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Agronegócio: a importância de mais investimentos e crédito para o setor em 2024
Crédito é fundamental para que produtores e agronegócio continuem alimentando o mundo e sendo protagonistas da economia brasileira.

Com o desafio de alimentar 10 bilhões de pessoas até 2050 e o Brasil atingindo a marca de US$ 339 bilhões em exportações, o agronegócio entra em 2024 com a missão de ser cada vez mais produtivo, sustentável e tecnológico. Desta forma, torna-se essencial tornar o ecossistema de crédito mais democrático e acessível, para que seja possível investir cada vez mais em pesquisa e tecnologia no campo.
Não há dúvidas que a agricultura evoluiu muito, afinal, em 40 anos, o Brasil saiu do âmbito de importador de alimentos para um dos principais exportadores do mundo. Dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostraram que o país registrou um superávit de US$ 98,8 bilhões em 2023, maior valor desde o início da série histórica, que começou em 1989. Apesar disso, ainda há pontos a serem melhorados na profissionalização do campo, na gestão da propriedade, sustentabilidade, “tecnologização” e, como não poderia deixar de citar, o acesso ao crédito.
A conta é simples: com o crescimento e a importância do agronegócio para o PIB do Brasil, aumenta também a necessidade dos produtores de terem mais dinheiro em caixa, seja para custeio de produção ou para investimentos em novas áreas, maquinários, tecnologia, armazenagem e etc. Assim, o crédito se torna fundamental para que os produtores e o agronegócio brasileiro continuem alimentando o mundo e sendo protagonistas da nossa economia.
Cenário do crédito em 2023 e expectativa para 2024
Marcado pelas dificuldades econômicas e orçamentos reduzidos, sobretudo para as operações oficiais de crédito, o ano de 2023 registrou diversos momentos em que os programas de crédito rural se encontravam suspensos, sem a possibilidade de acesso por parte dos produtores de grande porte, bem como, para os pequenos agricultores familiares. Com essas frequentes suspensões e dificuldades de acesso, o mercado privado foi o grande aliado do produtor. Os Fundos de Investimentos nas Cadeias Agroindustriais (Fiagros) tiveram um salto de investimento de 126% entre os meses de setembro de 2022 e de 2023, enquanto as Cédulas de Produto Rural (CPR) aumentaram 54% em estoque no mesmo período. Alguns produtores também recorreram a plataformas de crowdfunding e peer-to-peer lending.
O expressivo aumento na utilização das ferramentas privadas mostra que a parceria entre o agronegócio e o mercado financeiro privado deu muito certo e tende a crescer. Com a previsão de que a Selic permaneça próxima aos 9,00%, ao final de 2024, os produtores irão demandar ainda mais recursos com taxas de juros competitivas ao crédito rural. Os desafios fiscais e monetários que o país enfrentou em 2023, e continuará enfrentando em 2024, podem colocar algumas políticas agrícolas em risco.
No último plano safra as taxas de juros variaram entre 7% a 12,5% ao ano (subvencionada), contudo, a realidade é que esse orçamento não é suficiente para o tamanho do agronegócio brasileiro. Como alternativa, alguns produtores recorrem a outras fontes de financiamento, para ajudá-los na produção. Atualmente, os produtores encontram taxas de mercado (não subvencionadas) próximas a 15% ao ano para o crédito rural, o que para muitas atividades agropecuárias, ainda é possível encaixar em suas margens. Nessa linha, a tese de equity crowdfunding (investimento coletivo) no agronegócio, começa a ser vista como um importante parceiros para que produtores consigam investir mais em suas operações, aumentando a eficiência e produtividade.
Agro em constante desenvolvimento
Nesta circunstância, em que crédito rural tem sido um instrumento importante para promover a produtividade e o aumento de renda no Brasil, a política criou programas voltados para o apoio e desenvolvimento do agronegócio brasileiro. Com maiores investimentos em tecnologia, aumentou-se a produção agrícola e compreensão das melhores práticas de manejo e aplicação de fertilizantes e defensivos, impactando diretamente na produtividade agrícola, melhorando a eficiência dos recursos e insumos.
No entanto, o acesso a capital ainda é um desafio para o avanço e prosperidade do agro, é necessário mais dinheiro para quem contribui muito para economia. Em 2023, o Brasil registrou superávit recorde na balança comercial do agro – o maior da série histórica, que começa em 1989, e não podemos permitir que o desperdício, a falta de tecnologia, investimentos e gestão deixem de alimentar pessoas no Brasil e no mundo. Estamos com a faca e o queijo na mão.

Henrique Galvani, CEO e cofundador da Arara Seed (Foto: Divulgação)

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.
O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.
Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock
Reposicionar para crescer
Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.
Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.
O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.
Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.
Digital: o novo campo do agro
As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels
compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.
Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.
Promoções e estratégias de varejo
Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.
Marketing como elo da cadeia produtiva
A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso
Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.
Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel
E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.
Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.
Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.
Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.
Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.
Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.
Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.
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Meio ambiente e cooperativismo
Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.
As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.
Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.
A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.
O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.



