Notícias Segundo estudo
Agricultura mais resiliente e sustentável precisa ser expandida para proteger produtor brasileiro das mudanças climáticas
Mudanças climáticas podem causar redução de 17% na produtividade global da agropecuária, com Brasil sendo um dos mais impactados
Os países em desenvolvimento são, de modo geral, os mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. Estima-se que os impactos do clima podem causar uma redução de 17% na produtividade global da agropecuária, com o Brasil sendo um dos mais impactados.
O lado bom é que o país já tem na legislação o caminho para desviar dessa rota. Basta uma maior disseminação e uso das modalidades previstas no Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) e no Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg). É o que mostra o estudo “Papel dos Planos ABC e Planaveg na adaptação da agricultura e da pecuária às mudanças climáticas”, coordenado pelo WRI Brasil com a participação de especialistas em clima e agropecuária, como Eduardo Assad, Carlos Nobre, Luiz Claudio Costa, Maura Campanili, Susian Martins, Miguel Calmon e Rafael Feltran Barbieri, com apoio da GIZ e Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, publicado no final de novembro.
“Como as mudanças climáticas já estão em curso e é certo que o clima vai se alterar nas próximas décadas devido às emissões do presente e do passado, a implantação de medidas transformadoras de adaptação para lidar com seus impactos negativos é urgente”, alerta o cientista Carlos Nobre. “Juntos, o Plano ABC e o Planaveg contribuem para a redução dos gases de efeito estufa, mas também favorecem a adaptação do agronegócio nacional a esse novo cenário”, destaca Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa.
“O Plano ABC e o Planaveg recomendam o uso de tecnologias com potencial de tornar a agricultura mais resiliente e sustentável no curto, médio e longo prazo”, diz Miguel Calmon, diretor de Florestas do WRI Brasil. “Precisamos promover em escala a restauração e reflorestamento com espécies nativas, os sistemas agroflorestais e os sistemas integrados com florestas para gerar mais renda e emprego no meio rural e ao mesmo tempo tornar os produtores rurais mais resilientes às mudanças do clima”.
O estudo partiu dos impactos previstos das mudanças climáticas nas propriedades rurais, como por exemplo o aumento da frequência de secas ou inundações, e analisou se as ações do Plano ABC e do Planaveg podem reduzir esses danos e gerar benefícios. O resultado mostra que várias ações previstas nos planos – como sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILFP), sistemas agroflorestais, restauração de paisagens degradadas, sistema plantio direto e reflorestamento – tornam as propriedades rurais mais produtivas, resilientes e adaptadas às mudanças climáticas.
Por exemplo, em um cenário de mudanças climáticas, um produtor que decida investir em um sistema de ILPF em vez de uma produção convencional teria como benefícios aumento da umidade do ar e disponibilidade de água em sua propriedade; melhoria na fertilidade do solo e redução da erosão; diminuição na frequência de ondas de frio, de calor, secas e desastres naturais; além de aumento de produtividade e renda.
A tecnologia que mais demanda financiamento no Plano ABC é a recuperação de pastagens degradadas, representando mais de 48% dos recursos disponibilizados. É uma técnica de grande potencial para o Brasil: estima-se que, somente no Cerrado, a área com pastagens degradadas seria suficiente para acomodar o incremento na produção de soja e de carne necessário para atender às demandas doméstica e internacional até 2040.
A recuperação dos quase 72 milhões de hectares de pastagens que se encontram em algum estágio de degradação também traz inúmeros benefícios, mas exige uma mudança importante na bovinocultura brasileira. É necessário intensificar a produção, buscando-se ganhos de peso mais rápidos e aumento da biomassa do pasto. Em outras palavras, o pecuarista moderno deveria ser um plantador de pasto.
Os sistemas agroflorestais, por sua composição multifuncional, aliam a produção de alimentos com produção de produtos florestais madeireiros e não madeireiros e geram receitas em todos os anos. Já a integração lavoura pecuária é mais rentável para os produtores do que sistemas convencionais.
Necessidade de mais investimento
Apesar dos bons resultados, o potencial do Plano ABC e do Planaveg ainda não são percebidos pelo setor como estratégico e prioritário. Menos de 1,4% do crédito rural disponibilizado pelo Plano Safra tem sido utilizado pelo Plano ABC.
O Brasil ainda financia muito mais atividades que podem ser predatórias e aumentam os impactos das mudanças climáticas do que ações sustentáveis e com potencial de adaptação. Para cada R$ 1 que o ABC investe em recuperação de área desmatada, outros financiamentos investem R$ 10 para atividades que geram desmatamento e degradação.
O conhecimento para uma produção agropecuária mais resiliente e sustentável precisa ser disseminado. Investidores, instituições financeiras e empresas de seguro precisam investir em sistemas de produção resilientes às mudanças climáticas. “É necessário aumentar o investimento e ampliar a adoção de modalidades sustentáveis na agricultura para diminuir a vulnerabilidade do produtor a mudanças climáticas extremas”, conclui o estudo.
Impactos das mudanças do clima na agricultura
Em um de seus capítulos, o estudo faz um levantamento da literatura científica mostrando como a agricultura brasileira já está sofrendo com os impactos das mudanças climáticas.
Exemplos de como as mudanças climáticas impactam em culturas específicas:
- Na cultura do feijão, temperaturas de mais de 35 graus prejudicam o florescimento e a frutificação; já temperaturas muito baixas, abaixo dos 12 graus, podem retardar o crescimento da planta
- No café, temperaturas acima de 34 graus comprometem a fotossíntese e provocam o abortamento de flores, reduzindo a produtividade. As mudanças do clima podem reduzir em 95% a área apta para a cultura nos estados de GO, MG e SP, e 75% no PR.
- Dez dias consecutivos de temperaturas acima de 35 graus provocam desequilíbrio hormonal na cultura da laranja, produzindo queda dos frutos, murcha e abortamento de flores.
- Na cultura da soja, redução do regime de chuvas – um dos impactos das mudanças do clima no Brasil – provoca alterações fisiológicas nas plantas, abortamento das vagens e diminuição de vagens sadias.
- Na pecuária, o estresse térmico dos animais influencia no ganho de peso e na produção de leite.
- Em 2013, uma seca no período do desenvolvimento de culturas de laranja e café, e excesso de chuva no período da colheita, causaram forte perda, a ponto de reduzir o PIB agropecuário em 1,89%.
- Considerando o cenário mais pessimista do IPCC, o Brasil pode perder 2,5% do PIB em 2050 por conta do impacto das mudanças climáticas na agropecuária.
Notícias
Feicorte: São Paulo impulsiona mudanças no manejo pecuário com opção de marcação sem fogo
Estado promove alternativa pioneira para o bem-estar animal e a sustentabilidade na pecuária. Assunto foi tema de painel durante a Feicorte 2024
No painel “Uma nova marca do agro de São Paulo”, realizado na Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne – Feicorte, em Presidente Prudente (SP), que segue até o dia 23 de novembro, a especialista em bem-estar animal, Carmen Perez, ressaltou a importância de evitar a marcação a fogo em bovinos.
Segundo ela, a questão está diretamente ligada ao bem-estar animal, especialmente no que diz respeito ao local onde é realizada a marcação da brucelose, que ocorre na face do animal, uma região com maior concentração de terminações nervosas, um ponto mais sensível. Essa ação representa um grande desafio, pois, embora seja uma exigência legal nacional, os impactos para os animais precisam ser cuidadosamente avaliados.
“O estado de São Paulo tem se destacado de forma pioneira ao oferecer aos produtores rurais a opção de decidir se desejam ou não realizar a marcação a fogo. Isso é um grande avanço”, destacou Carmen. Ela também mencionou que os animais possuem uma excelente memória, lembrando-se tanto dos manejos bem executados quanto dos malfeitos, o que pode afetar sua condição e bem-estar a longo prazo.
Além disso, a imagem da pecuária é um ponto crucial, especialmente considerando o poder da comunicação atualmente. “Organizações de proteção animal frequentemente utilizam práticas como a marcação a fogo, castração sem anestesia e mochação para criticar a cadeia produtiva. Essas questões podem impactar negativamente a percepção do setor”, alertou. Para enfrentar esses desafios, Carmen enfatizou a importância de melhorar os manejos e de considerar os riscos de acidentes nas fazendas, que muitas vezes são subestimados quando as práticas de manejo não são adequadas.
“Nos próximos anos, imagino um setor mais consciente, em que as pessoas reconheçam que os animais são seres sencientes. As equipes serão cada vez mais participativas, e a capacitação constante será essencial”, afirmou. Ela finalizou dizendo que, para promover o bem-estar animal, é fundamental investir em treinamento contínuo das equipes. “Vejo a pecuária brasileira se tornando disruptiva, com o potencial de se tornar um modelo mundial de boas práticas”, concluiu.
Fica estabelecido o botton amarelo para a identificação dos animais vacinados com a vacina B19 e o botton azul passa a identificar as fêmeas vacinadas com a vacina RB 51. Anteriormente, a identificação era feita com marcação à fogo indicando o ano corrente ou a marca em “V”, a depender da vacina utilizada.
As medidas foram publicadas no Diário Oficial do Estado, por meio da Resolução SAA nº 78/24 e das Portarias 33/24 e 34/24.
Mudanças estabelecidas
Prazos
Agora, fica estabelecido que o calendário para a vacinação será dividido em dois períodos, sendo o primeiro do dia 1º de janeiro a 30 de junho do ano corrente, enquanto o segundo período tem início no dia 1º de julho e vai até o dia 31 de dezembro.
O produtor que não vacinar seu rebanho dentro do prazo estabelecido, terá a movimentação dos bovídeos da propriedade suspensa até que a regularização seja feita junto às unidades da Defesa Agropecuária.
Desburocratização da declaração
A declaração de vacinação pelo proprietário ou responsável pelos animais não é mais necessária. A partir de agora, o médico-veterinário responsável pela imunização, ao cadastrar o atestado de vacinação no sistema informatizado de gestão de defesa animal e vegetal (GEDAVE) em um prazo máximo de quatro dias a contar da data da vacinação e dentro do período correspondente à vacinação, validará a imunização dos animais.
A exceção acontecerá quando houver casos de divergências entre o número de animais vacinados e o saldo do rebanho declarado pelo produtor no sistema GEDAVE.
Notícias
Treinamento em emergência sanitária busca proteger produção suína do estado
Ação preventiva do IMA acontecerá entre os dias 26 e 28 de novembro em Patos de Minas, um dos polos da suinocultura mineira.
Com o objetivo de proteger a produção de suínos do estado contra possíveis ameaças sanitárias, o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) realizará, de 26 a 28 deste mês, em Patos de Minas, o Treinamento em Atendimento a Suspeitas de Síndrome Hemorrágica em Suínos. A iniciativa capacitará mais de 50 médicos veterinários do serviço veterinário oficial para identificar e responder prontamente a casos de doenças como a Peste Suína Clássica (PSC) e a Peste Suína Africana (PSA). A disseminação global da PSA tem preocupado autoridades devido ao impacto devastador na produção e na economia, como evidenciado na China que teve início em 2018 e se estendeu até 2023, quando o país perdeu milhões de suínos para a doença. Em 2021, surtos recentes no Haiti e na República Dominicana aumentaram o alerta no continente americano.
A escolha de Patos de Minas como sede para o treinamento presencial reforça sua importância como polo suinícola em Minas Gerais, com cerca de 280 mil animais produzidos, equivalente a 16,3% do plantel estadual, segundo dados de 2023 da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa). A Coordenadoria Regional do IMA, em Patos de Minas, que atende cerca de 17 municípios na região, tem mais de 650 propriedades cadastradas para a criação de suínos, cuja sanidade é essencial para evitar prejuízos econômicos que afetariam tanto o mercado interno quanto as exportações mineiras.
Para contemplar a complexidade do tema, o treinamento foi estruturado em dois módulos: remoto e presencial. Na fase on-line, realizada nos dias 11 e 18 de novembro, especialistas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de Castilla-La Mancha, da Espanha e de empresas parceiras abordaram aspectos clínicos e epidemiológicos das doenças hemorrágicas em suínos. Já na fase presencial, em Patos de Minas, os participantes terão acesso a oficinas práticas de biossegurança, desinfecção, estudos de casos, discussões sobre cenários epidemiológicos, coleta de amostras e visitas a campo, além de simulações de ações de emergência sanitária, onde aplicarão o conhecimento adquirido.
A iniciativa do IMA conta com o apoio de cooperativas, empresas do setor suinícola, instituições de ensino, sindicato rural e a Prefeitura Municipal de Patos de Minas, além do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A defesa agropecuária em Minas Gerais depende de ações como essa, fundamentais para evitar a entrada de patógenos e manter a competitividade da produção local. Esse treinamento é parte das ações para manutenção do status de Minas Gerais como livre de febre aftosa sem vacinação.
Ameaças sanitárias e os impactos para a economia
No Brasil, a Peste Suína Clássica está sob controle nas zonas livres da doença. No entanto, nas áreas não reconhecidas como livres, a enfermidade ainda está presente, representando um risco significativo para a suinocultura brasileira. Esta enfermidade pode levar a alta mortalidade entre os animais, além de causar abortos em fêmeas gestantes. Por ser uma enfermidade sem tratamento, a prevenção constante e a vigilância da doença são fundamentais.
A situação é ainda mais crítica no caso da Peste Suína Africana, para a qual não há vacina eficiente e cuja propagação levaria a prejuízos imensos ao setor suinícola nacional, com risco de desabastecimento no mercado interno e aumento dos preços para o consumidor final. Os animais infectados apresentam sintomas como febre alta, perda de apetite, e manchas na pele.
Notícias
Faesp quer retratação do Carrefour sobre a decisão do grupo em não comprar carne de países do Mercosul
Uma das principais marcas de varejo, por meio do CEO do Carrefour França, anunciou que suspenderá vendas de carne do Mercosul: decisão gera críticas e debate sobre sustentabilidade.
O Carrefour França anunciou que suspenderá a venda de carne proveniente de países do Mercosul, incluindo o Brasil, alegando preocupações com sustentabilidade, desmatamento e respeito aos padrões ambientais europeus. A afirmação é do CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, nas redes sociais do empresário, mas destinada ao presidente do sindicato nacional dos agricultores franceses, Arnaud Rousseau.
A decisão gerou repercussão negativa no Brasil, especialmente no setor agropecuário, que considera a medida protecionista e prejudicial à imagem da carne brasileira, amplamente exportada e reconhecida pela qualidade.
Essa decisão reflete tensões maiores entre a União Europeia e o Mercosul, com debates sobre padrões de produção e sustentabilidade como pontos centrais. Para a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), essa decisão é prejudicial ao comércio entre França e Brasil, com impactos negativos também aos consumidores do Carrefour.
Os argumentos da pauta ambiental alegada pelo Carrefour e pelos produtores de carne na França não se sustentam, uma vez que a produção da pecuária brasileira está entre as mais sustentáveis do planeta. Esta posição, vinda de uma importante marca de varejo, é um indício de que os investimentos do grupo Carrefour no Brasil devem ser vistos com ressalva, segundo o presidente da Faesp, Tirso Meirelles.
“A declaração do CEO do Carrefour França, Alexandre Bompard, demonstra não apenas uma atitude protecionista dos produtores franceses, mas um total desconhecimento da sustentabilidade do setor pecuário brasileiro. A Faesp se solidariza com os produtores e espera que esse fato isolado seja rechaçado e não influencie as exportações do país. Vale lembrar que a carne bovina é um dos principais itens de comercialização do Brasil”, disse Tirso Meirelles.
O coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Corte da Faesp, Cyro Ferreira Penna Junior, reforça esta tese. “A carne brasileira é a mais sustentável e competitiva do planeta, que atende aos padrões mais elevados de qualidade e exigências do consumidor final. Tais retaliações contra o nosso produto aparentam ser uma ação comercial orquestrada de produtores e empresas da União Europeia que não conseguem competir conosco no ‘fair play’”, diz Cyro.
Para o presidente da Faesp, cabe ao Carrefour reavaliar sua posição e, eventualmente, se retratar publicamente, uma vez que esta decisão, tomada unilateralmente e sem critérios técnicos, revela uma falta de compromisso do grupo com o Brasil, um importante mercado consumidor.
Várias outras instituições se posicionaram contra a decisão do Carrefour, e o Ministério da Agricultura (Mapa). “No que diz respeito ao Brasil, o rigoroso sistema de Defesa Agropecuária do Mapa garante ao país o posto de maior exportador de carne bovina e de aves do mundo”, diz o Mapa em comunicado. “Vale reiterar que o Brasil possui uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com transparência no setor […] O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos brasileiros e dos compromissos ambientais brasileiros”, continua a nota.
Veja aqui o vídeo do presidente.