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Bovinos / Grãos / Máquinas

Agricultor de MS vira referência no uso de tecnologias

Adoção das novas tecnologias que surgem no mercado e cuidados altos com o solo fazem a diferença em propriedades como a do produtor Everaldo dos Reis, de Mato Grosso do Sul

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Estamos na era digital. A expressão, já quase um clichê, demonstra a realidade do momento que o mundo vive. A alta tecnologia que vem sendo desenvolvida ano a ano é algo que agregou muito, ainda mais para aqueles que sabem usar a seu favor. E o agronegócio tem usado, com inteligência, as novas alternativas que surgem para aumentar a produtividade. Um exemplo é o produtor de Itaquirai, em Mato Grosso do Sul, Everaldo Jorge dos Reis. Com uma propriedade de 1,7 mil hectares, ele utiliza as mais variadas tecnologias para garantir uma boa produtividade e sustentabilidade. Já virou referência para outros produtores.

O produtor começou sua jornada como consultor e técnico agrícola na Cooperativa Copasul, em Naviraí, MS, em 1993. Na época, surgiu a oportunidade para que começasse a plantar em uma área de 160 hectares, em princípio algodão. “Eu conciliava as duas atividades, dando consultoria e plantando”, lembra. Ele conta que no início teve algumas dificuldades, como todos têm com frustração de safra, seca e preço baixo. Com o passar do tempo, trocou a cultura e passou a plantar soja e milho. No início, Reis se juntou com alguns sócios, que compraram algumas propriedades para plantar. “Mas, com o tempo os sócios foram indo embora do Estado e eu fui ficando sozinho com a propriedade. E comecei a pensar: sou da área, tenho formação e experiência, dou consultoria, tenho que ter produtividade”, conta.

Com uma grande propriedade, Reis passou a prestar mais atenção nas tecnologias que estavam presentes para auxiliar o produtor rural. De acordo com ele, viajou para muitos locais, no Brasil e no exterior, para ver o que havia no mercado e o que estava dando certo. “Começamos então a trabalhar com agricultura de precisão. Fomos os primeiros da região a utilizar. Na época era de outra forma, não havia empresas especializadas nisso, e fomos conversando com outros produtores, trocando ideias e fazendo de uma forma mais caseira”, diz. Ele conta que a atividade foi dando certo e passou a investir mais em equipamentos para fazer as análises. “E depois veio outras tecnologias que fomos adotando, como o piloto automático (tratores e colhedeiras), por exemplo”, comenta.

Solo

E para o produtor sul-mato-grossense o grande diferencial para uma boa produtividade está, acima de tudo, nos cuidados com o solo. “O solo nós temos e podemos aproveitar mais. É preciso tratar a terra com carinho. Este é o principal, a grande produtividade vem do tratamento com o solo, este é o nosso maior diferencial”, afirma. E ele sabe o que diz. Nos 15 anos que vem investindo em altas tecnologias, a maioria sempre voltada para ele ter certeza da qualidade do solo. O que não dava certo, corrigia. “Estamos sempre muito focados no solo. Fazemos perfil e investimos na qualidade”, diz. Além do mais, o produtor informa que são feitas correções com cálcio e fósforo, por exemplo, no que for preciso. “Tentamos sempre buscar isso. Acredito que se não seguirmos esse caminho não vamos para lugar algum”, destaca. Sem contar que Reis ainda tem um controle rigoroso de custos, gastos e preços. “Sabemos quantos custa um saco de soja ou de milho, um trator, a manutenção de um maquinário”, diz.

O produtor destaca ainda que investir em tecnologia não é somente em maquinários ou novos softwares. “Utilizar tecnologia é um pacote de ações. Nós fazemos na fazenda ainda o manejo de pragas, vemos os índices de lagarta, percevejo e dessecação, por exemplo. O que temos que fazer hoje é trabalhar para aumentar a produtividade, e não há outro jeito se não utilizar a tecnologia que temos disponível para isso”, afirma. E o que o Reis destaca ainda é a importância de o produtor adquirir as tecnologias gradualmente. “Se começar tudo de uma vez só, ela se torna inviável. Alguns equipamentos têm um custo mais elevado, por isso adquirir tudo de uma única vez é mais difícil”, comenta. Porém destaca que é importante todos os anos o produtor ir se aperfeiçoando, já que, desta forma, a tecnologia adquirida “se paga”.

Maquinários

Entre as tecnologias utilizada por Reis na fazenda está a mecanização. Hoje, todos os tratores possuem piloto automático. “Isto, apesar de um pouco mais caro, se paga. Porque o tratorista ao invés de trabalhar 10 horas cansado, vai ficar 14-15 horas, mas mais sossegado, porque ele não cansa. Ele vai render muito mais”, destaca. Há também nas colheitadeiras, que seguem certo a linha da soja ou milho, já que também possuem piloto automático. “Então, as duas máquinas ‘se falam’ e a produção sai muito mais alinhada”, destaca Reis.

O produtor destaca que a economia que ele tem no desperdício de semente a adubo é a forma que faz com que a tecnologia seja amortizada. “É difícil mensurar o ganho da tecnologia em ganho financeiro. Mas você sabe que está ganhando porque você remontou menos, não há grande rotatividade de pessoal, entre outros ganhos que temos”, diz.

O produtor precisa da prova real, explica. Para isso, ele faz ainda o monitoramento da colheita. “Quando faço a agricultura de precisão e mapeio o solo, para saber a quantidade de corretivo de determinados pontos, eu preciso confirmar se isto está funcionando e se transformando em produtividade. Com isso, vem a colheita monitorada, em que eu consigo checar o que está no solo e o que eu estou realmente produzindo”, destaca. “A colheita monitorada é fundamental para eu tirar a prova real se o que estou fazendo está funcionando, o que está acontecendo na minha propriedade”, afirma.

A baixa rotatividade de pessoal é algo importante para Reis. Além dele, são mais três colaboradores na fazenda. Um trabalha com ele há 12 anos, outro há 11 e um último há cinco anos. “Esta tecnologia que você utiliza nos seus maquinários é também uma forma de valorizar seu colaborador. E isso também vale a pena”, afirma. O produtor ainda destaca que quando se insere alguém em um ambiente em que o processo já está indo bem, com um ambiente organizado, com tecnologias que funcionam, o próprio colaborador já aceita melhor e se adequa ao serviço com mais facilidade. “Eles aceitam a mudança mais facilmente e também é bom para eles. É uma forma deles próprios se sentirem valorizados”, diz. Além do mais, Reis destaca que seus três colaboradores sempre fazem cursos para se adequar e capacitar. “Sem contar que eles também buscam muita coisa sozinhos, e quando encontram algo que acreditam ser bom para a propriedade trazem para mim. Nós temos essa confiança, e isso é bastante positivo”, afirma.

Drone e Estação Meteorológica

Outra novidade em que o produtor investiu e está vendo a diferença é em um drone. “Há coisas que quando você olha para a lavoura no chão é uma coisa, de avião é outra. Mas com o drone, com as imagens que ele passa, é possível ver detalhes que antes eram imperceptíveis”, comenta. Reis diz que é possível detectar, somente pelas imagens, alguns problemas que podem ser evitados no próximo plantio. Ainda é possível ver as manobras feitas pelo pulverizador, há a possibilidade de descobrir se um stand estava falhando, se há mato ou lagarta, ferrugem. “São todos detalhes que eu consigo ver de perto com a imagem que o drone faz para mim”, conta.

Com o drone o produtor comenta que começou a analisar e observar melhor detalhes da propriedade. “Conseguimos ver algumas práticas que estamos desenvolvendo, se está funcionando. É um equipamento interessante. Eu gosto bastante”, afirma.

O que o produtor ainda tem na fazenda é uma estação meteorológica, que foi montada a partir de uma parceria com a empresa Basf e a Fundação ABC. Entre as informações que a tecnologia capta e repassa ao produtor estão a velocidade do vento, temperatura do solo, período de molhamento, humidade do solo, precipitação pluviométrica e previsão do tempo. “São informações importantes que eu posso utilizar para melhorar a minha produtividade. Sabendo a velocidade do vento eu posso ver se é melhor ou não fazer a aplicação de defensivo de forma aérea; com a temperatura do solo eu consigo determinar se consigo fazer um plantio mais cedo, por exemplo. É uma ferramenta que ficou muito boa, ajuda muito”, conta.

Novidade

A novidade adquirida há pouco tempo pelo produtor é um drive que pode ser acoplado em todos os maquinários, mesmo independente da marca. Junto, há ainda um tablet onde o produtor consegue fazer um controle maior e mais preciso de como está a produção. Entre os dados que podem ser obtidos estão a quantidade de combustível utilizado por hora, quantas sementes estão sendo jogadas por metro, quantos quilos de adubo estão indo por hectare, quantas horas o tratorista ficou parado, entre tantas outras informações. “Enquanto o aparelho estiver ligado, automaticamente ele joga as informações na rede e eu consigo ter acesso por aquela máquina naquele dia. Facilita totalmente o gerenciamento da propriedade para mim”, destaca Reis.

O diferencial deste drive é que ele pode ser transferido para outras máquinas, podendo ser passado de um trator para uma colheitadeira, por exemplo. “E na outra máquina ele faz a mesma coisa. Eu consigo ver a velocidade em que a máquina está andando, entre outros detalhes para auxiliar no meu gerenciamento”, diz. Para ele é uma tecnologia que veio para revolucionar a produção. “Sei de alguns produtores no Paraná que já estão utilizando”, comenta.

Porém, o produtor informa que a nova tecnologia não é barata. “O drive funciona por medida. A cada 500 hectares é necessário um drive. Então, você precisa comprar o drive de acordo com a sua propriedade”, conta. Por isso, Reis diz que agora adquiriu somente um, e que vai testar para comprovar sua eficiência, e só assim, então, adquirir mais equipamentos.

Busca de Conhecimento

Buscar conhecimento, novas tecnologias e atualização é o que Reis fez desde o início. O produtor sempre viajou para outros locais, no Brasil e exterior, para buscar coisas novas. “Mesmo que vamos para uma fazenda que tem a mesma área e as mesmas coisas que nós, sempre conseguimos aprender ou tirar algo novo e de bom”, diz. O agricultor conta que já viajou também diversas vezes para os Estados Unidos em busca das novas tecnologias. “Não é que eles estão mais avançados que nós, mas as tecnologias chegam primeiro para eles, já que as empresas estão lá, então vão testar primeiro lá”, comenta. Mas ele conta que é sempre bom ver como as tecnologias são utilizadas de outra perspectiva.

Reis afirma que para utilizar a tecnologia é preciso aprender, por isso a importância de viajar para outros locais. “Vemos sempre coisas interessantes, por isso, todos os anos procuramos viajar para conhecer o que há de novo”, comenta. Porém, ele frisa que não é preciso viajar para o exterior para buscar por novidades. “Aqui mesmo, no Brasil, temos muitas tecnologias e novidades interessantes. Já fui diversas vezes para o Mato Grosso e Paraná, onde encontrei muita coisa interessante. Falamos muito em Estados Unidos e Europa, mas, muitas vezes, o interessante está no nosso vizinho”, enfatiza.

Além do mais, o produtor ainda conta que os colaboradores sempre fazem cursos de capacitação. “Temos uma parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) aqui do Estado, em que todos os cursos do meio que eles podem fazer, eles estão participando”, diz. Eles também participam de feiras que acontecem em todo o Brasil.

Produtividade

Com a utilização de tanta tecnologia com o passar dos anos, o aumento expressivo da produtividade na fazenda foi perceptível, de acordo com Reis. “A cada ano que passa, com a utilização das novidades, a produtividade veio subindo uns 30%. No começo, a produção era de 40-42 sacas por hectare. Hoje estamos com uma média de mais de 72 sacas por hectare”, informa.

Com tanta tecnologia e uma produtividade acima da média, a propriedade de Reis é local de troca de ideias. Isso porque aqueles que querem conhecer alguma novidade vão até a fazenda para ver como determinada tecnologia funciona. “Há os filhos de outros produtores, onde o pai tinha a propriedade e agora está passando para a segunda geração, que estão vindo com uma cabeça diferente e se interessam pela tecnologia, querem aprender, ver o que está dando certo”, comenta. “Aos poucos, a novidade vai se espalhando e as pessoas vão conhecendo e querem saber como funciona para utilizar também”, entende.

Mais informações você encontra na edição de Nutrição e Saúde Animal de novembro/dezembro de 2017 ou online.

Fonte: O Presente Rural

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Produtores de leite enfrentam dilema entre colher pastagem ou antecipar o milho

Com a previsão de seca severa e o atraso nas pastagens de inverno, produtores avaliam cenários para garantir segurança de alimentação ao gado

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Foto: Marcos Tang

Produtores de leite estão enfrentando um dilema na hora de decidir sobre a gestão de suas pastagens e o plantio de milho. Com as pastagens de inverno atrasadas por conta das chuvas, muitas delas estão sendo dessecadas em setembro para dar lugar ao milho, uma prática comum entre os produtores. No entanto, a incerteza climática para os próximos meses, com previsão de seca severa, faz com que alguns produtores hesitem em eliminar as pastagens para otimizar o plantio de milho.

Conforme o presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), Marcos Tang, a decisão envolve múltiplos fatores. Produtores que conseguiram boas pastagens de azevém, após um ano de desafios climáticos, estão inclinados a aproveitar mais um ou dois cortes, seja para pastoreio, feno ou pré-secado. “A semente já foi jogada, o custo está aí. O produtor quer otimizar o máximo que puder”, explica Tang.

Contudo, o medo de uma estiagem prolongada traz dúvidas sobre se plantar o milho mais cedo poderia garantir uma colheita melhor. “Há quem já tenha plantado, e o milho já está nascendo. A pergunta é: vale mais a pena plantar logo ou esperar para colher mais uma vez as pastagens que finalmente estão boas?”, pontua o presidente. Tang sugere uma abordagem intermediária como uma possível solução. Ele propõe que os produtores plantem milho em partes da propriedade mais cedo, mantendo as pastagens em outras áreas para garantir a diversificação das colheitas e minimizar os riscos de perdas pela seca.

Além disso, a situação de cada propriedade deve ser analisada individualmente, considerando fatores como o estoque de silagem e feno, a qualidade da pastagem atual e o impacto econômico de adiar o plantio de milho. “As decisões vão variar de acordo com a realidade de cada propriedade. É importante que o produtor considere seus estoques, a qualidade da pastagem e as previsões climáticas para garantir a melhor estratégia”, conclui Tang.

Fonte: Assessoria Gadolando
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Pelagem tem influência direta na adaptação de bovinos às mudanças climáticas

O estudo aborda as respostas termorregulatórias e a estrutura dos pelos de touros das raças Nelore e Canchim.

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Foto: Gisele Rosso

Cientistas brasileiros e estrangeiros pesquisaram a influência das características da pelagem de bovinos no bem-estar animal e na adaptação a temperaturas extremas, por meio de avaliações da termorregulação corporal em diferentes condições ambientais. Os resultados estão publicados no artigo Adaptive integumentary features of beef cattle raised on afforested or non-shaded tropical pastures, da revista Nature Scientific Reports.

O estudo aborda as respostas termorregulatórias e a estrutura dos pelos de touros das raças Nelore e Canchim criados em sistemas sombreados de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e em sistemas com menor disponibilidade de sombreamento natural (NS).

O papel da ciência, diante das mudanças climáticas, é identificar e propor possíveis soluções e formas de reduzir os problemas causados pelo desequilíbrio no clima. O mundo vem sofrendo com eventos climáticos extremos nos últimos anos de maneira mais frequente (ondas de calor, períodos mais longos de secas ou chuvas mais intensas, entre outros), causando danos sem precedentes aos humanos e aos animais. No Brasil, a ocorrência da última enchente no estado do Rio Grande do Sul é um exemplo dos efeitos alarmantes das mudanças climáticas.

De acordo com o coordenador do trabalho, o pesquisador Alexandre Rossetto Garcia, da Embrapa Pecuária Sudeste (SP), as características do pelo influenciam a capacidade do animal em ganhar ou perder calor para o meio. Esses aspectos são relevantes do ponto de vista de adaptação aos desafios climáticos. Segundo Garcia, os bovinos mantidos em ambientes que promovem conforto térmico expressam melhor seu potencial genético, aprimorando assim o seu desempenho produtivo. Os dados indicam que a temperatura média do ar e a radiação incidente no ILPF foram menores, principalmente no verão, demonstrando o efeito favorável do componente arbóreo nas estações quentes.

A copa das árvores atua como uma barreira física, reduzindo a carga de calor e proporcionando um ambiente mais ameno para os animais. Já a estrutura dos pelos, incluindo o número de fios por unidade de área, influencia a quantidade de calor transmitida pela pelagem para o ambiente externo, bem como a radiação absorvida pelo animal. Os pelos servem de escudo para o animal contra choques mecânicos, além de ser uma proteção importante da pele. A pele e os pelos funcionam como uma barreira física para retenção de calor em casos de frio intenso, mas também auxiliam na perda de calor quando está muito quente.

“Por isso, temos interesse em estudar a pele e seus anexos e, assim, entender como as raças criadas em regiões tropicais usam essas características morfológicas para se adaptar ao ambiente em que vivem. Em um país tropical, como o Brasil, com elevadas temperaturas, umidade relativa do ar alta em boa parte do ano, e significativa intensidade de radiação solar, os animais são postos à prova constantemente, principalmente quando criados a pasto”, observa Garcia.

Características de adaptação definem critérios de seleção genética

Esse cenário exige a adoção de estratégias para melhorar a eficiência dos sistemas de produção por meio de intervenções positivas nos seus componentes bióticos e abióticos. “Entender como os bovinos se adaptaram ao longo do tempo e identificar aqueles que têm características desejáveis e que possam ser transmitidas geneticamente é fundamental para trabalhar critérios de seleção, visando à construção de gerações futuras de animais mais resilientes”, complementa.

O cientista explica que o estresse térmico é um dos principais fatores envolvidos na redução do desempenho e produtividade animal. Sob condições de desconforto pelo calor, os bovinos tentam dissipá-lo, ativando mecanismos tegumentares (da pele e estruturas anexas a ela), cardiorrespiratórios e endócrinos, essenciais para a adaptabilidade. Dessa maneira, algumas características morfológicas são cruciais para a adaptação térmica, afetando diretamente os mecanismos de troca de calor entre o animal e o ambiente.

O primeiro aspecto importante é a coloração do pelo. Quanto mais escura, menor é a capacidade de reflexão da luz solar, ou seja, mais radiação é absorvida. A maior parte do rebanho brasileiro é criado a pasto, sujeito a todas as variações e intempéries climáticas. Mas não basta ter o pelo claro, a densidade também é relevante. Quanto maior a cobertura de pelos, mais protegida a pele.

Também há que se observar o comprimento e a espessura dos fios. Pelos mais longos podem dificultar a perda de calor, o que é prejudicial no calor, mas positivo no inverno. Os fios ainda têm uma inclinação e esse ângulo tem influência na altura do pelame, que varia no inverno e no verão. Os pelos mais grossos asseguram maior proteção contra a radiação solar direta, protegendo a pele.

Para chegar ao resultado, o experimento avaliou cerca de 40 mil amostras de pelos de 64 touros adultos, durante 12 meses, aproximadamente, com medições repetidas no inverno e no verão. Foram acompanhados 32 animais da raça Nelore (Bos indicus) e 32 touros Canchim (composição: 5/8 Bos taurus × 3/8 Bos indicus), distribuídos igualmente entre dois sistemas de pastejo rotativo intensivo.

As raças e as diferentes influências no conforto térmico

Canchim

A pelagem do Canchim, que é uma raça formada a partir de animais zebuínos e animais taurinos da raça Charolês, tende a ser menos densa do que a do Nelore, resultando em uma menor quantidade de pelos por unidade de área. Os fios do Canchim são geralmente mais finos em comparação aos do Nelore. Essa menor espessura permite uma adequada troca de calor com o ambiente, sendo benéfica em climas mais temperados. Sua cor creme em várias tonalidades, até o amarelo claro, ajuda a refletir a radiação solar, reduzindo a absorção de calor.

O comprimento dos pelos da raça Canchim é intermediário, proporcionando uma cobertura suficiente para proteção contra insetos e fatores ambientais .

Devido à menor densidade e menor espessura dos fios, a pelagem facilita a dissipação de calor, o que é vantajoso em ambientes onde a temperatura pode variar significativamente. Isso contribui para a capacidade dos animais de se adaptarem a diferentes condições climáticas.

Nelore

A raça Nelore (exemplar na foto abaixo) é conhecida por sua excelente adaptação a climas tropicais. A pelagem é densa, com grande número de pelos por unidade de área. Essa densidade oferece uma barreira física significativa contra a radiação solar.

Foto: Juliana Sussai

Os fios são grossos, o que proporciona maior proteção contra a radiação direta e reduz a penetração de calor na pele.

A coloração geralmente varia do branco ao cinza claro. A cor clara ajuda a refletir a radiação solar, minimizando a absorção de calor e ajudando a manter a temperatura corporal.

O pelo curto facilita a dissipação de calor e evita o acúmulo de umidade e sujeira, contribuindo para a manutenção da saúde da pele.

As características na pelagem das duas raças são importantes para a termorregulação e desempenho. O Canchim, que possui alta capacidade de dissipação de calor, pode se adaptar melhor a variações climáticas. Enquanto isso, o Nelore, com uma pelagem que oferece proteção contra a radiação solar, é mais eficiente em manter a temperatura corporal estável em ambientes quentes.

Impacto e vinculação ao ODS 13

Foto: Alexandre Rossetto Garcia

Os resultados dessa pesquisa destacam a importância de considerar o conforto térmico e as características físicas da pelagem dos bovinos para otimizar o desempenho produtivo em diferentes sistemas de criação.

O estudo reforça a necessidade de integrar práticas agropecuárias sustentáveis para garantir a saúde e o bem-estar dos animais. A adoção de sistemas integrados, como a ILPF, pode ser uma estratégia eficaz para melhorar o conforto e a produtividade dos bovinos, beneficiando tanto os produtores, com ganho em produtividade, quanto o meio ambiente.

Os esforços dos pesquisadores para a mitigação e adaptação, envolvendo tecnologias, intervenções e melhores práticas de manejo que equilibrem prioridades ambientais, sociais    e econômicas estão vinculados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),  principalmente a meta 13, de ação contra a mudança global do clima. O trabalho determina novos caminhos para responder aos impactos da crise climática a que o planeta está submetido.

Além de Alexandre Rossetto Garcia, participaram do trabalho os cientistas da Embrapa Manuel Jacintho, Waldomiro Barioni Junior e Gabriela Novais Azevedo (bolsista na época da pesquisa); da Universidade Federal do Pará (UFPA), Andréa Barreto; da Universidade Federal Fluminense (UFF), Felipe Brandão; e da Universidade de São Paulo (USP), Narian Romanello. As instituições de ensino estrangeiras foram representadas por Alfredo Manuel Pereira (Universidade de Évora, Portugal) e Leonardo Nanni Costa (Universidade de Bolonha, Itália).

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Atraso no plantio da soja pode impactar outras culturas

Falta de chuvas que atinge grande parte do Brasil está afetando os rios desde a Amazônia até a Região Sul, com isso, apesar do encerramento do vazio sanitário da soja, não devemos observar grande avanço do plantio em setembro.

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Foto: Gilson Abreu

Na atualização de setembro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) manteve a produtividade das lavouras americanas em 3,6 t/ha (59,7 sc/ha). A falta de chuvas que atinge grande parte do Brasil está afetando os rios desde a Amazônia até a Região Sul. Apesar do encerramento do vazio sanitário da soja, não devemos observar grande avanço do plantio em setembro. O atraso da soja pode gerar consequências para outras culturas, como algodão e milho safrinha.

Balanço global de soja, em milhões de toneladas. Fonte: USDA

A produção dos EUA foi reduzida em 100 mil toneladas, enquanto os estoques americanos projetados para 2024/25 caíram 200 mil toneladas, para 15 milhões de toneladas. Ainda assim, o incremento sobre a safra passada é de 61,7%. O estoque final global sofreu leve reajuste para cima, +300 mil t ante agosto, enquanto as projeções de produção para Brasil e Argentina foram mantidas sem 169 e 51 milhões de toneladas, respectivamente.

Os rios Paraná e Paraguai estão próximos dos níveis mínimos do ano, o que tem atrapalhado a navegação e o transporte de grãos. O impacto nesse momento é limitado, por conta da sazonalidade dos embarques, mas as barcaças estão navegando com menor capacidade e maior tempo.

A perspectiva de atraso na consolidação do regime de chuvas no Brasil não deve permitir um plantio acelerado para a safra 2024/25. Os modelos apresentam alguma divergência em relação a entrada das frentes frias, porém o consenso é de que isso aconteça de forma irregular. Apesar da possibilidade de atraso, o cenário para a safra brasileira segue positivo, uma vez que a expectativa é de que, quando estabelecidas, as chuvas aconteçam dentro da normalidade.

A depender do atraso, podemos ver alguma migração da soja para algodão 1ª safra, diante da janela bem apertada de plantio da safrinha da fibra no Mato Grosso (MT). Além disso, o atraso da soja acaba retardando o plantio do milho segunda safra, aumentando os riscos climáticos para o desenvolvimento do cereal. Podemos ver também uma logística mais ociosa em janeiro, com a entrada mais tardia da soja.

Projeção da anomalia da precipitação para setembro. Fonte: NOAA (CFSv2)

Fonte: Consultoria Agro do Itaú BBA
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IFC

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