Suínos
Abatedouros inteligentes: como os dados do frigorífico podem transformar a produção suína?
Tem espaço para inovação e interação com o setor agropecuário, porque no abate são evidenciadas as consequências do que é praticado no campo.
A união entre todos os elos da cadeia produtiva é o que faz a diferença. Ter um sistema sustentável é essencial desde o campo até a indústria. Por isso é importante que todos estejam comprometidos em realizar um trabalho exemplar. Dessa forma, é importante que o abatedouro também se veja como um elo importante da cadeia. É onde o músculo do suíno se transforma em carne e se concretiza a missão de produzir proteína animal de qualidade para alimentar as pessoas. Mais que isso, usar com mais eficiência os dados do abatedouro pode contribuir para uma série de melhorias nas etapas anteriores.
“O abate é uma etapa estratégica da produção. No sistema verticalizado todos animais de uma “unidade” geográfica passam pelo mesmo abatedouro. Os dados ali produzidos podem alimentar programas estruturais da suinocultura, como genética, sanidade, rastreabilidade, redução de patógenos, sustentabilidade, entre outros”, destaca a pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, Jalusa Deon Kich.
Para ela, não há fronteiras para o papel do abatedouro. “Tem espaço para inovação e interação com o setor agropecuário, porque no abate são evidenciadas as consequências do que é praticado no campo. Baseado nas informações obtidas no abate, são criadas metas e definido foco de investimento e melhorias. Na direção de atrair e atender os interesses do consumidor, a tecnologia pode ser incorporada no sentido de aumentar a variabilidade na apresentação dos produtos, melhorando em praticidade e saudabilidade”, destaca a especialista, que é uma das palestrantes do SBSS (Simpósio Brasil Sul de Suinocultura), em Chapecó (SC).
Jalusa aborda uma visão holística do papel do abatedouro como cliente do sistema de produção. “Nossa suinocultura já é majoritariamente verticalizada e regulada nos diferentes elos da cadeia, desde a fábrica de ração até o produto no varejo, com controles oficiais e programas de autocontrole. Portanto, uma visão holística deve trazer ferramentas para integração e análise de dados que se convertam em informação compreensível, capaz de indicar falhas de processo, com capilaridade até o ponto onde a intervenção deve acontecer”.
Oportunidades de ponta a ponta
De acordo com ela, ainda há várias oportunidades para reduzir perdas ao abate tanto no campo quanto no abatedouro. “Como sempre, é necessário iniciar por um diagnóstico das ocorrências e das perdas econômicas relativas, ou seja, saber o que ocorre e fazer as contas. Neste diagnóstico, as perdas podem ser classificadas pela etapa da sua origem como: tecnológica para aquelas que ocorrem dentro da planta; pré-abate para perdas relacionadas a lesões e manejo inadequado no momento do embarque, transporte, desembarque; e agropecuárias, que são aquelas que refletem as práticas de produção nas granjas”.
A pesquisadora explica que depois do diagnóstico realizado e as perdas relativas medidas, deve ser traçado um plano de ação de curto e médio prazo. “Frequentemente, as intervenções são incorporadas ao planejamento de melhoria contínua do setor específico. Por exemplo, se dentro do abatedouro está ocorrendo falha na evisceração por problema de inabilidade técnica, isso pode ser corrigido com algum direcionamento no programa de treinamento, em curso, de forma barata. Por outro lado, quando grandes perdas são geradas pela condenação de carcaças devido à ocorrência de canibalismo associado à pneumonia embólica, por ter uma causa multifatorial que ocorre em diferentes fases da produção, às vezes relacionado à estrutura da granja e volume de produção, o investimento é maior e a tomada de decisão passa por instâncias mais complexas. No caso de perdas no pré-abate, por exemplo, as soluções virão da implementação dos programas de bem-estar”, informa.
Ela explica ainda que é interessante perceber que embora os abatedouros mantenham os mesmos processos, são todos diferentes, e as queixas em relação às perdas também não são exatamente as mesmas. “Em termos de desafios internos de abatedouros, eu elenco dois: um estrutural, em função de termos muitas plantas antigas no Brasil, com dificuldades de adaptação para novos processos, que ampliam o papel do abatedouro; e o outro de pessoal. A troca de funcionários é muito frequente, o que demanda treinamento constante e uma dificuldade intrínseca de manter todas estações de trabalho na sua eficiência máxima diariamente”.
Trabalho conjunto
Segundo Jalusa, com informação, conhecimento, reciclagem e a percepção corporativa que vai além da porteira precisa ser incorporada a todos os atores da cadeia produtiva. “É preciso que todos entendam que produzimos carne; cada animal que não vira carne, que é perdido especialmente no abate é um fracasso do sistema. Ele usou toda energia do ciclo de produção para se transformar em um subproduto e passivo ambiental”, comenta.
Ela explica que o produtor deve executar as boas práticas de produção, sanidade e bem-estar, como é orientado tecnicamente para fazer, e toda orientação tem um motivo que deve ser compreendido pelo produtor. Existem questões importantes para redução da ocorrência de doenças endêmicas que demandam investimento nas granjas, mas também mudanças no fluxo e organização da produção. Estas são mais custosas para o sistema”, reflete.
Além disso, a pesquisadora destaca que o abatedouro não consegue corrigir problemas que vêm do campo. “Talvez o desafio neste sentido seja a comunicação interna que possibilite a utilização das informações técnicas e econômicas do abatedouro para intervenção no campo. Para mim, esta é a riqueza do feedback”.
De acordo com ela, abordar um tema que posiciona o abatedouro como um “cliente” do campo é uma boa analogia. “Muitas são as evidências de falhas da produção que aparecem no abatedouro. Podemos citar a violação de limites de resíduos na carne, detectados em programas oficial e de autocontrole, os autos de infração dados pelo SIF em função de não conformidades como animais sujos, violação do tempo de jejum, marcas de agressão, animais inviáveis com sinais de problemas que aconteceram na granja, entre outros”, diz.
Jalusa explica que os dados de causas dos desvios para o DIF e condenações relativas ao setor agropecuário até o embarque dos animais dizem respeito às etapas de produção. “Todas essas informações devem ser consolidadas, analisadas e traduzidas de forma prática e direta para os técnicos e produtores. Faz parte dessa análise considerar se o achado é ocasional ou se se trata de um “surto” e precisa de uma intervenção imediata”.
Qualidade deve ser o foco
A especialista destaca que é no abatedouro que é realizada a vigilância ativa para proteção do consumidor por meio da inspeção sanitária. “Este sistema robusto de inspeção presencial na planta é um dos passaportes para acesso e manutenção de mercados, portanto é um passaporte. Digo isso mais no sentido de que quando a matéria-prima não serve para o consumo humano, ela deve ter outro destino. Queremos reduzir desperdícios, obviamente, pela sustentabilidade da cadeia, mas a qualidade deve estar garantida”, destaca.
Ela diz que em termos de qualidade intrínseca da carne oriunda da genética, alimentação, tempo de transporte e de espera no abate, o produtor não tem muito o que fazer. Porém, os manejos que estressam os animais, como choques, pancadas, amontoamento na retirada da granja e embarque nos caminhões ocasionam carne DFD (dark, firm, dry – escura, dura e seca, em inglês), e aumentam os casos de fraturas e hematomas.
Exemplos práticos
As boas práticas de produção e manejo sanitário são essenciais para reduzir perdas ao abate. O trabalho realizado desde o campo até o abatedouro é que faz a diferença. “Como exemplo fáceis posso citar as plantas que registram muitas perdas em relação a lesões pulmonares hemorrágicas com exsudato e fibrina abundante. Neste caso, a identificação do patógeno, com ações específicas como o reposicionamento do programa de vacina, reduz o problema e melhora o rendimento do abate”.
Outro exemplo citado pela pesquisadora é a ocorrência de abcessos no pescoço, em função de agulhas contaminadas ou injetáveis (medicamentos/vacinas) muito reativos. “Neste caso, também se pode lançar mão de diagnóstico microbiológico e histopatológico para entender do que se trata para orientar a intervenção. O treinamento em relação à troca e higiene das agulhas ou à busca de um injetável menos reativo resolvem o problema”, informa.
De acordo com ela, a boa execução do jejum pré-abate melhora sobremaneira o extravasamento de conteúdo estomacal e perdas por contaminações, de vísceras e carcaças. “Dentro do abatedouro, pequenas alterações de processos, que corrijam o extravasamento de conteúdo fecal, como o posicionamento dos operadores que fazem a oclusão e fechamento retal, reduzem as perdas pós-evisceração. Acréscimo de estação de trabalho para que toaletes, previstas na legislação, possam ser realizadas na linha, sem serem encaminhadas ao DIF, reduzem perdas acarretadas por algumas limitações estruturais das plantas”, aponta a palestrante.
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Importância do diagnóstico para controle de diarreia em leitões de maternidade
Ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais.
Artigo escrito por Lucas Avelino Rezende, consultor de Serviços Técnicos de suínos na Agroceres Multimix
Uma das causas mais frequentes de morte de leitões na maternidade, sem dúvidas, é a diarreia neonatal, que pode ser causada por diversos fatores, incluindo infecções bacterianas, virais ou parasitárias, bem como problemas nutricionais ou ambientais.
Por ser multifatorial, a simples presença de patógenos entéricos nem sempre é suficiente para produzir doença clínica. Diante disso, é importante saber que é necessário haver uma interação hospedeiro-ambiente-patógeno. Diferenças em práticas específicas de manejo e ambiente, bem como características do animal e do rebanho, podem influenciar muito o risco de ocorrência da doença.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento na ocorrência da diarreia pré-desmame, como: leitões de baixo peso ao nascer, baixa temperatura ambiental levando ao estresse pelo frio, higiene ruim da gaiola de parição, ingestão de leite e colostro insuficientes e o número insuficiente de tetos para a prole.
As principais causas infecciosas de diarreia em leitões na maternidade no Brasil são as Clostridioses, Colibacilose, Rotaviroses e Coccidiose. Em alguns casos, a coinfecção de dois ou mais agentes podem estar presentes e agravar o caso de diarreia.
A sobrevivência de leitões é influenciada por vários fatores, incluindo ordem de nascimento, peso ao nascer, ingestão de colostro e níveis séricos de imunoglobulina G (IgG). Esses fatores interagem de maneiras complexas para determinar a suscetibilidade do leitão a doenças e a saúde geral.
Um importante ponto para entender a dinâmica do surgimento de diarreias na maternidade é a avaliação da ingestão de colostro pelos leitões, uma vez que é essencial para a imunidade passiva dos leitões recém-nascidos, já que não há transferência de imunoglobulinas e outros componentes da imunidade materna para os leitões via transplacentária.
De modo geral, granjas com baixo peso ao nascimento ou uma grande variabilidade do tamanho dos leitões nascidos são aquelas mais desafiadas com diarreias na maternidade, porque leitões com menor peso ao nascer podem ter dificuldade em consumir colostro suficiente, resultando em níveis mais baixos de IgG e maior suscetibilidade a infecções.
O diagnóstico clínico da causa da diarreia em leitões pode ser subjetivo e propenso a erros. Fatores como estresse, condições ambientais e outros problemas de saúde subjacentes podem ser muito semelhantes aos sintomas da diarreia. Para isso, devemos desenvolver critérios de diagnóstico mais objetivos para diarreia em leitões, como: monitorar os leitões desde o nascimento, permitindo a detecção precoce da doença, incorporar testes laboratoriais (por exemplo, consistência fecal, pH e níveis de eletrólitos), realizar necropsias e exames complementares a detecção viral ou bacteriana, como histopatologia e imuno-histoquímica.
Diagnóstico
Um diagnóstico preciso ajuda a determinar a etiologia da diarreia, que pode variar desde infecções bacterianas, virais ou parasitárias, até problemas metabólicos ou nutricionais. Um dos pilares para isso é a coleta adequada de amostras. Ela permite a identificação dos agentes etiológicos, avaliação da resposta imune e a monitorização da eficácia das terapias.
A escolha do tipo de amostra dependerá do agente etiológico suspeito e dos objetivos do exame. As amostras mais comuns incluem:
- Fezes: A coleta de fezes é o método mais simples e acessível. É importante coletar amostras frescas e representativas de diferentes animais do lote. Para suspeitas virais é importante coletar sempre de animais na fase aguda da doença, quando a eliminação viral é maior. Para casos de suspeita parasitária é importante associar o diagnostico com histopatologia, uma vez que a eliminação do Cystoisospora é intermitente.
- Sangue: A análise do sangue permite avaliar a resposta imune, a presença de anticorpos e detectar alterações bioquímicas.
- Conteúdo intestinal: A coleta do conteúdo intestinal é indicada para a identificação de patógenos que colonizam o intestino delgado ou grosso.
- Tecidos: A coleta de tecidos para histopatologia é parte fundamental e complementar as análises de cultivo bacteriano e detecção viral nas fazes ou conteúdo intestinal.
A coleta de amostras deve ser realizada de forma cuidadosa para evitar a contaminação e garantir a qualidade do material. Os recipientes utilizados para a coleta das amostras devem estar limpos e esterilizados para evitar a contaminação por outros microrganismos. De modo geral, é importante que as amostras sejam bem refrigeradas e nunca congeladas, uma vez que o processo de congelamento pode inviabilizar o cultivo bacteriano.
Após a coleta das amostras, diversos métodos podem ser utilizados para o diagnóstico, dentre eles cultura que possibilita a identificação e o isolamento de bactérias, PCR que detecta a presença de DNA ou RNA de vírus, bactérias com alta especificidade, sorologia para pesquisa de anticorpos contra os agentes infecciosos, indicando uma infecção prévia ou atual e a histopatologia que permite a avaliação de lesões histológicas e a identificação de agentes infecciosos em tecidos.
A histopatologia desempenha um papel crucial no diagnóstico preciso de doenças intestinais em leitões. Através da análise microscópica de tecidos, é possível identificar lesões características de diversas doenças, auxiliando na diferenciação entre condições infecciosas, inflamatórias, neoplásicas e degenerativas.
A escolha do método de coleta de amostra e do exame laboratorial dependerá do agente etiológico suspeito, da fase da doença e dos recursos disponíveis. A correta coleta e o transporte das amostras são essenciais para garantir a qualidade dos resultados.
A interpretação correta dos resultados dos exames laboratoriais é crucial para o diagnóstico preciso e o tratamento adequado da diarreia em leitões. Ela envolve a análise dos dados obtidos, a correlação com os sinais clínicos e a consideração de outros fatores, como a idade dos animais, as condições de manejo e a história epidemiológica do plantel.
Em resumo, o diagnóstico é uma ferramenta essencial no combate à diarreia em leitões de maternidade, uma vez que permite ações direcionadas e eficazes para controlar e prevenir a doença, garantindo a saúde e o bem-estar dos animais.
As referências bibliográficas estão com o autor. Contato: marketing.nutricao@agroceres.com.
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Especialista evidencia importância de os profissionais da cadeia suinícola entenderem o que é sustentabilidade
Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção.
Na suinocultura, a sustentabilidade se tornou um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais do setor. O médico-veterinário José Francisco Miranda, especialista em Qualidade de Alimentos, destaca que a compreensão desse conceito é fundamental para que zootecnistas e veterinários contribuam efetivamente para a produção sustentável de suínos. “É preciso entender que a sustentabilidade não é custo, mas investimento”, afirma.
Ele ressalta que, ao longo dos últimos 15 anos, a discussão sobre práticas sustentáveis esteve frequentemente atrelada a um aumento nos custos, envolvendo ações como o plantio de árvores e a adequação da dieta dos animais. “Essas práticas eram vistas como um custo, o profissional precisa desmistificar essa visão. Na verdade, boas práticas de produção estão intimamente ligadas a resultados positivos”, explica.
Para Miranda, a eficiência na conversão alimentar é um exemplo claro de como sustentabilidade e produtividade caminham juntas. “Não existe produção com alta conversão alimentar que não seja sustentável. Os números de emissões são baixos quando a eficiência é alta”, ressalta.
Um ponto destacado pelo especialista é o papel dos zootecnistas e nutricionistas na cadeia produtiva. “Esses profissionais são fundamentais para a gestão do custo da indústria, pois a ração representa cerca de 70% do custo de produção. E cada vez mais eles terão um papel significativo na implantação da sustentabilidade dentro das empresas”, afirma.
O entendimento das análises de sustentabilidade e das tecnologias disponíveis é essencial. Miranda menciona, como exemplo, o uso de aditivos nutricionais, como a protease, que permite reduzir a quantidade de soja na ração. “Com isso, é possível diminuir a pegada de carbono em até 12%. No entanto, menos de 40% dos produtores no mundo utilizam essa tecnologia, o que revela uma falta de informação e confiança na eficácia desses produtos”, expõe.
Comunicação e conscientização
Para que as informações sobre sustentabilidade sejam disseminadas na suinocultura é fundamental que os profissionais comuniquem os benefícios dessas práticas não apenas entre si, mas também para a alta direção das empresas. “Os profissionais precisam trazer essa informação para a gestão, conscientes de que a sustentabilidade deve ser uma estratégia de crescimento, não apenas uma preocupação financeira”, destaca Miranda.
O especialista também ressalta a importância de uma colaboração entre academia, indústria e governo para facilitar a adoção de novas tecnologias. “Cada parte da cadeia produtiva deve contribuir para acelerar esse processo. É um esforço coletivo que envolve desde a produção até a comercialização”, enfatiza.
Compromisso do setor
Miranda acredita que o setor está comprometido com a adoção de práticas sustentáveis, embora reconheça a necessidade de discussão sobre o que é realmente necessário para essa transição. “As empresas entendem que a sustentabilidade traz benefícios não apenas para o planeta, mas também para sua própria lucratividade, mas é preciso acelerar a implementação destas práticas sustentáveis”, frisa,
Para se destacar neste cenário, Miranda enfatiza que os profissionais devem se aprofundar nas análises de sustentabilidade e na análise do ciclo de vida dos produtos. “Um bom profissional deve entender desde a produção do grão até o produto final que chega ao consumidor. Se ele se restringir a uma única área, pode perder de vista os benefícios que sua atuação pode trazer para toda a cadeia”, salienta.
A visão do especialista reforça que a sustentabilidade na suinocultura não é uma tendência passageira, mas uma necessidade imediata. “A adoção de práticas sustentáveis, aliada ao conhecimento técnico e científico, é fundamental para garantir um futuro mais responsável e eficiente para a indústria suinícola”, afirma.
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Suinocultura teve ano de recuperação, mas cenário é de cautela
Conjuntura foi apresentada ao longo de reunião da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep. Encontro também abordou segurança do trabalho em granjas de suínos.
Depois de dois anos difíceis, a suinocultura paranaense iniciou um período de recuperação em 2024. As perspectivas para o fim deste ano são positivas, mas os primeiros meses de 2025 vão exigir cautela dos produtores rurais, que devem ficar de olho em alguns pontos críticos. O cenário foi apresentado em reunião da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema Faep, realizada na última terça-feira (19). Os apontamentos foram feitos em palestra proferida por Rafael Ribeiro de Lima Filho, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A mesma conjuntura consta do levantamento de custos de produção do Sistema Faep, que será publicado nos próximos dias.
O setor começou a se recuperar já em janeiro deste ano, com a retomada dos preços. Até novembro, o preço do suíno vivo no Paraná acumulou aumento de 54,4%, com a valorização se acentuando a partir de março. No atacado, o preço da carcaça especial também seguiu esse movimento. A recomposição ajudou o produtor a se refazer de um período em que a atividade trabalhou no vermelho.
Por outro lado, a valorização da carne suína também serve de alerta. Com o aumento de preços, os produtos da suinocultura perdem competitividade, principalmente em relação à carne de frango, que teve alta bem menor ao longo ano: o preço subiu 7,7%, entre janeiro e novembro. Com isso, a tendência é que o frango possa ganhar a preferência do consumidor, em razão dos preços mais vantajosos.
“Temos que nos atentar com a competitividade da carne suína em relação a outras proteínas. Com seus preços subindo bem menos, o frango se tornou mais competitividade. Isso é um ponto de atenção para a suinocultura, neste cenário”, assinalou Lima Filho.
Exportações
Com 381,6 mil matrizes, o Paraná mantém 18% do rebanho brasileiro de suínos. A produção nacional está em estabilidade nos últimos três anos, mas houve uma mudança no portifólio de exportações paranaenses. Com a recomposição de seus rebanhos, a China reduziu as importações de suínos. O país asiático – que chegou a ser o destino de 40% das vendas externas paranaenses em 2019 – vai fechar 2024 com a aquisição de 17% das exportações de suínos do Paraná.
Em contrapartida, os embarques para as Filipinas aumentaram e já respondem por 18% das vendas externas de carne suína do Estado. Entre os destinos crescentes, também aparece o Chile, como destino de 9% das exportações de produtos da suinocultura paranaense. Nesse cenário, o Paraná deve fechar o ano com um aumento de 9% no volume exportado em relação a 2023, atingindo 978 mil toneladas. Os preços, em compensação, estão 2,3% menores. “Apesar disso, as margens de preço começaram a melhorar no segundo semestre”, observou Lima Filho.
Perspectivas
Diante deste cenário, as perspectivas são positivas para este final de ano. O assessor técnico da CNA destaca fatores positivos, como o recebimento do 13º salário pelos trabalhadores, o período de férias e as festas de final de ano. Segundo Lima Filho, tudo isso provoca o aquecimento da economia e tende a aumentar o consumo de carne suína. “A demanda interna aquecida e as exportações em bons volumes devem manter os preços do suíno vivo e da carne sustentados no final deste ano, mantendo um momento positivo para o produtor”, observou o palestrante.
Para 2025, se espera um tímido crescimento de 1,2% no rebanho de suínos, com produção aumentando em 1,6%. As exportações devem crescer 3%, segundo as projeções. Apesar disso, por questões sazonais, os produtores podem esperar uma redução de consumo nos dois primeiros meses de 2025. “É um período em que as pessoas tendem a ter mais contas para pagar, como alguns impostos. Além disso, a maior concorrência da carne de frango pode impactar a demanda doméstica”, disse Lima Filho.
Além disso, o aumento nos preços registrados neste ano pode estimular o alojamento de suínos em 2025. Com isso, pode haver uma futura pressão nos preços nas granjas e nas indústrias. Ou seja, o produtor deve ficar de olho no possível aumento dos custos de produção, puxado principalmente pelo preço do milho, da mão de obra e da energia elétrica. “O cenário continua positivo para a exportação, mas o cenário para o ano que vem é de cautela. O produtor deve se planejar e traçar suas estratégias para essa conjuntura”, apontou o assessor da CNA.
Segurança do trabalho
Além disso, a reunião da CT de Suinocultura da FAEP também contou com uma palestra sobre segurança do trabalho em granjas de suínos. O engenheiro e segurança do trabalho e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sandro Andrioli Bittencourt, abordou as Normas Regulamentadoras (NRs) que visam prevenir acidentes de trabalho e garantir a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.
Entre as normativas detalhadas na apresentação estão a NR-31 (que estabelece as regras de segurança do trabalho no setor agropecuário), a NR-33 (que diz respeito aos espaços confinados, como silos, túneis e moegas) e a NR-35 (que versa sobre trabalho em altura). Em seu catálogo de cursos, o Sistema Faep dispõe de capacitações para cada uma dessas regulamentações.