Suínos Influenza Suína
A vacinação é essencial, mas a chave da eficácia está no diagnóstico molecular aprofundado
Variabilidade genética do vírus sIAV exige vacinas autógenas (“sob medida”); Novo estudo em quatro estados aponta alta diversidade viral e a circulação de linhagens de origem humana.

Artigo escrito por Laboratório de Diagnóstico da Phibro Saúde Animal, setor de vacinas autógenas
Para a saúde e produtividade do seu rebanho suíno, a vacinação contra a Influenza é uma medida de controle absolutamente essencial. Essa doença, causada pelo vírus da Influenza A em suínos (sIAV), é um dos maiores desafios para produtores e veterinários no Brasil e no mundo. A Influenza suína provoca infecções respiratórias graves – parte do que chamamos de “Complexo de Doenças Respiratórias Suínas” (PRDC) – que levam a perdas econômicas significativas: redução de produtividade, menor ganho de peso, aumento da mortalidade e maiores custos com medicamentos. Além disso, o sIAV possui um caráter zoonótico, o que significa que ele pode ser transmitido entre animais e humanos, reforçando a importância de seu controle.
No Brasil, diversos subtipos do sIAV (como H1N1pdm09, H3N2, H1N2 e H1N1) circulam nos rebanhos, e a grande variação genética entre eles torna o controle da doença um verdadeiro desafio.
Por que as vacinas convencionais podem não ser suficientes sozinhas?
Embora existam vacinas comerciais disponíveis no mercado, o vírus Influenza tem alta capacidade mutagênica e o suíno é o principal sítio de rearranjo genético do vírus Influenza, gerando subtipos que circulam nas granjas brasileiras – muitos deles com origem humana. Essa variabilidade genética levanta uma questão importante: uma vacina padronizada pode não oferecer proteção completa contra todas as linhagens específicas que estão presentes na sua propriedade. É como tentar usar uma chave genérica para abrir uma fechadura complexa: pode não funcionar perfeitamente.
É nesse cenário que as vacinas autógenas surgem como uma solução promissora. Elas são verdadeiramente “sob medida”, formuladas a partir dos próprios isolados do vírus que foram detectados na sua granja. Essa abordagem personalizada tem o potencial de oferecer uma proteção mais direcionada e, consequentemente, mais eficaz para o seu rebanho.
O diagnóstico molecular: a chave para a real eficácia da vacina autógena
Para que as vacinas autógenas entreguem todo o seu potencial de proteção, a precisão no diagnóstico do vírus é absolutamente fundamental. Sem a utilização apropriada de ferramentas avançadas da biologia molecular, como o Sequenciamento Completo do Genoma (NGS), a eficácia da vacina autógena pode ser seriamente comprometida. Isso ocorre porque uma vacina precisa ser um “espelho” fiel do vírus que está circulando na sua propriedade. Se não identificarmos com exatidão a “impressão digital genética” do vírus – seus subtipos, clados e subclados – corremos o risco de produzir uma vacina que, mesmo sendo autógena, terá baixa eficácia por não corresponder exatamente às linhagens virais mais relevantes e atuantes na sua granja.
O diagnóstico molecular, por meio de técnicas como a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) e o próprio NGS, permite uma especificidade genética do vírus. É como ter um conhecimento mais detalhado do “inimigo”, permitindo que a vacina seja desenvolvida para atacá-lo nos seus pontos mais vulneráveis e específicos.
Como funciona na prática?
De janeiro de 2024 a fevereiro de 2025, um trabalho de campo foi realizado em 61 propriedades nos estados de Minas Gerais (MG), São Paulo (SP), Paraná (PR) e Santa Catarina (SC), coletando 429 amostras de suínos com sinais de problemas respiratórios. As amostras incluíam suabes (nasais, da boca e da garganta, dos pulmões e da traqueia) e fragmentos de pulmão. Os animais eram de idades variadas, mas a maioria era de leitões jovens que apresentavam febre, perda de apetite, secreção nasal e tosse.
Após a coleta, as amostras foram analisadas em laboratório para identificar a presença do vírus e seus subtipos. Para entender ainda mais a fundo a genética dos vírus, 25 isolados foram selecionados para o sequenciamento completo do genoma (NGS). Essa etapa é crucial, pois ajuda a identificar os subtipos circulantes na propriedade e/ou região através das diferenças genéticas que podem fazer toda a diferença na eficácia de uma vacina.
O que os estudos mostram?
Os resultados dessas análises são reveladores: mais da metade das propriedades visitadas (54%) foram positivas para o vírus da Influenza A em suínos. Os três principais subtipos (H1N1pandêmico, H1N2 e H3N2) foram encontrados em todas as regiões, e em algumas propriedades, foi observada a presença de mais de um subtipo ao mesmo tempo (coinfecções), especialmente em sistemas de integração.
O sequenciamento genético (NGS) confirmou a grande diversidade dos vírus em circulação pela identificação dos clados observados dentro do mesmo subtipo. Por exemplo, para o subtipo H1N1pdm, foi identificado o Clado 4 para a proteína hemaglutinina (HA). Para o H1N2, foram encontrados dois clados diferentes – hu_1B.2.4 e hu_1B.2.3. E, para o H3N2, a situação é ainda mais complexa, com a circulação do clado H3 1990.5.1, além da detecção, em algumas amostras, de um clado circulante na população humana (H3hu 3C.2a1b.2a.2a.1).
A detecção desses diferentes clados e subclados é de extrema importância, pois as pequenas diferenças genéticas entre os vírus que circulam na granja podem reduzir drasticamente a proteção, caso seja realizada a formulação vacinal inadequadamente. Ao identificar esses “parentes” próximos do vírus, é possível orientar os programas de vacinação de forma muito mais precisa. Além disso, conhecer os grupos genéticos permite rastrear a diversidade viral, como o vírus se espalha e se movimenta entre as propriedades e regiões.
A detecção de clados de origem humana em suínos, como o H3hu 3C.2a1b.2a.2a.1, acende um alerta importante sobre a conexão entre a saúde humana e a saúde animal. Isso reforça a necessidade de programas de vacinação em humanos e, principalmente, de rigorosas medidas de biosseguridade nas propriedades rurais para evitar a transmissão de doenças entre espécies.
Embora o estudo atual não tenha permitido observar a sazonalidade dos subtipos (ou seja, se eles aparecem mais em certas épocas do ano), a continuidade do monitoramento genômico e da caracterização antigênica desses vírus é fundamental para determinar a melhor forma de controlar a transmissão e entender como as mudanças nos vírus afetam a população de suínos no Brasil.
Um programa de vacinação e controle abrangente
Diante da complexidade do vírus da Influenza A em suínos e sua rápida capacidade de mutação, o controle de surtos e a prevenção de doenças respiratórias exigem uma estratégia multifacetada. A vacinação autógena, impulsionada por um diagnóstico molecular altamente específico e aprofundado, emerge como uma ferramenta poderosa para atender às necessidades únicas de cada propriedade.
Investir em tecnologias avançadas, contar com equipes técnicas especializadas e fomentar parcerias entre laboratórios e universidades são passos cruciais para oferecer diagnósticos precisos e programas de vacinação personalizados.
É essencial lembrar que a vacinação, embora vital, é apenas uma parte de um programa de controle sanitário mais amplo. Medidas de biosseguridade rigorosas, monitoramento constante da saúde dos animais e um manejo adequado são pilares que, combinados com vacinas sob medida, contribuem para manter os rebanhos saudáveis, produtivos e protegidos. A informação e o conhecimento aprofundado do vírus são as maiores armas para a suinocultura brasileira.
Referências bibliográficas: heloiza.irtes@pahc.com
O acesso à edição digital do jornal Suínos é gratuito. Para ler a versão completa online, clique aqui. Boa leitura!

Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
Suínos
Preços do suíno vivo seguem estáveis e novembro registra avanço nas principais praças
Indicador Cepea/ESALQ mostra mercado firme com altas moderadas no mês e estabilidade diária em estados líderes da suinocultura.

Os preços do suíno vivo medidos pelo Indicador Cepea/Esalq registraram estabilidade na maioria das praças acompanhadas na terça-feira (18). Apesar do cenário de calmaria diária, o mês ainda apresenta variações positivas, refletindo um mercado que segue firme na demanda e no escoamento da produção.
Em Minas Gerais, o valor médio se manteve em R$ 8,44/kg, sem alteração no dia e com avanço mensal de 2,55%, o maior entre os estados analisados. No Paraná, o preço ficou em R$ 8,45/kg, registrando leve alta diária de 0,24% e acumulando 1,20% no mês.
No Rio Grande do Sul, o indicador permaneceu estável em R$ 8,37/kg, com crescimento mensal de 1,09%. Santa Catarina, tradicional referência na suinocultura, manteve o preço em R$ 8,25/kg, repetindo estabilidade diária e mensal.
Em São Paulo, o valor do suíno vivo ficou em R$ 8,81/kg, sem variação no dia e com leve alta de 0,46% no acumulado de novembro.
Os dados são do Cepea, que monitora diariamente o comportamento do mercado e evidencia, neste momento, um setor de suínos com preços firmes, porém com oscilações moderadas entre as principais regiões produtoras.
Suínos
Produção de suínos avança e exportações seguem perto de recorde
Mercado interno reage bem ao aumento da oferta, enquanto embarques permanecem em níveis históricos e sustentam margens da suinocultura.

A produção de suínos mantém trajetória de crescimento, impulsionada por abates maiores, carcaças mais pesadas e margens favoráveis, de acordo com dados do Itaú BBA Agro. Embora o volume disponibilizado ao mercado interno esteja maior, a demanda doméstica tem respondido positivamente, garantindo firmeza nos preços mesmo diante da ampliação da oferta.
Em outubro, o preço do suíno vivo registrou leve retração, com queda de 4% na média ponderada da Região Sul e de Minas Gerais. Apesar disso, o spread da suinocultura sofreu apenas uma redução marginal e segue em patamar sólido.

Foto: Shutterstock
Dados do IBGE apontam que os abates cresceram 6,1% no terceiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, após altas de 2,3% e 2,6% nos trimestres anteriores. Com carcaças mais pesadas neste ano, a produção de carne suína avançou ainda mais, chegando a 8,1%, reflexo direto das boas margens, favorecidas por custos de produção controlados.
Do lado da demanda, o mercado externo tem sido um importante aliado na absorção do aumento da oferta. Em outubro, as exportações somaram 125,7 mil toneladas in natura, o segundo maior volume da história, atrás apenas do mês anterior, e 8% acima de outubro de 2024. No acumulado dos dez primeiros meses do ano, o crescimento chega a 13,5%.
O preço médio em dólares recuou 1,2%, mas o impacto sobre o spread de exportação foi mínimo. O indicador segue próximo de 43%, acima da média histórica de dez anos (40%), impulsionado pela desvalorização cambial, que atenuou a queda em reais.
Mesmo com as exportações caminhando para superar o recorde histórico de 2024, a oferta interna de carne suína está maior em 2025 em função do aumento da produção. Ainda assim, o mercado doméstico tem absorvido bem esse volume adicional, mantendo os preços firmes e reforçando o bom momento do setor.



