Conectado com

Colunistas

Agronegócio e o mercado de trabalho

Tem sido o grande impulsionador da economia brasileira, em especial no período de baixo crescimento.

Publicado em

em

Foto: Divulgação

Um dos desdobramentos mais desejados do crescimento da economia de um país é a melhoria quantitativa e qualitativa do mercado de trabalho. Mais empregos, melhor remunerados, diminuindo a pobreza e a desigualdade.

O agronegócio brasileiro tem sido o grande impulsionador da economia brasileira, em especial no período de baixo crescimento – ou crescimento negativo – como verificado no passado recente. Seus números têm sido expressivos, seja em volume e valor da produção ou no superávit das exportações, razão pela qual interessa aprofundar a análise de seu impacto no mercado de trabalho.

Entre 2013 e 2022, o PIB do Brasil cresceu, em média, 0,4% por ano, enquanto o mundo cresceu 3% e os BRICS 3,4% ao ano. Em 2012 o Brasil produziu 166 Mt de grãos , volume que se elevou a 300 Mt em 2024, um incremento de 81%. Pelo seu efeito irradiador na economia, não fora o espetacular crescimento do agronegócio, provavelmente a economia de nosso país teria amargado índices ainda mais decepcionantes.

Estudo da FGV

No período citado acima, em alguns momentos a taxa de desemprego da economia superou 10%, e o crescimento da produção agrícola não foi acompanhada por aumento correspondente na oferta de empregos.

O Centro de Estudos do Agronegócio da FGV analisou o mercado de trabalho no agronegócio entre 2016 e 2023. De acordo com o estudo, em 2016 havia 14,34 milhões de pessoas ocupadas no setor e, em 2023, são 13,78 milhões, uma redução de 3,9% no período – queda de 558 mil postos de trabalho.

O estudo desdobrou a análise, segmentando as etapas do agronegócio. Assim, dentro da porteira, a agropecuária perdeu 889,2 mil postos (-9,6%). Esses números podem ser desdobrados na redução de 583 mil postos na agricultura (-9,7%,) e de 306 mil na pecuária (-9,5%). No segmento posterior, na agroindústria, ao contrário houve geração de 331 mil vagas (6,5%), com aumento de 18,2% na área de alimentos e bebidas e de 1,1% no setor de produtos não alimentícios.

Contradição

Verifica-se que a expansão do agronegócio no período não se fez acompanhar de acréscimo correspondente na mão-de-obra ocupada. O estudo da FGV explica as razões desses movimentos antípodas, mostrando melhoria da qualidade dos postos de trabalho dentro da porteira, vez que a redução ocorrida no período se concentrou nos postos informais de trabalho, com diminuição de 10,3% –redução de 924,3 mil postos.

Paralelamente, ocorreu uma expansão de 6,8% nos empregos formais dentro da porteira, o que corresponde a 366,3 mil novos postos de trabalho, com estrito cumprimento da legislação trabalhista. Os pesquisadores da FGV entendem que a tendência deve se manter no futuro pois, no segundo trimestre de 2023, foi registrado o maior número de vagas formais (5,7 milhões) e a maior taxa de formalidade (41,5%), desde o início do estudo (2016).

O mesmo fenômeno ocorreu na agroindústria, onde as vagas formais crescerem em uma maior proporção do que as informais (8,6% x 5,5%). Paralelamente, a remuneração média dos postos de trabalho no agronegócio aumentou, inclusive acima dos valores da economia brasileira. Entre 2016 e 2023, a remuneração média dos trabalhadores do agro cresceu 12,6% (em valores deflacionados), incrementando de R$ 1.793,69 para R$ 2.018,99. Para efeito de comparação, no mesmo período, a remuneração média no Brasil cresceu 4,3% (R$ 2.719,44 x R$ 2.836,40).

Fundamentos

Os ganhos de produtividade do agronegócio brasileiro lastreiam a sua sustentabilidade (social, ambiental e econômica), ancorando sua competitividade, permitindo a manutenção e ampliação de sua participação no mercado agrícola internacional, com adoção de conceitos como o ESG. Com isso, verifica-se que a produção agrícola brasileira – lastreada em tecnologias sustentáveis – reduz, progressivamente, seu impacto ambiental.

A preocupação social passa a integrar a cultura do agronegócio, com melhoria na educação, qualificação e produtividade dos colaboradores, ao tempo em que os avanços da agricultura 4.0 – como automação, digitalização e robotização – melhoram o ambiente de trabalho e a remuneração no setor. Porém, do ponto de vista meramente quantitativo, o corolário da automação e dos ganhos de produtividade dos colaboradores é a restrição da expansão numérica do mercado de trabalho. Ao invés de mais postos de trabalho, as projeções indicam que os trabalhadores dos setores do agronegócio serão mais bem qualificados, treinados e capacitados, com melhor remuneração.

Fonte: Por Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e da Academia Brasileira de Ciências Agrárias

Colunistas Opinião

Microbioma do solo, sanidade e produtividade das culturas

Estudos recentes mostraram que o microbioma da rizosfera é significativamente influenciado pelo metabolismo das raízes das plantas.

Publicado em

em

Foto: Divulgação

Por Décio Luiz Gazzoni, engenheiro agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja, membro do Conselho Científico Agro Sustentável e da Academia Brasileira de Ciência Agronômica

Chamamos de rizosfera aquela porção do solo mais próxima das raízes das plantas. Alguns solos têm maior capacidade de apoiar a supressão de agentes causadores de doenças de plantas do que outros, ajudando a prevenir o estabelecimento de patógenos na rizosfera das plantas. No entanto, as características que definem estes solos são, em grande parte, desconhecidas.

O ambiente da rizosfera é complexo, composto principalmente por carbono, e também contendo diversos nutrientes, que são fundamentais para abrigar uma comunidade microbiana diversificada, responsáveis pela promoção do crescimento e da saúde das plantas. O microbioma da rizosfera serve como primeira linha de defesa contra patógenos de plantas, um fator de sustentabilidade para os sistemas de produção agrícolas.

Por causa disso, avançar em nossa compreensão sobre como as variações na composição dos microbiomas da rizosfera influenciam as doenças das plantas é de suma importância, para fundamentar estratégias inovadoras que melhorem a sanidade e a produtividade das plantas. Uma técnica agronômica clássica é a rotação de culturas, que propicia a mitigação dos impactos negativos dos agentes patogênicos na produção agrícola, quebrando a ligação entre a planta hospedeira e os patógenos.

Mas existem novidades, como comunidades microbianas sintéticas, chamadas de SynComs, além de metabólitos produzidos pelas raízes. São estratégias promissoras para combater patógenos presentes no solo, responsáveis por causar doenças de plantas. Os SynComs estão sendo desenvolvidos como bioprodutos para controlar doenças ocasionadas por patógenos presentes no solo. No entanto, ainda há um longo percurso para compreender os impactos dos SynComs na rizosfera das culturas e sua efetividade para a sanidade vegetal.

Estudos recentes mostraram que o microbioma da rizosfera é significativamente influenciado pelo metabolismo das raízes das plantas. Como resultado, a melhoria do estado da sanidade de um vegetal depende de quais populações microbianas são capazes de aproveitar os metabólitos produzidos pelas raízes.

Estudos conduzidos pela equipe do Dr. Yanyan Zhou, em laboratório e, posteriormente, em estufas e a campo, investigaram o efeito do manejo – comparando monocultura e rotação – sobre a capacidade dos microbiomas da rizosfera em suprimir a podridão da raiz do amendoim. Em comparação com as rotações de culturas, a monocultura resultou em conjuntos microbianos que foram menos eficazes na supressão de doenças de podridão radicular.

Além disso, o esgotamento dos principais organismos da rizosfera na monocultura, reduziu a capacidade de proteger as plantas contra os agentes patogênicos. Para contornar o problema, os pesquisadores promoveram a suplementação de cepas esgotadas, o que restaurou a resistência da rizosfera ao patógeno.

O mérito das pesquisas do Dr. Zhou não está na sua originalidade, mas na consolidação do conhecimento do papel dos micróbios nativos do solo no combate às doenças e no apoio à saúde das plantas, e indicam a importância da rotação de culturas, e o potencial da utilização de inóculos microbianos, para regenerar a capacidade natural do solo para combater as doenças das plantas.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo na suinocultura acesse a versão digital de Suínos clicando aqui. Boa leitura!

Fonte: O Presente Rural com Décio Luiz Gazzoni
Continue Lendo

Colunistas

Influência do fenômeno El Niño sobre o seguro rural no Brasil

Meio rural é um dos mais afetados pelas condições climáticas e o setor securitário começa a considerar novas variáveis para equação de riscos.

Publicado em

em

Fotos: José Fernando

Foto: Fernando Dias

O setor do agronegócio é o mais impactado com os eventos climáticos e com a passagem do El Niño pelo país. Provocando altas temperaturas, chuvas fortes e enchentes, o fenômeno contribuiu de forma crescente com o panorama de indenizações securitárias, como pode ser observado no primeiro semestre deste ano, em que o ramo do seguro rural pagou R$ 997,7 milhões em indenizações.

Para o segundo semestre, com a chegada da La Niña, o setor rural enfrentará novos desafios, já que os eventos climáticos mudaram de CEP, trazendo diferentes cenários para regiões brasileiras.

Deste modo, o setor securitário começa a considerar novas variáveis para equação de riscos no ramo de seguros rurais, uma vez que o pagamento das indenizações vem se mostrando crescente, sendo necessária uma gestão de risco estruturada para atender a alta demanda.

Para auxiliar nesta gestão, o setor segurador tem como aliado ferramentas de controle de dados, como por exemplo o programa de o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), criado em 1996, que desenvolveu vários recursos que podem ser utilizados para apuração dos riscos e vem auxiliando o setor agrícola a mapear áreas e projetar cenários agrícolas futuros, no intuito de reduzir ocorrências de perdas e eventuais fraudes.

Além do Zarc, foi instituído, em 2012, o Registro Nacional de Sinistros do Seguro Rural (RNS Rural). Trata-se de uma base compartilhada entres as empresas associadas, desenvolvida pela Cnseg (Confederação Nacional das Seguradoras), que permite o compartilhamento de informações de sinistros do ramo Rural – identificação, histórico, coincidências e desvios.

ZARC e RNS Rural são programas importantes, que podem auxiliar as seguradoras no aperfeiçoamento dos processos de subscrição do

Foto: Divulgação

risco, precificação, regulação de sinistros e prevenção à fraude. Para especialistas, ambos programas viabilizam melhorias no processo de contratação de seguros e coberturas, bem como a regulação de sinistros.

Além do aumento dos sinistros em decorrência dos eventos climáticos que o setor rural vem sofrendo, houve queda nas arrecadações dos prêmios no primeiro semestre, já que a subvenção, distribuída pelo Governo Federal via Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), foi abaixo do estipulado como essencial pelo mercado.

Porém, o cenário pode mudar, pois na última semana do mês de julho o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) divulgou a liberação de R$210 milhões destinados exclusivamente para região do Rio Grande Sul, através do Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), para apoiar a contratação de aproximadamente 30 mil apólices do seguro rural.

É fato que eventos climáticos influenciam o mercado securitário, em especial o setor rural, sendo um dos setores mais frágeis e afetados pelas condições climáticas, conforme observado nos últimos meses. Diante disso, é necessário ampliar os debates acerca da gestão de risco, promovendo diálogo entre o setor privado e público, a fim de impulsionar o mercado segurador e a disseminação da importância do papel do seguro na sociedade. Referências bibliográficas estão com a autora.

Fonte: Por Bruna Carolina Bianchi de Miranda, advogada. 
Continue Lendo

Colunistas

Desafios e perspectivas na pecuária de corte nacional

País deverá contar com um rebanho de 253 milhões de cabeças até 2030, com um volume crescente de bovinos terminados em confinamento.

Publicado em

em

Foto: Shutterstock

Com a previsão de produzir 11 milhões de toneladas de carne bovina em 2024, segundo o boletim Gain Report, do USDA, o Brasil reafirma posição entre os gigantes da pecuária mundial. Este cenário reflete não apenas o potencial produtivo nacional, mas também reforça o peso do agronegócio na Economia, hoje responsável por um PIB de R$ 2,5 trilhões.

Olhando para o futuro, o país deverá contar com um rebanho de 253 milhões de cabeças até 2030, com um volume crescente de bovinos terminados em confinamento. Demanda, essa, impulsionada por países como China, Egito e outros do Oriente Médio, o que abre novas oportunidades de exportação.

Continuar com a produção exponencial de carne bovina dependerá de avanços na eficiência produtiva do rebanho e adoção de inovações tecnológicas, além uma boa capacidade de resposta à crescente pressão por práticas sustentáveis.

À medida que a conscientização ambiental se intensifica, consumidores de países reguladores exigem dos produtores métodos capazes de reduzir as emissões de gases de efeito estufa e garantir a rastreabilidade dos produtos. Programas como o “Pecuária Baixo Carbono” (Programa ABC) são ótimos exemplos de adaptação a essas novas exigências.

Além disso, as inovações tecnológicas, com destaque ao uso de inteligência artificial e monitoramento remoto, deverão nortear a gestão das propriedades rurais. O melhoramento genético também será crucial, por meio do uso de biotecnologias para aumentar a resistência a doenças e melhorar a eficiência alimentar dos rebanhos e a qualidade da carne e precocidade.

Mas nem tudo poderá ser um mar de rosas, o aumento dos custos de produção pode afetar a demanda interna, levando os consumidores a buscar proteínas mais baratas. A mudança climática, por sua vez, também trará a incerteza das implicações dos eventos extremos na saúde dos rebanhos e na disponibilidade de pastagens.

Novas regulamentações ambientais e de bem-estar animal também moldarão a pecuária do futuro, exigindo adaptações e constante investimento no manejo racional. Tais transformações poderiam resultar em uma consolidação do setor, com grandes empresas ampliando operações, enquanto pequenos produtores enfrentarão dificuldades para se manterem competitivos.

Por fim, não podemos ignorar o impacto do cenário econômico e geopolítico global sobre os preços das commodities e a estabilidade dos mercados de exportação. Dentro da porteira, é imprescindível entender o ciclo pecuário para antecipar os momentos de alta e baixa dos preços do boi gordo e as oportunidades propiciadas em cada momento.

Em suma, a pecuária de corte no Brasil tem um futuro promissor, mas repleto de desafios que exigirão inovação e jogo de cintura. Para a pecuária brasileira continuar a se destacar no agronegócio global, é fundamental a todos os stakeholders unirem-se em prol de práticas sustentáveis, eficiência produtiva e gestão inteligente, assim, garantindo a competitividade do país no cenário internacional.

Fonte: Por Valdomiro Poliselli Junior, titular da VPJ Pecuária.
Continue Lendo

NEWSLETTER

Assine nossa newsletter e recebas as principais notícias em seu email.