Fabiano Coser
A suinocultura reencontra a crise
Em cada ciclo de baixa e alta, de adversidade e prosperidade, a cadeia produtiva se renova, se fortalece e se prepara para um novo encontro com a crise
Em junho de 2012 a suinocultura brasileira protestou pelas ruas de Brasília pedindo medidas de socorro ao governo federal, em razão dos baixos preços do suíno vivo e das altas exorbitantes do milho e do farelo de soja, que levaram o produtor de suínos a perdas superiores a R$ 100 por animal vendido. A crise foi tão grave que reduziu o plantel e a oferta de animais ao ponto de, no segundo semestre de 2014, os preços do animal vivo terem alcançado o seu maior valor histórico. O setor se recuperou, investimentos foram feitos em novas granjas e na ampliação de muitas outras, a oferta de animais para o abate voltou a ser recorde e a crise voltou a se abater sobre a suinocultura. À primeira análise parece que a história apenas se repete, num ciclo vicioso, mas não é bem assim.
Em cada ciclo de baixa e alta, de adversidade e prosperidade, a cadeia produtiva se renova, se fortalece e se prepara para um novo encontro com a crise. Em 2012, o preço do quilo do suíno vivo bateu a mínima de R$ 1,90 no mercado integrado e R$ 2,20 no mercado independente, causando grande descapitalização aos produtores. Agora o preço do animal se encontra em outro patamar, entre R$ 2,70 e R$ 3,35, e o grande vilão do momento é o preço do milho, que entre junho de 2015 e março de 2016 praticamente dobrou de preço. Na atual conjuntura, também é fator relevante e afeta não só a suinocultura, a maior crise econômica já vivida pelo Brasil. Às vésperas de uma possível mudança de governo em razão do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o país se encontra divido e mergulhado no pior desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) dos últimos 25 anos.
No entanto, notamos claramente neste momento que a crise atual não afeta de maneira igual toda a suinocultura brasileira, e muitos produtores ainda estão obtendo renda com a atividade. Em sua maioria são suinocultores que, calejados por crises anteriores, se prepararam para enfrentar um próximo ciclo de baixa dos preços, de alta dos insumos ou as duas coisas simultâneas, o que não é incomum acontecer. As granjas mais bem posicionadas neste momento são aquelas que investiram fortemente em tecnologia, gestão, manejo, mão de obra e, além disso, diversificaram suas atividades. Com isso, conseguiram aumentar a produtividade, reduzir custos, ganhar eficiência e agregar novos ganhos à suinocultura.
Um bom exemplo das mudanças que fizeram os que hoje lideram a produção de suínos com eficiência foi a integração da suinocultura com outras atividades agrícolas e/ou pecuárias. Não são poucas as granjas que aproveitam todo o potencial econômico dos resíduos da produção de suínos na produção de grãos, pastos, florestas, frutas, café, etc., sem a utilização de fertilizantes químicos, utilizando apenas o biofertilizante. Muitas foram além e estão gerando sua própria energia elétrica, que abastece não apenas a granja, mas sistemas de irrigação para distribuição do biofertilizante nas lavouras. Outros utilizam o biogás na secagem de grãos e café, ou queimam em caldeiras que fornecem vapor para indústrias instaladas na propriedade.
Mais além ainda foram outros que já pensam até mesmo no aproveitamento dos animais que morrem durante o ciclo de produção, transformando-os em farinha de carne e fertilizantes. Enfim, a suinocultura mudou. Requer não só uma gestão competente, mas também não permite mais o desperdício de ativos tão importantes como o biofertilizante e o biogás, que podem compor outras atividades de negócios da propriedade que farão a diferença num momento de crise. Os produtores que enxergaram este horizonte atravessam de forma diferente os ciclos de baixa que de tempos em tempos atingem a atividade. Claro que muitas vezes também são afetados pela crise, mas são sempre os últimos a entrar nela e os primeiros a sair. Por isso continuarão a produzir.
Fonte: Fabiano Coser
Fabiano Coser
A Carne Suína veio para ficar
Fonte: Blog Fabiano Coser
Fabiano Coser
Carne Suína, OMS, Bacon e Câncer
Nestes tempos de informação instantânea, somente começamos a pensar depois que já escolhemos um lado para torcer, seja você um amante do bacon, um vegetariano ou vegano. A turma da alface já viu na informação da OMS a legitimidade da causa verde, fazendo uma grossa associação entre bacon e vaca louca, alardeando que é realmente hora de retirarmos totalmente as carnes da nossa dieta. Acho que leram algum outro artigo, pois no relatório da OMS é bem clara a informação da importância da carne para a saúde humana, logicamente dentro de limites razoáveis, o que foi traduzido por diversos especialistas como 70 gramas por dia de carne vermelha para homens e 50 gramas para mulheres.
A turma defensora do bacon e do torresmo também se sentiu ofendida pela informação, antes mesmo de uma análise crítica sobre o assunto ou de ver na notícia uma oportunidade de esclarecer a população sobre como se alimentar melhor com produtos de origem animal, e de que o Brasil ainda está muito distante do nível de consumo apregoado como provável causador de uma doença. Em termos populacionais ainda temos um percentual razoável de pessoas que não tem acesso ao nível recomendado de proteína pela própria OMS.
Há quantos anos sabemos que produtos altamente processados e industrializados podem causar câncer, da boca ao reto se procuramos bem na literatura médica, ou que a carne vermelha deve ter seu consumo equilibrado como causa provável não só do câncer, mas da toda lista das doenças coronarianas? Nenhuma novidade até aí. A novidade mesmo talvez esteja justamente na quantidade dita problemática, 50 gramas diárias, o que dá incríveis 18 kg de bacon, salsicha e linguiça por pessoa a cada ano.
Apenas para comparação, depois de muita campanha de estímulo ao consumo de carne suína ainda não ultrapassamos os 15 kg per capita/ano, isso somando também todas as feijoadas, costelinhas e torresmos. E continuando na carne suína, as campanhas de estímulo ao consumo há 10 anos pregam o aumento da participação da carne in natura na dieta dos brasileiros, ou seja, as campanhas de marketing da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) estão pelo menos uma década à frente da OMS.
Não há necessidade de pânico por esta informação, muito pelo contrário. Temos que aprender a lidar com este tipo de atrito, e não sair por aí transformando tudo em nós contra eles. Este tipo de atitude, seja torcendo pela alface ou pelo bacon, não vai levar a lugar nenhum, somente causar mais confusão na cabeça do consumidor. Em tempos de notícias que duram pouco mais que horas, aposto muito mais nas informações corretas e nas campanhas perenes de informação ao consumidor brasileiro, que no caso da carne suína já alcançou resultados memoráveis em termos de mídia e de mercado. Comparar uma fatia de bacon a um cigarro é tão desonesto que não vale a pena a discussão, por si só a informação perde credibilidade.
Fonte: Fabiano Coser