cadeia produtiva. “A Assembleia Legislativa, por iniciativa do deputado estadual Altair Silva, promoveu essa audiência pública que oportunizou discussões relevantes sobre o tema. Representamos a Federação da Agricultura do nosso estado e, para nossa surpresa, a mobilização foi tão significativa que contou com mais de 700 pessoas. O evento resultou na criação de uma comissão que trabalhará estrategicamente junto ao governo federal e ao governo catarinense nas sugestões indicadas”.
Pedrozo também ressaltou que em janeiro deste ano levou à CNA, a preocupação com a queda constante no preço pago aos produtores. “A CNA imediatamente solicitou a aplicação de um antidumping provisório, pedindo a verificação dos preços do leite em pó importado da Argentina e do Uruguai”, afirmou.
As atividades seguiram com explanação do presidente da ALSB, Rodrigo Ramos Rizzo, que destacou a importância estratégica da reunião e mediou os debates. Entre os destaques da programação esteve a apresentação do Modelo de Negócios para exportação de lácteos, que focou nas oportunidades para ampliar a presença brasileira no mercado internacional e tornar a cadeia mais competitiva. A explanação foi conduzida pelo consultor Airton Spies e o objetivo é entregar a proposta ao CODESUL e ao BRDE.
“O documento foi elaborado pelo Grupo de Trabalho da Aliança está finalizado. Agora, estamos formatando para entregar de uma maneira formal ao CODESUL no mês de dezembro, com as adequações que cada uma das entidades julgar necessário”, afirmou Rodrigo Rizzo.
Outro item da pauta foi a apresentação do “Termo de Prorrogação” da ALSB, conduzida por Orlando Pessuti, representando o CODESUL. A Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, representada por José Carlos de Faria Cardoso Junior, ampliou o diálogo da ALSB com outros Estados interessados em participar e fortalecer a Aliança Láctea Sul Brasileira.
Também ganhou ênfase a apresentação do presidente da Cooperativa Central Gaúcha (CCGL), Caio Viana, e sua equipe que relataram o case sobre o status sanitário do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT) da cooperativa. O encontro abordou, ainda, a definição da direção da ALSB para o período 2026–2027, que ficará sob responsabilidade da Faep, e abriu espaço para contribuições gerais dos participantes, que ampliaram o diálogo para fortalecer a cadeia produtiva.
Encontro produtivo para o futuro do setor
Rodrigo Rizzo fez uma avaliação positiva da reunião, destacando que foi produtiva ao trazer diversos itens de pauta que refletem o cenário atual do setor. Segundo ele, um dos temas de impacto foi a questão da brucelose e da tuberculose, apontada como uma melhoria ainda necessária para aprimorar todo o processo e fortalecer o acesso ao mercado internacional.
Na visão de Rizzo, a união das entidades tem sido fundamental, especialmente para enfrentar a ação antidumping movida pela CNA, relacionada ao leite em pó importado, principalmente do Uruguai e da Argentina, que tem prejudicado o setor. “Esse produto tem entrado no país e afetado tanto as indústrias, que perdem competitividade, quanto os produtores, que enfrentam a queda nos preços”, destacou.

Reunião discutiu os desafios do atual cenário da cadeia produtiva do leite e as estratégias para fortalecer o setor – Foto: Silvania Cuochinski/MB Comunicação
O presidente da Aliança Láctea frisou, ainda, que é importante seguir atento ao monitoramento que que vem sendo realizado em relação à ação antidumping movido pela CNA. “Também discutimos sobre as exportações e competitividade. Somos competitivos em praticamente todos os aspectos. Temos alta qualidade e excelência na produção do nosso leite. O único ponto que ainda precisamos melhorar é o preço. O Brasil ainda não é competitivo nesse quesito. Isso depende de tempo e de um trabalho interno que precisa ser realizado.”, ressaltou.
O presidente Pedrozo também avaliou positivamente o encontro. Em sua mensagem final, reforçou o papel da Aliança Láctea Sul-Brasileira como um fórum essencial para a articulação institucional, debate técnico e construção de estratégias conjuntas capazes de contribuir para a superação da crise enfrentada pelo setor e para impulsionar o desenvolvimento da cadeia láctea. “Agradeço a participação de todos e espero que esse encontro represente mais um passo para a busca por soluções que fortaleçam o setor, promovendo o crescimento não apenas nos Estados envolvidos, mas em todo o Brasil. “
Representação
Também participaram e contribuíram com suas que contribuíram com análises e encaminhamentos essenciais para o fortalecimento da cadeia láctea, as seguintes autoridades e representantes de entidades: o presidente do Sindileite/SC e Conseleite/SC, Selvino Giesel; o secretário adjunto da Agricultura e Pecuária de Santa Catarina, Admir Edi Dalla Cort; o assessor técnico da CNA, Guilherme Dias; o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, Ronei Volpi; o presidente do Sindileite/PR, Elias José Zydek; o presidente do Sindilat/RS, Guilherme Portela; o presidente da Famasul, Marcelo Bertoni; representantes da Farsul e da Faep; o secretário da Agricultura e Abastecimento do Paraná, Marcio Fernando Nunes; o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul, Jaime Elias Verruck; o presidente do SILEMS, Abraão Giuseppe Beluzi; representantes da secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Rio Grande do Sul, da Secretaria de Articulação Nacional, representantes do Sindilat, do Sebrae/RS; Conseleite/RS; do Codesul/PR, da Epagri, da Cidasc; entre outros.
Bovinos / Grãos / Máquinas Pecuária no Pampa
Produtores da Campanha conhecem tecnologias para bovinos e gestão do clima
Tarde de Campo em Hulha Negra apresentou ferramentas de rastreabilidade, controle de pragas, nutrição animal e agrometeorologia aplicada ao campo.

Produtores da região da Campanha gaúcha tiveram a oportunidade de conhecer, na terça-feira (18), tecnologias aplicadas à pecuária de corte durante a Tarde de Campo organizada pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), por meio do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA). O evento ocorreu no Centro Estadual de Diagnóstico e Pesquisa em Sistemas Integrados e Meteorologia Aplicada (Cesimet).
O foco da atividade foram pesquisas e ferramentas práticas para manejo de bovinos, nutrição, controle de carrapatos, identificação biométrica e agrometeorologia, voltadas especialmente para produtores da região.
Segundo Gabriel Fiori, médico-veterinário do Cesimet e coordenador do evento, o objetivo é integrar pesquisa aplicada e necessidade do produtor. “Estamos apresentando uma seleção de experimentos e resultados-chave desenvolvidos pela Secretaria, após um longo período de interrupção desse tipo de atividade. Este momento simboliza a revitalização do Centro. As tecnologias e ferramentas demonstradas são direcionadas especialmente aos produtores da Campanha”, afirmou.

Fiori reforçou o papel estratégico do Cesimet para a região. “A força da pesquisa aplicada e da inovação está no coração do Pampa. Mais do que um centro de pesquisa, somos um espaço que integra produtores e poder público. Não é apenas um evento técnico, mas um ambiente de troca e construção de conhecimento conectado às tendências atuais”, completou.
Márcio Amaral, diretor-geral da Seapi, destacou a importância de conciliar produtividade e sustentabilidade. “O desafio é trabalhar em uma atividade que precisa aumentar a produtividade sem descuidar da questão ambiental. A pecuária está retomando força na região, e integrar lavoura e pecuária é o caminho ideal”, disse.
Agrometeorologia e planejamento do produtor
Flávio Varone, coordenador do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS), apresentou dados em tempo real de 102 estações meteorológicas no Estado. O sistema permite ao produtor acessar informações sobre irrigação, umidade do solo e temperatura, tanto pelo site quanto pelo aplicativo gratuito. “Hoje contamos com previsão do tempo e dados agroclimáticos integrados. O produtor gaúcho tem, na tela do celular, informações essenciais para planejar suas atividades”, explicou Varone.
Geovanna Klassen Gielow, estudante de Agronomia da Urcamp, avaliou o aprendizado. “A palestra sobre clima agrometeorológico foi essencial para ver na prática a aplicação do que aprendemos na sala de aula”, comentou.
Rastreabilidade e sanidade animal
O controle de carrapatos foi apresentado pelo pesquisador José Reck Junior, do IPVDF/Seapi. O Rio Grande do Sul mantém testes gratuitos há 40 anos para avaliar a eficácia de carrapaticidas, um diferencial do Estado. “As condições climáticas da região favorecem a proliferação do carrapato durante grande parte do ano, e a resistência aos produtos usados no campo é um desafio constante”, disse.
A identificação biométrica de bovinos foi demonstrada pelo CEO da QR Cattle, Flávio Mallmann. A tecnologia permite rastrear cada animal, registrar sua localização georreferenciada e o tempo de permanência em cada propriedade. “Quando o animal se desloca, o sistema registra automaticamente essa mudança. A plataforma deve estar disponível ao público a partir de janeiro de 2026”, afirmou.
Além disso, o evento abordou nutrição e reprodução de bovinos, reforçando a integração entre pesquisa aplicada e necessidade produtiva da região.



