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Xico Graziano Opinião

Agricultura de baixo carbono é lição do Brasil ao mundo sustentável

Nenhum setor nacional, nem qualquer país do mundo, contribui mais para mitigar mudanças do Clima que o agro brasileiro

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Artigo escrito por Xico Graziano, engenheiro agrônomo, doutor em Administração, professor de MBA na FGV e membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)

Nada é tão inovador, na agenda global do clima, como o programa brasileiro intitulado “Agricultura de Baixa Emissão de Carbono”. O apelidado “Plano ABC” traça a rota do futuro agroambiental do país e dá uma lição ao mundo sustentável.

Sua revolucionária formulação cabe à Embrapa. Apresentado inicialmente em 2009, na COP 15 sobre Mudança de Clima (Copenhague, Dinamarca), o Plano ABC serviu de base para o Brasil apresentar, em 2015, suas metas ambiciosas no Acordo do Clima de Paris. Qual é sua novidade, e de onde vem sua força?

Da estratégia de combate às mudanças climáticas por meio do sequestro de carbono da atmosfera. Entender isso é fundamental. Todos os países propõem reduzir emissões de GEE (gases efeito-estufa), cortando o uso de combustível fóssil, principalmente petróleo e carvão mineral.

Mas, se o problema central, segundo a teoria do IPCC/ONU, é o acúmulo de CO² na atmosfera, na equação do clima vale também retirar gás carbônico do ar. Pois bem. Por meio da fotossíntese, um maravilhoso fenômeno bioquímico, as plantas crescem absorvendo CO² e liberando oxigênio ao ambiente.

Árvores, assim, armazenam carbono em seus tecidos lenhosos. Assim como gramíneas o fazem, especialmente em suas longas raízes. Baseados nesse princípio, os pesquisadores da Embrapa calcularam o efeito benéfico, na equação climática, da transformação de velhas pastagens, degradadas, em novas pastagens.

O resultado é surpreendente. Milhões de toneladas de carbono acabam fixadas ao solo pelo revigoramento das gramíneas. O raciocínio vale também para lavouras. O acúmulo de matéria orgânica no solo passou a ser um drive da sustentabilidade rural.

No Acordo do Clima (Paris, 2015), a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil estabeleceu, entre outras, as seguintes metas: recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas; aumentar a adoção de sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e de Sistemas Agroflorestais (SAFs) em quatro milhões de hectares; ampliar a utilização do Sistema Plantio Direto (SPD) em oito milhões de hectares; e expandir a área com florestas plantadas em três milhões de hectares.

A roda começou a virar. Um conjunto de sete ações, constituídas por práticas agropecuárias sustentáveis, serviu de base para a formulação do programa de financiamento dessa transição da agricultura. Um balanço atual, realizado pelo Ministério da Agricultura, mostra que o padrão ABC já atinge 52 milhões de hectares – cerca de 75% da área cultivada do país.

Na contabilidade do carbono, foram mitigados 170 milhões de toneladas de CO² equivalente, ultrapassando a meta da NDC brasileira em 115%. É sensacional. Comprova, inequivocamente, o avanço agroambiental no campo, cujo pilar é o revolucionário SPD, que dispensa aração e gradeação das áreas de plantio.

Empolgada, a ministra Tereza Cristina lançou no último mês o Plano ABC+, para balizar a década 2020/2030. Afirmou que “seguiremos aliando segurança alimentar à conservação ambiental. É viável e rentável”. Um desejado casamento da agronomia com a ecologia.

Quando, em 2018, Jair Bolsonaro afirmou que romperia com o Acordo do Clima, muitos de nós reagimos fortemente para mostrar ao ainda candidato que a agenda do baixo carbono interessava ao futuro da agropecuária brasileira. Fortaleceria nossa competitividade e assim tem ocorrido.

Infelizmente, poucos formadores de opinião – políticos, jornalistas e influencers – conhecem os resultados positivos trazidos pela implementação da agricultura de baixo carbono no Brasil. A maioria ainda enxerga o campo com os olhos do passado. Daí surge um grave problema de comunicação, que macula a imagem do agro.

Modernos e competentes agricultores brasileiros, que investem em tecnologias sustentáveis e levam o país a disputar a liderança mundial do agronegócio, são confundidos com os criminosos que praticam o desmatamento ilegal da Amazônia. A maioria correta paga o mico dos cafajestes.

Não coibidas como deveriam ser, pelo governo, e não condenadas como poderiam ser, pelos líderes do próprio setor, as práticas rurais antiecológicas de uma minoria abrem brechas para o ataque, interno e externo, contra o agro brasileiro. Lamentável.

Na recente Cúpula do Clima, bastaria Bolsonaro mostrar os fatos. Nenhum setor nacional, nem qualquer país do mundo, contribui mais para mitigar mudanças do Clima que o agro brasileiro. O resto é discurso.

Fonte: Assessoria

Bovinos / Grãos / Máquinas Artigo

O negacionismo contra o agro tecnológico

Cada tonelada de grão, ou carne, ou celulose e algodão, frutas ou o que for, oriundo do agro e exportado pelo país, contém tanta tecnologia nela embutida quanto um bem manufaturado.

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Professor da Fundação Getúlio Vargas e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Xico Graziano - Foto: Divulgação

Há duas espécies de negacionistas que desmerecem a moderna agropecuária no Brasil. Uma é formada por economistas ortodoxos. Outra pela esquerda caviar. Ambas ofendem a evolução tecnológica. Nesse artigo, vou tratar dos primeiros. Depois, falo dos ideólogos do atraso.

Certos economistas do século passado, ligados ao pensamento tradicional, teimam em analisar o agronegócio como se a agricultura ainda funcionasse isolada na economia. Chamam-na de “setor primário”. Baseados no problema chamado de “doença holandesa”, criticam a “comoditização” da economia brasileira. Dizem que levará ao atraso do país.

Conforme relatada na literatura econômica, a doença holandesa é definida como a valorização permanente da taxa de câmbio de um país, devido à existência de vantagens comparativas naturais que favorecem suas exportações primárias.

Chama-se “holandesa” por ter sido analisada, inicialmente, na economia dos Países Baixos, onde a descoberta e exportação de gás natural no Mar do Norte apreciou o câmbio e prejudicou a indústria manufatureira do país. Isso ocorreu nos anos 1960.

O tempo passou, entramos na era tecnológica. Em pleno século 21, porém, os economistas ortodoxos ainda utilizam a teoria das vantagens comparativas– idealizada por David Ricardo em 1817– para condenar a exportação considerada “primária”.

Onde está o equívoco? No fato de que a competitividade agrícola do Brasil, frente ao mundo, não depende mais de “vantagens naturais”, mas sim de fortíssimos investimentos realizados no processo tecnológico de produção do agro.

Estudos referenciados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Ministério da Agricultura e Embrapa, elaborados por especialistas como José G. Gasquez, José Eustáquio R. Vieira e Eliseu Alves, mostram que a tecnologia passou, há 40 anos, a ser a variável básica para explicar, em 60%, o crescimento da produção rural no Brasil; o fator terra caiu para 20%, idem o fator trabalho.

Quer dizer, resumindo a história: cada tonelada de grão, ou carne, ou celulose e algodão, frutas ou o que for, oriundo do agro e exportado pelo país, contém tanta tecnologia nela embutida quanto um bem manufaturado. Ou muitas vezes mais.

Todo um pacote tecnológico elevou fortemente a produtividade da agropecuária: variedades de plantas geneticamente adaptadas aos trópicos, raças e cruzamentos de animais precoces e super produtivos, controle fitossanitário rigoroso, correção e fertilização do solo, maquinários controlados por GPS e gestão sustentável. A média de crescimento da PTF (Produtividade Total dos Fatores) foi de 3,8% a.a nos últimos 20 anos.

Conclusão: é grave erro, conceitual e metodológico, tratar os produtos da exportação do atual agronegócio como os daquela época do modelo exportador de açúcar colonial ou do café latifundiário.

Se a indústria ficou para trás, o problema nada tem a ver com as exportações agrícolas, mas com sua incapacidade de inovação tecnológica. Preferiu depender de benefícios públicos para manter competitividade. E perdeu.

O agro, pressionado pelos acordos de livre comércio da OMC (Organização Mundial do Comércio) desde a rodada Doha, conseguiu alterar a política agrícola, a partir da estabilidade trazida pelo Plano Real, e correu atrás da produtividade, contando com a ajuda das incríveis “Embrapas” da vida.

Nos complexos produtivos atuais, onde se mescla o campo com a cidade, pode-se até dizer que a equação histórica do desenvolvimento se inverteu: é o dinamismo do agro, impulsionado pelas exportações, que puxa importantes setores secundários e terciários da economia.

A realidade está aí para comprovar: o agronegócio se tornou o melhor negócio do país.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor de bovinocultura, commodities e maquinários agrícolas acesse gratuitamente a edição digital Bovinos, Grãos e Máquinas.

Fonte: Por Xico Graziano, professor da Fundação Getúlio Vargas e membro do Conselho Científico Agro Sustentável
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O negacionismo contra o agro tecnológico

Há duas espécies de negacionistas que desmerecem a moderna agropecuária no Brasil. Uma é formada por economistas ortodoxos. Outra pela esquerda caviar. Ambas ofendem a evolução tecnológica.

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Mesmo com dinamismo do agro puxando desenvolvimento de importantes setores secundários, ainda há economistas ortodoxos. Há duas espécies de negacionistas que desmerecem a moderna agropecuária no Brasil. Uma é formada por economistas ortodoxos. Outra pela esquerda caviar. Ambas ofendem a evolução tecnológica.

Nesse artigo, vou tratar dos primeiros. Depois, falo dos ideólogos do atraso.

Certos economistas do século passado, ligados ao pensamento tradicional, teimam em analisar o agronegócio como se a agricultura ainda funcionasse isolada na economia. Chamam-na de “setor primário”. Baseados no problema chamado de “doença holandesa”, criticam a “comoditização” da economia brasileira. Dizem que levará ao atraso do país.

Conforme relatada na literatura econômica, a doença holandesa é definida como a valorização permanente da taxa de câmbio de um país, devido à existência de vantagens comparativas naturais que favorecem suas exportações primárias.

Chama-se “holandesa” por ter sido analisada, inicialmente, na economia dos Países Baixos, onde a descoberta e exportação de gás natural no Mar do Norte apreciou o câmbio e prejudicou a indústria manufatureira do país. Isso ocorreu nos anos 1960.

O tempo passou, entramos na era tecnológica. Em pleno século 21, porém, os economistas ortodoxos ainda utilizam a teoria das vantagens comparativas– idealizada por David Ricardo em 1817– para condenar a exportação considerada “primária”.

Aonde está o equívoco?

No fato de que a competitividade agrícola do Brasil, frente ao mundo, não depende mais de “vantagens naturais”, mas sim de fortíssimos investimentos realizados no processo tecnológico de produção do agro.

Estudos referenciados pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Ministério da Agricultura e Embrapa, elaborados por especialistas como José G. Gasquez, José Eustáquio R. Vieira e Eliseu Alves, mostram que a tecnologia passou, há 40 anos, a ser a variável básica para explicar, em 60%, o crescimento da produção rural no Brasil; o fator terra caiu para 20%, idem o fator trabalho.

Quer dizer, resumindo a história: cada tonelada de grão, ou carne, ou celulose e algodão, frutas ou o que for, oriundo do agro e exportado pelo país, contém tanta tecnologia nela embutida quanto um bem manufaturado. Ou muitas vezes mais.

Todo um pacote tecnológico elevou fortemente a produtividade da agropecuária: variedades de plantas geneticamente adaptadas aos trópicos, raças e cruzamentos de animais precoces e super produtivos, controle fitossanitário rigoroso, correção e fertilização do solo, maquinários controlados por GPS e gestão sustentável. A média de crescimento da PTF (Produtividade Total dos Fatores) foi de 3,8% a.a nos últimos 20 anos.

Conclusão: é grave erro, conceitual e metodológico, tratar os produtos da exportação do atual agronegócio como os daquela época do modelo exportador de açúcar colonial ou do café latifundiário.

Se a indústria ficou para trás, o problema nada tem a ver com as exportações agrícolas, mas com sua incapacidade de inovação tecnológica. Preferiu depender de benefícios públicos para manter competitividade. E perdeu. …

O agro, pressionado pelos acordos de livre comércio da OMC (Organização Mundial do Comércio) desde a rodada Doha, conseguiu alterar a política agrícola, a partir da estabilidade trazida pelo Plano Real, e correu atrás da produtividade, contando com a ajuda das incríveis “Embrapas” da vida.

Nos complexos produtivos atuais, onde se mescla o campo com a cidade, pode-se até dizer que a equação histórica do desenvolvimento se inverteu: é o dinamismo do agro, impulsionado pelas exportações, que puxa importantes setores secundários e terciários da economia.

A realidade está aí para comprovar: o agronegócio se tornou o melhor negócio do país

Fonte: Por Xico Graziano, Conselheiro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)
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