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Agroindústrias exigem mais que diploma: elas querem profissionais completos, técnicos e humanos

Saber comunicar, se posicionar, interpretar ambientes e conviver com diferentes perfis é tão importante quanto entender sobre sanidade ou nutrição.

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Fotos: Divulgação

Nos bastidores de cada granja, agroindústria ou cooperativa brasileira, uma transformação silenciosa está em curso: as exigências para contratação de profissionais técnicos evoluíram, e muito. Se antes o diploma de graduação bastava, hoje ele é apenas o ponto de partida.

Em plena expansão, o setor agropecuário busca profissionais com formação contínua, competências práticas e habilidades interpessoais bem desenvolvidas — especialmente nas áreas de produção animal. Saber comunicar, se posicionar, interpretar ambientes e conviver com diferentes perfis é tão importante quanto entender sobre sanidade ou nutrição.

A formação acadêmica é generalista — e insuficiente

A base universitária brasileira oferece uma formação ampla e generalista. Cursos de Medicina Veterinária, Zootecnia e Agronomia abordam dezenas de disciplinas: um pouco de clínica, um pouco de produção, um pouco de saúde pública, de grandes e pequenos animais.

No entanto, essa abordagem fragmentada não aprofunda conteúdos críticos ao mercado, como avicultura, suinocultura, ambiência ou biosseguridade. Na prática, o recém-formado chega às empresas sem conhecer o dia a dia de uma unidade produtiva.

A restrição de acesso a granjas e sistemas comerciais, por conta da biosseguridade, agrava o problema. O estágio curricular — muitas vezes no último semestre — é o único contato real com a produção para muitos alunos.

“O profissional cai numa agroindústria sem entender o funcionamento do sistema. Faltam repertório técnico, vivência prática e maturidade para lidar com a rotina de campo.”

 

A especialização como sinal de maturidade profissional

Diante desse abismo entre academia e mercado, a pós-graduação torna-se essencial. Seja uma especialização técnica, um MBA, um curso de extensão ou um mestrado, o que o currículo precisa mostrar é clareza de propósito, iniciativa e compromisso com o desenvolvimento.

Muitos profissionais já chegam com duas ou três especializações — e isso não é exagero. É um indicativo de que estão em constante evolução, acompanhando as demandas de um setor que não para de inovar.

Além disso, participar de congressos, webinários, feiras e capacitações mostra atitude e construção de rede. No fim, a empresa vê além do papel: ela vê posicionamento.

O novo perfil: técnico, prático, humano

Hoje, agroindústrias querem um profissional que seja técnico, prático e relacional. Um perfil que une conhecimento com comportamento. Habilidade com empatia. Execução com comunicação.

Chamamos isso de profissional completo — aquele que:

  • Sabe o que faz (conhecimento)
  • Sabe como fazer (habilidade)
  • Faz com autonomia, critério e respeito (atitude)

Esse modelo é conhecido como CHA — Conhecimento, Habilidade e Atitude. Sem um desses três, a competência profissional se rompe. E é aí que muitos escorregam.

Comunicação: a ferramenta mais negligenciada

Saber se comunicar, hoje, é uma habilidade técnica. Isso vale para quem interage com o colaborador da granja, com o gerente técnico ou com o produtor rural.

Cada um exige uma abordagem distinta, mas todos demandam clareza, escuta ativa, respeito e objetividade. Comunicação não é só o que se fala — é o que o outro entende. E se ele não entendeu, a falha é de quem falou, não de quem ouviu.

“Gírias, modismos, palavras da moda sem profundidade — tudo isso pode prejudicar a conexão e gerar ruído.”

Além disso, a comunicação não verbal pesa. O jeito de olhar, gesticular, se portar, cruzar os braços ou virar os olhos diz muito. Postura corporal, tom de voz e expressão facial formam a primeira impressão. E ela é difícil de refazer.

Saber identificar quem decide

Outro ponto pouco falado, mas crucial: a capacidade de identificar o decisor. Em muitas situações, quem interage com você não é quem toma a decisão. Saber mapear essa dinâmica, comunicar-se estrategicamente e com discernimento é diferencial competitivo.

Essa leitura organizacional é parte da inteligência relacional — uma soft skill que separa bons profissionais de líderes em ascensão.

Proatividade com critério: a chave para crescer

Ser proativo não é sair resolvendo tudo. É agir com inteligência, dentro dos limites da função e respeitando o fluxo da organização.

Há quem confunda “ser ágil” com “ser apressado”. O colaborador que identifica um problema e propõe soluções viáveis é bem-visto. O que atropela processos, ignora regras e tenta aparecer a qualquer custo, não dura.

“Proatividade não é heroísmo. É responsabilidade com ação e com o time.”

Contratado pelo currículo, mantido pelo comportamento

As principais causas de desligamento não são técnicas — são comportamentais. Falta de postura, de comunicação, de empatia ou de convivência comprometem a performance, mesmo em profissionais tecnicamente excelentes.

Por outro lado, o colaborador que entrega tecnicamente, se comunica bem, respeita as hierarquias e cresce com o time, torna-se indispensável.

Conclusão: o novo agro exige um novo profissional

O agro brasileiro está cada vez mais exigente — e isso é ótimo. Significa que estamos evoluindo. Mas para acompanhar esse movimento, os profissionais também precisam se reinventar.

A graduação forma. A pós-graduação direciona. Mas é o comportamento que sustenta a carreira.

“O mercado não quer só especialistas. Quer comunicadores técnicos, líderes éticos, resolutores de problemas e profissionais que entendem o que fazem, e por que fazem.”

Essa é a mensagem que deixamos: o profissional do futuro já está sendo avaliado hoje.

Fonte: Por Wellinton Molinetti e Gabriela Bittencourt, médicos-veterinários e professores do grupo PPG Educação.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

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Foto: Claudio Pazetto

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.

O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock

Reposicionar para crescer

Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.

Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.

O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.

Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.

Digital: o novo campo do agro

As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels

compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.

Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.

Promoções e estratégias de varejo

Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.

Marketing como elo da cadeia produtiva

A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.

Fonte: O Presente Rural com Felipe Ceolin
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso

Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

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Foto: Juliana Sussai

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.

Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel

E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.

Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.

Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.

Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.

Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.

Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.

Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.

Fonte: Assessoria AgroTravel
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Meio ambiente e cooperativismo

Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

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Foto: Divulgação/Sistema Faep

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).

Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.

As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.

Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.

A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.

O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.

Fonte: Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
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