Suínos
Aditivos fortalecem o sistema imunológico e previnem doenças em tilápias
Para alcançar resultados potenciais, no entanto, manejo e qualidade da água são fundamentais, alerta Grupo de Estudos de Manejo na Aquicultura (GEMAq), da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
Na busca por soluções que fortaleçam o sistema imunológico e previnam doenças em criações de tilápias, os aditivos nutricionais têm se destacado como uma alternativa eficiente e sustentável. A importância desse tema foi abordada em uma palestra durante o 20º Seminário Estadual da Piscicultura, realizado em meados de agosto, em Maripá, PR, com o zootecnista e pesquisador do Grupo de Estudos de Manejo na Aquicultura (GEMAq), da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), professor Fabio Bittencourt.
O pesquisador ressaltou que é importante salientar que existem muitos aditivos que podem ser utilizados com diversos intuitos e, entre eles, aqueles que fortalecem o sistema imunológico dos peixes são destaque e têm sido utilizados como uma estratégia eficaz para fortalecer a saúde das tilápias. “As principais substâncias utilizadas atualmente são β-glucanos, prebióticos, probióticos, óleos essenciais (fitoextratos), ácidos orgânicos, entre outros. Essas substâncias atuam de diversas formas nos organismos dos peixes, desde a criação de uma barreira biológica que impede a invasão de microrganismos nocivos até a melhoria das ações do sistema imunológico por diferentes vias de ativação”, afirma.
Ele explica que além de fortalecer a saúde dos peixes, os aditivos nutricionais contribuem para reduzir a necessidade de tratamentos farmacológicos nas criações, proporcionando um ambiente mais saudável e evitando o uso excessivo de medicamentos. “A inclusão de aditivos nas rações pode auxiliar no bem-estar e no desenvolvimento das tilápias, evitando o uso de qualquer fármaco para profilaxia ou tratamento”, observa. Em entrevista exclusiva ao jornal O Presente Rural, ele acrescenta que a nutrição é apenas um dos elos que os produtores devem atentar-se. “É preciso ficar atento em diversos fatores, pois os peixes estão sujeitos a várias interferências que podem desafiá-los, constantemente, durante sua criação”.
Principais vantagens
Entre os principais benefícios dos aditivos nutricionais na saúde dos peixes, Bittencourt destaca quatro. O primeiro é que eles modulam o crescimento de bactérias benéficas à saúde e bem-estar dos peixes, evitando a proliferação de microrganismos patogênicos que tenham ações deletérias aos animais, Em segundo lugar, eles melhoram o sistema imune dos animais para que eles suportem os manejos e as alterações ambientais causadores de estresse. Em terceiro, reduzem o estresse oxidativo dos tecidos. Em quarto e não menos importante, estimulam a produção de células de defesa. “Quando os peixes são produzidos com todos os cuidados, eles podem expressar o potencial de crescimento e, até, melhorar a absorção dos nutrientes, reduzindo os resíduos metabólicos e melhorando a qualidade da água dos ambientes de criação”, explica.
Manejo, água e ração
Fábio também falou sobre a importância das práticas de manejo para minimizar o risco de doenças em criações de tilápias, enaltecendo que a qualidade da água dos sistemas de produção, aliado ao manejo alimentar, os cuidados com os utensílios utilizados e a preparação adequada dos viveiros antes do recebimento de novos lotes são aspectos fundamentais para garantir o desenvolvimento dos peixes. “O cuidado na rotina das atividades da piscicultura é essencial para minimizar a disseminação de patógenos entre e nos ambientes de produção. O primeiro ponto a ser observado é a qualidade da água dos sistemas de produção. Alterações bruscas na temperatura, no oxigênio dissolvido e no pH podem levar a efeitos distintos nos animais e um deles é a supressão do sistema imunológico, beneficiando os organismos patogênicos. Cuidados com os utensílios utilizados nos manejos dos animais podem evitar sobremaneira o aparecimento de doenças na criação”, recomenda.
Ele acrescenta que o manejo alimentar e a qualidade da ração a ser ofertada também são fundamentais para o desenvolvimento satisfatório dos peixes. “Escolher os melhores horários do dia para efetuar os manejos de despesca, seja ela para a classificação ou para o abate dos peixes. Todos os processos profiláticos de preparo dos viveiros antes do recebimento de um novo lote devem ser respeitados. Além de ter atenção no carregamento e transporte dos animais de uma propriedade a outra. São muitas as diretrizes que devem ser seguidas para que a piscicultura tenha sucesso durante o período de criação”, alerta.
O professor também enfatiza a importância do cuidado para que as rações atendam as exigências nutricionais dos animais em proteína, lipídeos, carboidratos, minerais e vitaminas. “Isso implica em vários fatores, pois o processamento da dieta e a escolha dos ingredientes são fundamentais para garantir o efeito desejado. Ao fornecer uma dieta completa, palatável e de alta digestibilidade, o cuidado passa a se voltar aos manejos adotados durante a produção. Mais uma vez, o principal ponto de observação é a qualidade da água dos viveiros. Fornecer alimento quando os parâmetros hídricos estão fora do recomendado é perda de tempo, de qualidade do ambiente de produção, de dinheiro e de saúde dos peixes. Portanto, o manejo e a nutrição são garantidores de sucesso na piscicultura”, adverte.
Segurança alimentar
O docente também discorreu sobre a segurança na utilização dos aditivos, destacando a nec essidade de escolher suprimentos que não sejam nocivos aos animais, ao ambiente e ao consumo humano, além da importância de seguir as dosagens recomendadas pelos especialistas e fabricantes. “Atentar-se a esses aspectos é fundamental para garantir a segurança alimentar dos produtos finais que são destinados ao consumo humano. É primordial que sejam sempre utilizados produtos com eficiência comprovada”, sugere.
Inovação tecnológica
Bittencourt destacou que a inovação tecnológica tem desempenhado um papel importante no avanço da nutrição e manejo de peixes, uma vez que os processos dentro do setor de produção de proteína animal têm permitido a intensificação e o aumento da produção de proteína de alto valor biológico, contribuindo para a sustentabilidade da aquicultura. “Os avanços tecnológicos vão em direção da manutenção adequada dos ambientes onde os animais estão confinados. Vale a pena enfatizar que a nutrição passa por essas etapas e atualmente temos excelentes rações disponíveis no mercado que dia após dia são melhoradas tanto em seus processos de elaboração quanto aos insumos utilizados. Da mesma maneira, as metodologias de manejo adotadas nas propriedades são constantemente avaliadas para se reduzir a manipulação e o estresse dos peixes”, evidencia.
Desafios
O pesquisador também fez um alerta a respeito dos desafios enfrentados pelos produtores a respeito da falta de informação e preparação técnica. “Em muitos casos, os produtores não detêm o conhecimento sobre quais substâncias serão utilizadas, quais suas maneiras de ação, a forma como o produto deve ser incluído nas rações, o formato como estão disponíveis no mercado (secos, líquidos, etc.), as dosagens ideais, entre outros. É necessário buscar assessoria para garantir a eficácia dos produtos”, pondera.
O professor destaca ainda que é muito importante que o produtor e os extensionistas estejam sempre atualizados e buscando informações que possam ser úteis no dia a dia da piscicultura. “A nutrição tem o objetivo de melhorar e dar suporte ao animal de maneira integrada e não só pensando no sistema imunológico de maneira isolada. Ainda, que a nutrição é somente uma das pontas importantes na cadeia produtiva e que a genética, o manejo e a ambiência são complementares e não devem ser esquecidos. Somos importantes produtores nacionais e mundiais, isso é resultado de muito trabalho, esforço, dedicação, pesquisa, desenvolvimento e, acima de tudo, profissionalismo”, finaliza.
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Suínos
Forte alta do suíno vivo eleva poder de compra frente ao milho pelo 8º mês
Pesquisadores do Cepea explicam que esse cenário decorreu das altas de preços do suíno vivo superiores às verificadas para os principais insumos utilizados na atividade – milho e farelo de soja, comparando-se as médias de agosto e setembro.
O poder de compra de suinocultores paulistas frente ao milho cresceu pelo oitavo mês seguido, conforme apontam levantamentos do Cepea.
Em relação ao farelo de soja, setembro foi o terceiro mês consecutivo de aumento no poder de compra.
Pesquisadores do Cepea explicam que esse cenário decorreu das altas de preços do suíno vivo superiores às verificadas para os principais insumos utilizados na atividade (milho e farelo de soja), comparando-se as médias de agosto e setembro.
Na região SP-5 (Bragança Paulista, Campinas, Piracicaba, São Paulo e Sorocaba), o suíno vivo foi negociado ao valor médio de R$ 8,95/kg em setembro, forte aumento de 5,8% em relação ao de agosto.
Inclusive, este foi o quinto mês seguido de valorização, de acordo com levantamento do Cepea.
Suínos Em Pato Bragado
Biogás diminui custos de produção e gera renda para suinocultores no interior do Paraná
Sistema instalado na granja da família Fincke solucionou o problema de dejeto dos animais e hoje mantêm a propriedade com a energia de biogás.
Quem vê a propriedade da família Fincke, em Pato Bragado, na região Oeste do Paraná, não imagina a dor de cabeça que eles tinham até pouco tempo atrás. Comandada por Carlito Fincke e os filhos Adilson e Jonas, os 30 alqueires de terra são divididos entre a produção de suínos, principal atividade, e as lavouras de soja e milho.
A suinocultura havia se tornado quase inviável na propriedade, devido aos custos elevados e questões ambientais. Até que eles encontraram uma solução: gerar a própria energia. A história da família Fincke, seus desafios e soluções, é tema da reportagem desta semana da série especial “Paraná, a Energia Verde que Renova o Campo”, produzida pela Agência Estadual de Notícias (AEN) e publicada às terças-feiras.
A família de produtores de Pato Bragado é mais um exemplo cabal do impacto que o apoio do Governo do Estado tem para os produtores e para o meio ambiente. O apoio se dá com programa RenovaPR, que subsidia o custo financeiro dos investimentos em equipamentos como biodigestores e painéis fotovoltaicos, a fim de incentivar e disseminar a energia limpa no campo. “Instalamos biodigestor e, assim, solucionamos o problema de dejeto dos animais, minimizamos o cheiro e as moscas, e estamos ganhando dinheiro, mantendo a propriedade também com a energia de biogás. Foi um salto muito grande nessa parte, além do meio ambiente. Temos que nos preocupar com os gases que a gente está lançando. Temos que ter consciência de ajudar”, afirma Adilson.
A atividade da família na produção de suínos começou com o pai em 2009 e logo cresceu com a entrada dos filhos no negócio, passando de 300 para sete mil suínos, distribuídos em seis granjas. Entretanto, à medida que o número de animais crescia, os problemas também aumentavam.
Os Fincke lidam com o suíno na sua fase final. A Unidade de Terminação (UT), como é denominado esse estágio, é o local em que os porcos chegam com cerca de 60 dias de vida e peso médio de 23 quilos (kg), e permanecem até alcançarem o peso de 120 kg, em um período de 120 dias de alojamento. Dali eles seguem para o frigorífico.
Durante quatro meses, os animais crescem, engordam, e com isso vem o obstáculo que acomete todo suinocultor: os dejetos. Adilson,
filho mais velho de Carlito, conta que os três tanques de esterco que existem na propriedade, hoje desativados, não davam conta de todo o material. “Quando chegamos nesses sete mil suínos percebemos que estávamos com problema. Chegamos a pagar para os vizinhos receberem esse dejeto porque não tínhamos o que fazer”, ressalta Adilson. “Fora o problema de carcaças. Às vezes chegávamos a enterrar os animais porque a composteira sempre estava cheia, não dava conta, além dos problemas de cheiro e de moscas”.
Foi então que um familiar deu a ideia. “Um tio chegou para nós e disse: ‘vocês estão perdendo dinheiro, deviam fabricar energia com toda essa matéria-prima’. Aí acendeu uma luz”, lembra o produtor. A luz a qual ele se refere era a produção de biogás, por meio de um biodigestor, resolvendo o problema de dejetos, uma vez que ele é transformado em gás, gerando energia, e o líquido, que também passa por um tratamento, transforma-se em biofertilizante para irrigação da lavoura.
Ideia aprovada pelos filhos, o próximo passo foi convencer o pai, relutante com o custo do investimento. “Quando fui ver o valor, meu pai já botou pedra. ‘Você não vai pegar R$ 700 mil para fazer um biodigestor e se aventurar’. Conversei com uma empresa que deu a ideia de tentarmos pelo RenovaPR, com juro zero”, lembra Adilson. “Deu certo, conseguimos nos enquadrar, convenci meu pai e começamos o projeto.”
RenovaPR
O Paraná Energia Rural Renovável (RenovaPR) foi criado pelo Governo do Estado com o objetivo de incentivar a produção de energia limpa e sustentável no campo. Desde 2021, ano de criação do programa, já foram mais de 26 mil usinas fotovoltaicas e ou de biogás instaladas.
Por meio de subsídio da taxa de juros, via Banco do Agricultor Paranaense, operacionalizado pela Fomento Paraná, o Estado banca parte ou a integralidade dos juros do financiamento para instalação de fontes de energia renováveis, como solar e biogás, no meio rural. É uma forma de baratear o custo da produção e contribuir para a preservação do meio ambiente. Além disso, o aproveitamento de dejetos de animais para produção de biogás, reduz a emissão de gases altamente poluentes no ar ou a contaminação do solo e de lençois freáticos, por exemplo.
O coordenador de Energias Renováveis no Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná), Herlon Almeida, ressalta que o objetivo do Estado é incentivar cada vez mais a instalação de biodigestores como forma de reduzir a emissão de poluentes no ar, gerar energia limpa, reduzir custos para quem produz e ainda acabar com os dejetos, obstáculo que mais afeta os produtores de animais, sejam suínos, bovinos ou aves. “O Governo do Paraná incentiva o biogás mais do que qualquer outra energia renovável porque, ao se fazer biodigestão, é realizado um tratamento, uma adequação ambiental, pois trata dejetos que normalmente impactam o meio ambiente e os transforma em riqueza, que é a energia do biogás, do biometano e, ainda, o digestato, que é o resíduo que sobra após a biodigestão e que pode ser convertido em fertilizante para uso agrícola”, explica Almeida.
Cenário do biogás
De acordo com levantamento do Centro Internacional de Energias Renováveis (Cibiogás), até 2023 eram 404 plantas de biogás instaladas no Paraná, com ampla folga na liderança a nível nacional. De 2022 para 2023, o número de plantas cresceu 54% — antes eram 262. O Estado responde por 29,59% das plantas de biogás no Brasil. Minas Gerais aparece em segundo lugar, com 348 unidades, e Santa Catarina, com 122.
Em termos de produção de biogás, a região Sul produziu 862 milhões de metros cúbicos normal (Nm³), sendo que o Paraná é responsável
por 53,4% desse volume, com 461 milhões de Nm³, crescimento de 20% em relação a 2022.
Em um biodigestor, os dejetos animais são decompostos por bactérias em um ambiente sem oxigênio. Durante esse processo, é produzido o biogás, uma mistura de metano e dióxido de carbono, que pode ser utilizado para gerar energia elétrica através de motores a gás. “Todos os projetos que temos têm um retorno sobre o capital investido de cerca de quatro a cinco anos. Para linhas de crédito de seis anos isso significa que, antes de vencer o financiamento, uma vez que ele é 100% financiado para o produtor, ele já recuperou o capital investido”, salienta o coordenador.
O financiamento dos Fincke foi de aproximadamente R$ 700 mil, com prazo de pagamento de dez anos e carência de três. Quando a granja opera com capacidade total de suínos, o biodigestor chega a gerar entre 25 e 30 mil quilowatts/mês, sem contar a energia que é utilizada na propriedade, para bombear o digestato na plantação de soja e milho, rico em nutrientes.
“O dejeto é um problema para todos os produtores de suínos. Não épossível jogar ele diretamente na lavoura, pois dessa forma ele danifica as plantas. E com os tanques todos cheios, não se consegue limpar o chiqueiro. Agora isso mudou”, celebra o suinocultor. “O tratamento do dejeto é outro. Os gases já foram embora, então você não prejudica o meio ambiente e até mesmo a própria lavoura. Você não está jogando um esterco cru, mas sim uma adubação de qualidade”, complementa Adilson. Com isso, os gastos com a compra de adubo também caíram.
Mais renda
Os Fincke decidiram vender a energia produzida pelo biodigestor, em vez de usar na propriedade. “O que sobra eu vendo para uma cooperativa específica de energia”, comenta. Com a comercialização, na casa dos R$ 15 mil mensais, eles conseguem quitar a parcela do financiamento e ainda sobra para pagar a conta de luz da granja, por volta de R$ 3 mil/mês.
Com o retorno, já existem projetos para ampliar a capacidade da granja. Um segundo tanque para digestato está em construção, enquanto que o primeiro permanecerá com o líquido em “descanso”, aumentando seu potencial fertilizador. Os planos também envolvem a quantidade de suínos. “Estamos estudando. Talvez fazer mais mais duas granjas, chegando a dez mil animais. As empresas querem concentrar tudo num só lugar, é mais fácil, mais cômodo para eles”, comentou.
Suínos no Paraná
O Paraná é o segundo maior produtor de suínos do Brasil, com pouco mais de 12 milhões de unidades em 2023 – 21,2% da produção nacional. O Estado fica atrás somente de Santa Catarina (29,5%) e à frente do Rio Grande do Sul (17%). O Valor Bruto da Produção (VBP) da suinocultura foi de R$ 12,5 bilhões em 2023.
De acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), o
Paraná é o terceiro maior exportador do Brasil, com 168 mil toneladas enviadas ao mercado internacional em 2023 e comércio com 75 países. Santa Catarina e Rio Grande do Sul completam o pódio, em primeiro e segundo lugares, respectivamente.
Série
A série de reportagens “Paraná, a Energia Verde que Renova o Campo” está mostrando exemplos de produtores rurais de todo o Estado que aderiram ao programa RenovaPR para implantar sistemas de energias renováveis em suas propriedades. Criado em 2021, o RenovaPR apoia a instalação de unidades de geração distribuída em propriedades rurais paranaenses e, junto ao Banco do Agricultor Paranaense, permite que o produtor invista nesses sistemas com juros reduzidos. Todas as reportagens da série podem ser conferidas neste link.
Suínos
Paraná desenvolve sistema para fortalecer biosseguridade nas granjas suínas
Médico-veterinário aponta pontos críticos que ameaçam a biosseguridade nas granjas suínas, destacando os principais fatores de risco e as medidas preventivas essenciais para mitigar a introdução e disseminação de patógenos.
A biosseguridade nas granjas de suínos tem sido amplamente discutida por todos os elos da cadeia, principalmente diante dos desafios atuais enfrentados pelo setor suinícola. Durante o Congresso de Suinocultores e Avicultores O Presente Rural, realizado em meados de junho em Marechal Cândido Rondon, no Oeste do Paraná, o médico-veterinário, mestre em Ciências Animais, auditor fiscal agropecuário e gerente de Saúde Animal da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar), Rafael Gonçalves Dias, trouxe à tona pontos críticos que ameaçam a biosseguridade nas granjas suínas, destacando os principais fatores de risco e as medidas preventivas essenciais para mitigar a introdução e disseminação de patógenos.
O profissional enfatiza que a biosseguridade em unidade de produção é essencial para evitar a entrada e a propagação de doenças no rebanho, garantindo a saúde dos animais e a sustentabilidade da produção suinícola. No Paraná, a Portaria 265, publicada em setembro de 2018, estabelece os itens estruturais que cada granja deve ter, conforme o modo produtivo, para proteger as unidades da disseminação de doenças e agentes infecciosos. Essa normativa define 14 critérios de avaliação para a prevenção externa e 10 para a prevenção interna, que são fundamentais para a manutenção da biosseguridade.
Dias adianta que a Adapar planeja ainda este ano sistematizar essas informações contidas na Portaria 265, mensurando e quantificando a situação atual das granjas paranaenses. “Para isso, será desenvolvido um sistema de informação que vai permitir a coleta de dados de caracterização das granjas de forma organizada e segura, processando-os por meio de um modelo multicritério para obter indicadores de biosseguridade”, antecipa.
Conforme o médico-veterinário, esse sistema será acessível via aplicativo web, proporcionando uma avaliação detalhada de biosseguridade de propriedade a propriedade. “Serão levantados dados críticos, como a origem dos animais e a presença de cercas de isolamento. Os resultados serão quantificados em níveis que variam de 1 a 5 para origem dos animais e de 1 a 9 para cercas, em escalas de 0 a 100, permitindo uma análise precisa e detalhada”, explica Dias.
Os dados coletados serão apresentados por meio de dashboards e mapas, possibilitando avaliar tanto as condições de granjas individuais quanto obter um panorama geral por integração e da região geográfica. “Essa visualização clara e integrada dos dados vai permitir identificar possíveis problemas e criar estratégias eficientes para implantar um plano de biosseguridade. Como resultado, teremos um dashboard detalhado de cada granja, facilitando a identificação de pontos críticos e a implementação de medidas corretivas. Com essas informações, será possível desenvolver e executar planos de biosseguridade personalizados, garantindo a proteção do rebanho e a sustentabilidade da produção suinícola no Paraná”, salienta.
A partir da implementação deste sistema de avaliação da biosseguridade nas granjas paranaenses de suínos, o auditor fiscal agropecuário menciona que a cadeia produtiva deve sofrer um impacto significativo, visto que aquelas propriedades que não terão condição de adequação para produção de suínos devem acabar saindo da atividade. “Não podemos colocar toda a cadeia de suínos em risco em função de uma ou outra propriedade que não tem condição estrutural de criar suínos”, ressalta Dias.
Isolamento da granja contra invasores
O gerente de Saúde Animal da Adapar afirma que entre os itens de biosseguridade mais importantes de uma unidade de produção suinícola devem estar as cercas. “As cercas são essenciais porque, entre os diversos problemas que temos no Brasil, estão os javalis. Precisamos ter essa barreira física para proteger nossas propriedades dos animais de vida livre e até mesmo dos animais domésticos, que podem trazer doenças para dentro do plantel suíno. As cercas blindam a entrada e protegem a criação”, argumenta Dias.
Os javalis representam uma ameaça significativa à biosseguridade das granjas, uma vez que migram facilmente de região e circulam de Norte a Sul do Brasil. Uma das doenças que essa espécie pode transmitir é a Peste Suína Clássica (PSC), colocando em risco a saúde dos suínos e a sustentabilidade da produção. “O novo sistema da Adapar vai permitir a coleta e análise detalhada de dados, facilitando a identificação de problemas e a implementação de estratégias de biosseguridade mais eficazes. Com isso, esperamos melhorar de forma significativa a proteção das granjas paranaenses, garantindo um ambiente seguro e saudável para a criação de suínos”, aponta Dias.
Ameaças à biosseguridade
Um ponto crítico para a biosseguridade nas granjas suínas é a presença de agentes patogênicos. Além da febre aftosa e do Senecavírus A, outras doenças vesiculares que afetam suínos são estomatite vesicular, exantema vesicular e doença vesicular em suínos (SVDV), as quais são consideradas exóticas e não circulam no Brasil. Dias ressalta que a grande ‘dor de cabeça’ do setor reside no Senecavírus A, que tem crescido a incidência da doença nas granjas nos últimos 10 anos. “Por causar lesões vesiculares, os sintomas são facilmente confundidos com febre aftosa, gerando muito estresse no campo”, frisa.
A questão não é exclusiva do Brasil, com a doença diagnosticada em países como os Estados Unidos, onde circula desde 1988; e há relatos recentes no Canadá, China, Nova Zelândia, Austrália, Tailândia, Colômbia e Chile. No Brasil, o Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás, Santa Catarina e Rio Grande do Sul relatam casos, mas nenhum em nível comparável ao estado paranaense. “Em 2022, o Paraná atingiu o pico da doença com mais de 1.700 casos”, destaca o médico-veterinário, contando que cerca de 70% dos municípios paranaenses nunca tiveram casos suspeitos da doença, enquanto 30% tiveram casos investigados entre 2005 e 2021. “Os primeiros meses do ano tendem a registrar um aumento nos casos, enquanto os meses mais frios mostram uma tendência de diminuição, uma variabilidade observada nos últimos 10 anos”, menciona Dias.
Desafios e soluções na identificação do Senecavírus A
O médico-veterinário aponta 12 principais desafios na identificação do Senecavírus A na suinocultura paranaense. O primeiro listado são as condições das propriedades, com animais sujos, que dificultam a verificação das lesões, seguido da falta de vistoria prévia por parte dos médicos-veterinários. O terceiro desafio diz respeito as lesões causadas por outros motivos, como traumas, frequentemente confundidas com febre aftosa. O quarto são as notificações infundadas feitas por muitos produtores por receio do serviço de inspeção.
O ponto seguinte está relacionado ao estresse no transporte dos animais, que pode ocasionar lesões, complicando o diagnóstico. O sexto desafio é que enquanto é aguardado a investigação da Adapar, o abate precisa ser interrompido, gerando problemas na estocagem até a obtenção dos resultados laboratoriais, sendo esta a sétima dificuldade encontrada pelo setor.
O oitavo desafio diz respeito às propriedades interditadas que acabam por comprometer as escalas de abate, situação esta atrelada ao nono desafio, que o tempo a mais que ficam nas propriedades podem deixar os animais estressados, podendo provocar o aparecimento de lesões. O décimo desafio está ligado ao tempo de reação da cadeia que, devido ao alto número de notificações, impede que os órgãos de defesa agropecuária, como a Adapar, atendam a todos os casos no tempo desejado.
A logística das amostras até o LFDA-MG é complexa e a vigilância de outras doenças é prejudicada para atender às notificações de Senecavírus A fecham o ranking dos 12 principais desafios na identificação da doença.
Entre as possíveis soluções para minimizar esses obstáculos apontadas por Dias incluem a implementação de intervalos entre lotes, desinfecção e vacinação, além de investimentos em biosseguridade. “Isso envolve edificações teladas e cercadas, ambientes limpos, água e ração de qualidade, trocas de roupas nas áreas limpas e evitar visitas de pessoas e veículos nas granjas”, evidencia, ressaltando: “A cadeia suína deve se preparar cada vez mais para novos desafios sanitários”.
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