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Abraves Paraná discute alternativas para um velho problema: a destinação de animais mortos

A visão de vários atores da cadeia produtiva foi apresentada no Encontro Regional Abraves-PR com o objetivo de lançar mão das melhores possibilidades de destinação, nos diferentes cenários da suinocultura brasileira. No Brasil, a pecuária precisa dar destinação a 1,6 milhão de tonadas de carcaças todos os anos.

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Fotos: Giuliano De Luca/OP Rural

O Encontro Regional Abraves (Associação de Medicos Veterinários Especialistas em Suínos) Paraná, que em março reuniu congressistas em dois dias de palestras técnicas sobre as atuais necessidades da suinocultura, promoveu um amplo debate sobre a destinação de animais mortos no setor produtivo. A visão de vários atores da cadeia produtiva foi apresentada no evento com o objetivo de lançar mão das melhores possibilidades de destinação, nos diferentes cenários da suinocultura brasileira. No Brasil, a pecuária precisa dar destinação a 1,6 milhão de tonadas de carcaças todos os anos.

O produtor rural Eloi Favero, da Associação Paranaense de Suinocultores (APS), falou sobre o destino de animais mortos nas granjas na visão do suinocultor. A visão da agroindústria e cooperativas foi abordada por Valdecir Mauerwerk, da Frimesa.

Já os desafios sanitários relacionados ao destino das carcaças de animais mortos foi o tema da palestra do presidente da Otamir Cesar Martins, da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar). O impacto ambiental da destinação dos animais mortos também foi abordado em apresentação de Rodrigo da Silveira Nicoloso, pesquisador da Embrapa.

Ainda da Embrapa, o pesquisador Luizinho Caron falou dos riscos inerentes à remoção de animais mortos das granjas para centrais de transformação, uma prática que está sendo ventilada para o setor, mas sofre muita resistência de profissionais do setor por conta dos altos riscos sanitários que apresenta.

As palestras abordaram ainda a utilização de animais mortos para produção de biogás, com o pesquisador Airton Kunz, da Embrapa, centrais para destinação de animais mortos, com o chefe geral da Embrapa Suínos e Aves, Everton Luis Krabbe, destino de carcaças de animais mortos no Paraná: aspectos legais, desafios estruturais e o que fazer para solucionar esse problema, com o presidente do Instituto Água e Terra (IAT Paraná), Volnei Bisognin, e demandas necessárias para elaboração de um programa nacional de destinação de animais mortos, novamente com o pesquisador Everton Krabbe.

Visão do suinocultor

Eloi Favero, da Associação Paranaense de Suinocultores

Favero, da APS, destacou que a ampla maioria dos produtores de suínos têm pequenas áreas de terra, composta basicamente com área de granja e lagoas, moradia de funcionários, pátios para caminhões, área de reserva legal e mata ciliar e uma parcela de área agricultável. Ele destacou que uma propriedade com mil matrizes gera cerca de 15 toneladas de animais mortos por ano.

Ele destacou que a primeira dificuldade é retirar os animais mortos das instalações, especialmente em granjas mais antigas, que não projetadas sem prestar atenção a isso. “Quando morre um animal dentro da sela parideira é muito difícil”, exemplificou.

Ele destacou as dificuldades da compostagem vivenciadas na propriedade, como falta de mão de obra para a tarefa. “As pessoas preferem pedir demissão do que ficar picando porco morto. Além disso, é uma tarefa repugnante, especialmente para mulheres. A gente houve relatos de que quando a pessoa vai para a composteira não consegue mais comer carne de porco”.

Ele destacou pontos importantes que devem ser considerados. “Temos que dar um destino adequado às carcaças sem correr nenhum risco sanitário, de estar disseminando doenças em nossos planteis, comprometendo a sustentabilidade da cadeia de produção. Precisamos de novos sistemas que otimizem o processo e o tempo de compostagem, mas que o custo seja acessível a todos os produtores. As empresas integradoras precisam se engajar para encontrar uma solução, já que os animais são de sua propriedade”, destacou, arrematando: “O atual sistema de compostagem está se tornando um problema social, na questão ambiental e na questão humana”.

Visão da agroindústria

Valdecir Mauerwerk, da Frimesa

O médico-veterinário Valdecir Mauerwerk, da Frimesa, destacou que o aumento de produtividade ano após ano nas granjas e do crescimento na produção previsto para os próximos anos vão aumentar ainda mais esse desafio. “Nossos clientes exigem cada vez mais onde estamos tratando esse material. Não podemos deixar de tratar desse assunto. Por outro lado, temos que pensar no bem-estar do produtor. A gente precisa olhar pra ele”, apontou.

Valdecir citou o caso da Frimesa, que hoje conta com 114 mil matrizes em seu processo produtivo. Somente a cooperativa gera cerca de 8.650 toneladas de animais mortos todos os anos, o equivalente a 24 toneladas por dia. “Detalhe: estamos falando de uma única integração. Veja a imensidão disso”, ressaltou.

Desse total, a ampla maioria é no processo de terminação dos suínos. São cerca de 1.140 toneladas de matrizes, 275 toneladas de leitões em maternidade, 1.235 toneladas de leitões em creche e 6 mil toneladas em suínos em terminações. “A destinação de carcaças de animais mortos e placentas ainda apresenta grandes dificuldades”, disse, citando as alternativas existentes, como “compostagem, rotoacelerador, triturador + tratamento térmico + biodigestor, desidratador de carcaças e enterrio”, mas também disse que “há necessidade de novas alternativas para a destinação”.

Entre as alternativas para o problema, citou “estratégias para redução de mortalidade, conscientização das pessoas envolvidas, necessidade de otimização de processos e a busca por novas tecnologias ou melhorarmos as já existentes”.

Desafios sanitários da destinação

Os desafios sanitários para a destinação de animais mortos foi o tema da palestra do presidente da Adapar, Otamir Cesar Martins. “Nós temos que pensar que temos aves, suínos e bovinos. Somos um Estado (Paraná) pequeno, com base na agricultura. Somos os maiores produtores de alimentos do Brasil. Somos o primeiro Estado em produção de aves, o segundo em suínos, o segundo maior produtor de leite, primeiro em piscicultura, segundo em ovos e décimo em carne bovina. Isso traz consequências, como aumento da população de animais, o aumento do risco sanitário, especialmente porque retiramos a vacina contra aftosa, necessidade de aumento da vigilância e destinação de dejetos e carcaças”, frisou. “Há no Paraná essa grande concentração de animais e temos que pensar na destinação de animais mortos”, ampliou.

Martins destacou que o Serviço Veterinário Oficial precisa da participação dos serviços veterinários não oficiais. “Isso é uma recomendação da OIE (Organização Mundial de Saúde Animal)”, orientou.

Presidente da Adapar, Otamir Cesar Martins

Em um ponto polêmico, Martins destacou a possibilidade de fazer o transporte de animais para fora das fazendas, em centrais de recebimentos desses resíduos, que seriam locais adequados para a destinação e eliminação de riscos. No entanto, frisou que a atividade, mesmo que autorizada por normativa de 2019 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, gera riscos no transporte. “O recolhimento de carcaças por empresa credenciada pode ocorrer quando houver morte natural do animal, morrer por doenças de produção, acidente de manejo, acidente no transporte, intempéries ou, com autorização da Adapar, em casos de doenças de programa”.

Ele destacou que os produtos gerados a partir desse processamento podem ser usados como insumos para as indústrias química e energética, adubo, biodiesel e insumos para produtos de higiene e limpeza.

“O recolhimento de carcaças é uma alternativa, porém há um risco sanitário. A disseminação de doenças, como a Peste Suína Africana, a Peste Suína Clássica e a Febre Aftosa, no transporte de animais vivos ou mortos é um ponto de risco, deve ser executado com muita responsabilidade por todos os envolvidos”, frisou.

Impacto ambiental da destinação

Rodrigo Nicoloso, da Embrapa

O engenheiro agrônomo Rodrigo da Silveira Nicoloso, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, destacou a importância de dar fim a esses resíduos orgânicos causando impacto de maneira controlada, especialmente usando esse material para produzir fertilizantes e usar nas lavouras. É preciso uma gestão integrada dos resíduos nas propriedades rurais”, pontuou.

Ele destacou uma nova forma de fazer leiras para a compostagem, que está sendo validada pela Embrapa, com animais inteiros. “É uma tecnologia que dá menos trabalho para o produtor com custo acessível”, pontuou.

Nesse sistema, destacou Nicoloso, é para todos, de pequenas a grandes propriedades. “Tem um baixo investimento, basicamente a cerca de contenção e isolamento, com tempo de compostagem de aproximadamente 60 dias, dependendo do tamanho do animal, e pode ser usado depois como adubo orgânico para áreas de grãos ou reflorestamento”, sustentou. Ele destacou que a tecnologia de compostagem com animais inteiros funciona melhor com cobertura de 60 centímetros. Isso evita o chorume e aumenta a temperatura nas leiras que inativa os microrganismos.

Ele destacou outras tecnologias, como compostagem tradicional, compostagem acelerada e biodigestão anaeróbia. Nicoloso destacou, no entanto, que cada é usada de acordo com o tamanho das propriedades.

Riscos de remoção de animais

Luizinho Caron, da Embrapa

Luizinho Caron, da Embrapa, demonstrou estudo sobre os riscos que a remoção das fazendas dos suínos mortos oferece. Ele recomenda mais estudos como a simulação da Embrapa apresentada por ele para garantir qualidade nesse tipo de serviço. No estudo foram listados perigos microbiológicos, dos quais 49 agentes bacterianos e 45 agentes virais. Desses, 46 agentes bacterianos e 24 agentes virais foram identificados em rebanhos brasileiros. O estudo da Embrapa, envolveu três cenários.

“As incertezas podem ser reduzidas caso mais dados científicos dos agentes infecciosos sejam obtidos”, destacou, lembrando que a Embrapa disponibiliza suas publicações que tratam da remoção de animais mortos e riscos microbiológicos envolvidos para toda a cadeia suinícola.

Carcaça produz mais biogás que o dejeto

“Eu começo com uma premissa. Para mim, (animal morto) não é resíduo, para mim é substrato. Esse material tem muita energia guardada e uma capacidade muito grande de geração de biogás”, introduziu o também pesquisador da Embrapa Airton Kunz, que destacou a oportunidade de transformar o passivo em um ativo.

Ele destacou que todos os dejetos e carcaças podem produzir energia. “Temos os dejetos, com diferentes composições e concentrações, em função dos diferentes tipos de sistemas produtivos, temos resíduos como placentas e natimortos e temos os animais mortos não abatidos, que não são uma novidade”, destacou, lembrando que a composição.

Airton Kunz, da Embrapa

No entanto, destacou que estudo da Embrapa demonstra que as carcaças são melhores substratos para a produção do gás. “A digestão anaeróbia é uma alternativa promissora. Se fizer manejo correto, a carcaça é excelente substrato para produção de biogás. A carcaça animal possui um potencial de produção de biogás cinco vezes maior do que os dejetos”, apontou Kunz. “Se você oferece carcaça para o biodigestor eu fico feliz”, emendou. No entanto, o excesso de carcaças nos biodigestores pode atrapalhar. “A gente faz uma codigestão, com dois substratos”, destacou, alertando para o equilíbrio do pH. “.

A trituração das carcaças também precisa ser feita para melhorar o processo de biodigestão, assim como a o tratamento térmico é indicado para inativação de patógenos. “A gente pode usar o calor do grupo motogerador. A gente perde calor dos nossos sistemas de geração de energia elétrica”, orientou. “Calor é energia, é dinheiro”, ampliou, destacando que todos esses processos, de trituração, higienização e alimentação do biodigestor precisam ser automatizados.

Outro desafios 

Centrais para destinação de animais mortos, com o chefe geral da Embrapa Suínos e Aves, Everton Luis Krabbe, e destino de carcaças de animais mortos no Paraná: aspectos legais, desafios estruturais e o que fazer para solucionar esse problema, com o presidente do Instituto Água e Terra (IAT Paraná), Volnei Bisognin, encerraram a programação sobre a destinação de animais mortos do Encontro Abraves Paraná.

Para ficar atualizado e por dentro de tudo que está acontecendo no setor suinícola e da piscicultura acesse gratuitamente a edição digital Suínos e Peixes.

Fonte: O Presente Rural

Suínos

Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura

Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

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Foto: Divulgação/Swine Day

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.

O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.

As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.

Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.

Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.

Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.

Fonte: O Presente Rural
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Suínos

Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças

Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

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Foto: Shutterstock

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.

Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.

No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.

Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.

Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.

Fonte: Assessoria Cepea
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Suínos

Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde

Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

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Foto: Jonathan Campos

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.

Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock

Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.

Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.

O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.

Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.

Fonte: O Presente Rural com informações Itaú BBA Agro
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