Notícias Novas gerações no campo
AgroBIT Brasil mostra como a tecnologia contribui para a sucessão familiar no agro
Especialistas apontam as soluções tecnológicas que vêm influenciando as novas gerações a permanecerem no campo.

A tecnologia vem transformando o campo não só com a extensa oferta de soluções inovadoras para o desenvolvimento do agronegócio, mas também por atrair as novas gerações para atuarem nas propriedades rurais.
Segundo a última edição da Pesquisa Hábitos do Produtor Rural realizada pela Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA), a idade média dos produtores brasileiros em 2017 era cerca de 46,5 anos, 3,1% menor do que o identificado no estudo anterior, realizado em 2013. O resultado foi impulsionado pelo aumento da presença de jovens entre 20 anos e 35 anos, que saltou de 15% para 27%. Uma tendência positiva que precisa ser ampliada já que, de acordo com uma estimativa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), cerca de 40% dos produtores rurais devem deixar de atuar nas atividades até 2030.
A influência da tecnologia no processo de rejuvenescimento do campo via sucessão familiar é tema de Painel no AgroBIT Brasil Evolution 2021, que acontece nos próximos dias 9 e 10 de novembro. O Painel: “A tecnologia como aliada aos processos de sucessão familiar em propriedades rurais” será realizado no dia 9 de novembro, das 9h55 às 10h45.
A consultora em Sucessão Familiar para Produtores, Mariely Biff, é uma das palestrantes do evento que atuará também com moderadora do painel. O debate contará com a presença de Hugo Monteiro, consultor de Empresas Familiares no Agro, Francieli Cristina Grings, produtora rural (Sistema Faep/Senar PR) e Silvio Sugeta, da Semegrão Comercial Agrícola.
Para a consultora Mariely Biff, a tecnologia ajuda de forma expressiva o processo de sucessão e, em duas vertentes, pois atrai os jovens e também profissionaliza o negócio. “Com o avanço da tecnologia nas propriedades rurais, eu consigo inserir o jovem de uma maneira mais rápida, aumentando as chances de que o processo de sucessão tenha êxito. Antigamente, o campo era muito braçal, o que dificultava a inserção das novas gerações dentro do negócio. O segundo ponto que a tecnologia colabora é na questão de profissionalizar a empresa familiar rural. Às vezes ainda temos produtores que atuam de maneira mais tradicional e eles ainda não têm o que chamamos de virada de chave para se tornar um empresário rural e enxergar a propriedade como uma empresa. E a tecnologia colabora porque ela facilita a tomada de decisão com os números, os relatórios, os sistemas, tornando-a mais assertiva, além de mais célere, o que é importante, pois sabemos que o agro é muito dinâmico”, explica Mariely.
Ao profissionalizar a gestão do negócio rural com sistemas de controle, organização, administrativo e financeiro, alguns até linkados com o sistema tributário, obtém-se clareza de resultados, desde o processo de compras dos insumos até a comercialização das commodities.
De acordo com Mariely, a tecnologia facilita ter uma transparência na prestação de contas, na tomada de crédito e de decisão. “Temos também os drones, a parte sensoriamento remoto e todas as questões que envolvem a melhoria dos processos, como análise de solo, combate a pragas, sensoriamento climático, tudo isso a tecnologia proporciona no campo. Essas inovações atraem os herdeiros. O campo está mais atrativo, mais dinâmico, o que favorece a inserção da nova geração e, além do que, hoje em dia você não precisa permanecer o tempo todo na propriedade, você pode conduzir a gestão do negócio do escritório da fazenda, que fica na cidade, na casa ou de qualquer lugar, porque temos a tecnologia no celular, no computador, o que facilita muito o processo”, acrescenta Mariely.
Conflitos de gerações
O processo de sucessão familiar às vezes esbarra no conflito de gerações. E o que fazer nesta hora em que os pensamentos diferem entre pais e herdeiros? “Pensamentos diferentes entre as gerações sempre vão existir, porque cada uma vive em uma época diferente, isso é normal, o que não pode deixar é que os conflitos se tornem embates. Então é pensar sempre em dialogar, ter sempre uma gestão participativa, em trazer a nova geração para a mesa para colaborar com a tomada de decisão. As gerações diferentes não são rivais, elas podem se complementar. Pegar a experiência que o gestor mais antigo tem em momentos de crise e toda sua experiência da construção do legado e trazer, da geração que está entrando no negócio, todo este gás que eles têm de inovação, de tecnologia, de rapidez para fazer as coisas. Há sim possibilidade de equilibrar isso e minimizar os conflitos, com governança em estrutura, em processos, não em pessoas. O processo de profissionalização facilita muito a diminuição de conflitos”, afirma a consultora.
Quando não há herdeiros interessados em assumir o negócio, Mariely recomenda a contratação de um gestor do mercado, um CEO, que será o sucessor operacional. Neste caso, os herdeiros vão auditar a gestão do colaborador que está administrando o negócio, pode-se criar um comitê gestor ou um conselho de administração na estrutura da empresa.
“São vários Brasis dentro do Brasil, a gente tem realidades diferentes, sucessão no Mato Grosso é uma, no Rio Grande do Sul é outra porque o tamanho da área difere, o grau de profissionalização do negócio, a cultura, o tradicionalismo das famílias também, em cada lugar tem uma realidade diferente. Eu sempre gosto de dizer que não é o tamanho da área, mas sim o grau de profissionalização da família e do negócio que vai fazer com que ele continue. Às vezes temos uma família que tem 5 mil hectares e que não tem organização nem profissionalização, mas também temos famílias que têm 50 hectares e sabem tudo na palma da mão, o filho já está participando do negócio, tem um controle financeiro, uma organização e sabe qual é o resultado real do negócio”, finaliza Mariely.

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Brasil lança plataforma sobre saúde dos solos e reforça liderança em agricultura sustentável
Ferramenta da Embrapa reúne mais de 56 mil análises e mostra que dois terços das áreas avaliadas no País apresentam solos saudáveis ou em recuperação.

Foi lançada na última segunda-feira (17), na Agrizone, a Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa durante a COP 30, em Belém (PA), a Plataforma Saúde do Solo BR – Solos resilientes para sistemas agrícolas sustentáveis. A cerimônia ocorreu no Auditório 1 e marcou a apresentação oficial da tecnologia criada pela Embrapa, que reúne pela primeira vez informações sobre a saúde dos solos brasileiros em um ambiente digital e de acesso público.
Na abertura, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, destacou o simbolismo de apresentar a novidade dentro da Agrizone, espaço que abriga soluções de baixo carbono. “A Agrizone é o começo de uma nova jornada. Estamos mostrando para o mundo inteiro, de forma concreta, que temos tecnologia para desenvolver uma agricultura cada vez mais resiliente às mudanças climáticas”, afirmou.
Para ela, o lançamento reforça o protagonismo do Brasil como líder global em inovação sustentável para a agricultura e os sistemas alimentares.
A Plataforma disponibiliza dados de saúde do solo por estado e município e já reúne cerca de 56 mil amostras, provenientes de 1.502 municípios de todas as regiões do País. O sistema foi construído a partir da geoespacialização dos dados gerados pela BioAS – Bioanálise de Solos, explicou a pesquisadora da Embrapa Cerrados, Ieda Mendes. A ferramenta permite filtros por estado, município, ano, culturas e texturas de solo, além de comparações entre diferentes cultivos. Também gera mapas e gráficos baseados nas funções da bioanálise, como ciclagem, armazenamento e suprimento de nutrientes.
Solos mais saudáveis e produtivos
Os primeiros mapas revelam que predominam no Brasil solos saudáveis ou em processo de recuperação. “Somando solos saudáveis e solos em recuperação, vemos que 66% das áreas analisadas apresentam condições muito boas de saúde. Apenas 4% das amostras representam solos doentes”, afirmou Ieda.
Mato Grosso lidera o número de amostras (10.905), seguido por Minas Gerais (9.680), Paraná (7.607) e Goiás (6.519). O município com maior participação é Alto Taquari (MT), com 1.837 amostras.
A pesquisadora também destacou a forte relação entre saúde do solo e produtividade. No Mato Grosso, a integração dos dados da BioAS com índices do IBGE mostrou que o aumento na proporção de solos doentes está diretamente associado à queda na produção de soja. “Cada 1% de aumento em solos doentes representa uma perda média de 3,1 kg de soja por hectare”.
Em contraste, análises exclusivamente químicas não apresentaram correlação com a produtividade atual, o que indica que o limite produtivo da agricultura brasileira está cada vez mais ligado à qualidade biológica dos solos.
Ieda ressaltou ainda a participação dos produtores na construção da ferramenta. “Temos contribuições que vão do Acre ao extremo sul do Rio Grande do Sul. Ter um trabalho publicado em revistas técnicas é muito bom, mas ver uma tecnologia sendo adotada em todo o Brasil é maravilhoso”, afirmou.
A expectativa é transformar a plataforma, no futuro, em um observatório nacional da saúde dos solos, capaz de gerar relatórios detalhados por município e conectar pesquisadores, laboratórios e agricultores.
A Plataforma Saúde do Solo BR foi desenvolvida com base nos dados da BioAS, tecnologia lançada em 2020 e criada pela Embrapa Cerrados em parceria com a Embrapa Agrobiologia. O método integra indicadores biológicos (atividade enzimática), físicos (textura) e químicos (fertilidade e matéria orgânica).
O banco de dados atual resulta de uma colaboração com 33 laboratórios comerciais de análise de solo, integrantes da Rede Embrapa e usuários da tecnologia.
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Pressões ambientais externas reacendem disputa sobre limites da autorregulação no agronegócio
Advogada alerta que auditorias privadas e acordos setoriais, como a Moratória da Soja, podem impor obrigações além da lei, gerar assimetria concorrencial e tensionar princípios constitucionais.

A intensificação de exigências internacionais para que produtores brasileiros comprovem de forma contínua a inexistência de dano ambiental como condição para exportar commodities, especialmente a soja, reacendeu um debate jurídico sensível no país. Para a advogada especialista em Direito Agrário e do Agronegócio, Márcia de Alcântara, parte dessas exigências ultrapassa a pauta da sustentabilidade e pode entrar em choque com princípios constitucionais e da ordem econômica, sobretudo quando assumem caráter padronizado e coordenado por grandes agentes privados.
Segundo ela, quando tradings internacionais reunidas em associações que concentram parcela expressiva do mercado firmam pactos com auditorias e monitoramentos próprios, acabam impondo obrigações ambientais adicionais às previstas em lei. “Esses acordos privados transferem ao produtor o ônus de provar continuamente que não causa dano ambiental, invertendo a presunção de legalidade e de boa-fé de quem cumpre o Código Florestal e demais normas”, explica.
Márcia observa que esse tipo de exigência, quando se torna condição para o acesso ao mercado, tensiona princípios como a segurança jurídica e o devido processo. “Quando a obrigação é padronizada e coordenada por agentes dominantes, deixa de ser mera cláusula contratual e passa a se aproximar de uma restrição coletiva, com efeito de boicote”, afirma.
Moratória da Soja e coordenação setorial

Advogada Márcia de Alcântara: “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”
Entre os casos emblemáticos está a chamada Moratória da Soja, que proíbe a compra do grão oriundo de áreas desmatadas após 2008 na Amazônia. Para a advogada, o modelo de funcionamento da moratória se assemelha a uma forma de regulação privada, com possíveis implicações concorrenciais. “Há três pontos críticos nesse arranjo: a coordenação por associações que concentram parcela relevante do mercado; a troca de informações sensíveis e listas de exclusão que não são públicas; e a imposição de padrões mais severos do que a legislação brasileira. Esse conjunto pode configurar conduta anticoncorrencial, conforme o artigo 36 da Lei 12.529/2011”, avalia.
Ela acrescenta que cobranças financeiras ou bloqueios comerciais aplicados a produtores que não apresentem documentação adicional de regularidade ambiental podem representar penalidades privadas sem respaldo legal. O tema, segundo Márcia, já vem sendo acompanhado tanto pela autoridade antitruste quanto pelo Judiciário.
Marco jurídico recente
Nos últimos meses, a controvérsia ganhou contornos institucionais. Uma decisão liminar do ministro Flávio Dino, no Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a suspensão de processos judiciais e administrativos ligados à Moratória da Soja até o julgamento de mérito, para evitar decisões contraditórias e permitir uma análise concentrada do conflito. Paralelamente, o Cade decidiu aguardar o posicionamento do STF antes de seguir com as investigações, embora mantenha atenção sobre a troca de informações sensíveis entre empresas durante o período.
Entidades como a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Aprosoja-MT defendem que a atuação concorrencial do Estado não seja paralisada. Elas argumentam que há indícios de coordenação de compra e que a suspensão integral das apurações pode esvaziar a tutela concorrencial.
Entre os principais questionamentos estão a extrapolação normativa de acordos privados, a falta de transparência nos critérios de exclusão e a substituição da regulação pública por padrões privados de alcance global. “Esses arranjos acabam por substituir o papel do Estado, criando regras opacas e sem devido processo ao produtor”, pontua Márcia.
Possíveis desfechos

Foto: Gilson Abreu
A especialista mapeia dois possíveis desfechos para o impasse. Caso o STF decida a favor dos produtores, será reforçada a soberania regulatória do Estado brasileiro, com o reconhecimento de que critérios ambientais devem ser definidos por normas públicas claras e transparentes. A decisão poderia irradiar efeitos para outras cadeias produtivas, como carne, milho e café, estabelecendo parâmetros de ESG proporcionais e auditáveis. Em sentido contrário, validar a autorregulação privada abriria espaço para padrões globais com camadas adicionais de exigência, elevando custos de conformidade e reduzindo a concorrência.
Para Márcia, o Brasil já conta com um dos arcabouços ambientais mais robustos do mundo. O Código Florestal impõe a manutenção de Reserva Legal e Áreas de Preservação Permanente, exige o Cadastro Ambiental Rural georreferenciado e conta com sistemas de monitoramento por satélite e mecanismos de compensação ambiental.
Além disso, o país dispõe de políticas estruturantes como a Política Nacional do Meio Ambiente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) e a Política Nacional sobre Mudança do Clima. “Esse conjunto garante previsibilidade ao produtor regular e comprova que o país possui um marco ambiental sólido. Por isso, exigências externas precisam respeitar a proporcionalidade, a transparência e o devido processo. Caso contrário, correm o risco de ferir a legislação brasileira e distorcer a concorrência”, ressalta.
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Brasil e Reino Unido avançam em diálogo sobre agro de baixo carbono na COP30
Fávaro apresenta o Caminho Verde Brasil e discute novas parcerias para financiar recuperação ambiental e ampliar práticas sustentáveis no campo.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, se reuniu nesta quarta-feira (19) com a ministra da Natureza do Reino Unido, Mary Creagh, durante a COP30, em Belém. O encontro teve como foco a apresentação das práticas sustentáveis adotadas pelo setor agropecuário brasileiro, reconhecidas internacionalmente por aliarem produtividade e conservação ambiental.
Fávaro destacou as iniciativas do Caminho Verde Brasil, programa que visa impulsionar a recuperação ambiental e o aumento da produtividade por meio da restauração de áreas degradadas e da promoção de tecnologias sustentáveis no campo.
Segundo o ministro, a estratégia tem ampliado a competitividade do agro brasileiro, com acesso a mercados mais exigentes, ao mesmo tempo em que contribui para metas climáticas.
A agenda também incluiu discussões sobre mecanismos de financiamento voltados a ampliar projetos de sustentabilidade no setor. As autoridades avaliaram oportunidades de cooperação entre Brasil e Reino Unido para apoiar ações de recuperação ambiental, inovação e produção de baixo carbono na agricultura.



