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A qualidade na agropecuária: mais que um diferencial

Garantir as melhores práticas de controle de qualidade na agropecuária vai além da vantagem competitiva. É uma questão de saúde pública, ética e respeito ao meio ambiente.

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Foto: Divulgação/Embrapa

Independentemente do elo da cadeia agroalimentar, o aspecto qualitativo do produto de origem agropecuária é cada dia mais importante. Tanto para o mercado interno como para o externo, qualidade é algo fundamental. O controle de qualidade na agricultura pode garantir alimentos mais saudáveis, práticas mais sustentáveis de cultivo e um conjunto de outras ações que agregam valor aos produtos, além de auxiliar os produtores a conquistarem seu espaço junto aos consumidores. Para a maioria dos produtos, tanto os de origem animal como vegetal, existem parâmetros qualitativos, mensuráveis, que permitem classificar o produto.

Um exemplo é o algodão, tão importante quanto a produtividade é a qualidade avaliada por um conjunto de características da fibra. Assim, para cada forma de utilização do algodão, deve ser apresentado um conjunto de características que atendam à demanda da indústria têxtil. Características como a finura da fibra, o comprimento, a uniformidade, a resistência, dentre outras, são características que definem a qualidade do produto, podendo em alguns casos levar a algum tipo de deságio do preço no momento da comercialização.

A qualidade da fibra interfere em vários aspectos, desde a produção do fio até o tingimento de um tecido. A presença de determinadas espécies de plantas daninhas também pode interferir negativamente na qualidade do produto. Um exemplo no caso da produção animal é a carne bovina, onde aspectos como o sistema de criação, a idade de abate, a espessura da camada de gordura, o marmoreio, o diâmetro do olho do lombo, dentre outras, são características exigidas pela indústria frigorífica para atender à demanda do consumidor.

Com os exemplos acima, fica evidente o quanto a questão da qualidade é importante. Mas não é só isso, especialmente para o mercado externo é analisado, por exemplo, a quantidade de sementes de outras espécies na soja. Em alguns casos, apenas uma semente de outras espécies que não a soja, é suficiente para que uma carga seja recusada pelo comprador. Especialmente, quando se deseja conquistar mercados, é fundamental se preocupar com os aspectos qualitativos do produto, que também são fundamentais para fidelização do parceiro. No caso de produtos de origem agropecuária, muitas configurações qualitativas são definidas ainda no campo, assim, é preciso tomar medidas para evitar a deterioração do produto durante o processo de colheita, beneficiamento e armazenamento.

Ainda utilizando o exemplo do algodão, o momento da colheita, a operação de colheita e o beneficiamento podem causar danos. A temperatura e o tempo de secagem de grãos armazenados também podem interferir negativamente na qualidade de um produto. Além dos aspectos intrínsecos da qualidade, aspectos externos também são utilizados para estabelecer padrão e valor do produto. Se o aspecto externo de um determinado produto, especialmente frutos, descaracteriza-o, esse pode ficar sem valor comercial, pois o consumidor não aceita tal mercadoria.

A qualidade do produto pode ter diferentes percepções ao longo da cadeia, ou seja, as exigências no que se refere à qualidade podem sofrer variações quantitativas e qualitativas ao longo da cadeia. No caso de um artigo agrícola, a qualidade começa a ser definida no campo.

Assim, práticas agrícolas adequadas devem ser consideradas quando se pensa em qualidade, tais como: época de semeadura, população de plantas, adubação, manejo de plantas daninhas, de pragas e de doenças. A época de semeadura tem impacto tanto no aspecto quantitativo como no qualitativo da produção. Se, na época da colheita do algodão ou quando da maturação do trigo e do feijão, ocorrerem chuvas prolongadas e intensas, a condição do produto a ser colhido poderá ser severamente comprometida.

Vale lembrar que época de semeadura é um fator de produção com custo zero. Máquinas utilizadas no processo de colheita e beneficiamento, se não devidamente reguladas, podem comprometer a qualidade do produto. Os usos de produtos químicos em quantidade superiores e fora da época adequada podem interferir negativamente na qualidade do produto e, neste caso, também na saúde do consumidor, especialmente, mas não só, nos produtos consumidos de forma in natura.

Além dos aspectos já comentados e seus principais efeitos sobre a qualidade dos produtos, outros fatores também devem ser considerados. A questão do bem estar animal vem ganhando importância cada vez maior. Assim, a forma o animal foi criado, transportado e abatido passa a ser considerado pelo consumidor. Um exemplo bastante ilustrativo é a questão de produção de ovos por galinhas mantidas em gaiolas ou criadas soltas.

O consumidor começa a dar preferência por ovos oriundos de galinhas criadas livres. Garantir as melhores práticas de controle de qualidade na agropecuária vai além da vantagem competitiva. É uma questão de saúde pública, ética e respeito ao meio ambiente. Antes as preocupações estavam muito voltadas para os aspectos quantitativos, por conseguinte, esse era o mais importante.

No entanto, nos dias atuais, a qualidade é tanto ou mais importante do que a quantidade. É importante ressaltar que a qualidade deve ser considerada durante todo o processo de produção de um produto de origem vegetal ou animal. Aspectos relativos ao uso e à conservação do solo e da água são muito importantes quando se pensa em qualidade.

Fonte: Por Fernando Mendes Lamas, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste.

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Comunicação e Marketing como mola propulsora do consumo de carne suína no Brasil

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas.

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Foto: Claudio Pazetto

Artigo escrito por Felipe Ceolin, médico-veterinário, mestre em Ciências Veterinárias, com especialização em Qualidade de Alimentos, em Gestão Comercial e em Marketing, e atual diretor comercial da Agência Comunica Agro.

O mercado da carne suína vive no Brasil um momento transição. A proteína, antes limitada por barreiras culturais e mitos relacionados à saúde, vem conquistando espaço na mesa do consumidor.

Se até pouco tempo o consumo era freado por percepções equivocadas, hoje a comunicação correta, direcionada e baseada em evidências abre caminho para quebrar paradigmas. Estudos recentes revelam que o brasileiro passou a reconhecer características como sabor, valor nutricional e versatilidade da carne suína, demonstrando uma mudança clara no comportamento de compra e consumo. É nesse cenário que o marketing se transforma em importante aliado da cadeia produtiva.

Foto: Shutterstock

Reposicionar para crescer

Para aumentar a participação na mesa das famílias é preciso comunicar aquilo que o consumidor precisava ouvir:
— que é uma carne segura,
— rica em nutrientes,
— competitiva em preço,
— e extremamente versátil na culinária.

Campanhas educativas, conteúdos informativos e a presença mais forte nas mídias sociais têm ajudado a construir essa nova imagem. Quando o consumidor entende o produto, ele compra com mais confiança – e essa confiança só existe quando existe uma comunicação clara e alinhada as suas expectativas.

O marketing não apenas divulga, ele conecta. Ao simplificar informações técnicas, aproximar o produtor do consumidor e mostrar maneiras práticas de preparo, a comunicação se torna um instrumento de transformação cultural.

Apresentar novos cortes, propor receitas, explicar processos de qualidade, destacar certificações e reforçar a rastreabilidade são estratégias que aumentam a percepção de valor e, consequentemente, estimulam o consumo.

Digital: o novo campo do agro

As redes sociais se tornaram o “supermercado digital” do consumidor moderno. Ali ele busca receitas, tira dúvidas, avalia produtos e

Foto: Divulgação/Pexels

compartilha experiências.
Indústrias, cooperativas e associações que investem em presença digital tornam-se mais competitivas e ampliam sua capacidade de influenciar preferências.

Vídeos curtos, reels com receitas simples, influenciadores culinários e campanhas segmentadas têm desempenhado papel fundamental na aproximação com o consumidor urbano, historicamente mais distante da realidade da cadeia produtiva e do campo.

Promoções e estratégias de varejo

Além do ambiente digital, o ponto de venda continua sendo o território decisivo da conversão. Embalagens mais atrativas, materiais explicativos, promoções e ações conjuntas com o varejo aumentam a visibilidade e reduzem a insegurança de quem tomando decisão na frente da gondola.

Marketing como elo da cadeia produtiva

A cadeia de carne suína brasileira é altamente tecnificada, sustentável e reconhecida, mas essa excelência precisa ser comunicada. O marketing tem o papel de unir elos – do campo ao consumidor – e transformar conhecimento técnico em mensagens simples e que engajam.

Fonte: O Presente Rural com Felipe Ceolin
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Expandir sem desmatar: a lógica econômica que vai muito além do discurso

Recuperar áreas degradadas e investir em produtividade sustentável é hoje o caminho mais rentável e estratégico para o agro brasileiro crescer sem comprometer o meio ambiente.

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Foto: Juliana Sussai

Dias atrás reli um artigo do pesquisador da Embrapa e membro do Conselho Científico Agro Sustentável, Décio Luiz Gazzoni, sobre a expansão agrícola sem desmatamento. O texto, publicado em 2023, ainda é muito atual e me fez refletir novamente sobre algo que sempre defendo: a sustentabilidade não é apenas uma exigência ambiental, é uma decisão econômica inteligente.

Como economista e alguém que acompanha o agro de perto, inclusive viajando para conhecer iniciativas em diferentes países, vejo com muita clareza o que Gazzoni já apontava: a grande fronteira do crescimento brasileiro está dentro das áreas já abertas, principalmente nas pastagens degradadas.

Artigo escrito por Fábio Torquato, economista, formado em Relações Internacionais e fundador da AgroTravel – Foto: Divulgação/AgroTravel

E os números mais recentes reforçam essa visão. Estudos da Embrapa, publicados na revista internacional Land, indicam que o Brasil possui cerca de 27,7 milhões de hectares de pastagens degradadas. Isso significa que temos uma área gigantesca pronta para ser recuperada e incorporada à produção, sem a necessidade de avançar sobre novos biomas.

Além disso, durante a COP29, que aconteceu ano passado em Baku, no Azerbaijão, o Brasil lançou o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que prevê US$ 120 bilhões em investimentos nos próximos dez anos para recuperar 40 milhões de hectares. O número do programa é maior do que o estimado pela Embrapa porque considera áreas em diferentes graus de degradação, aptas para conversão produtiva ao longo dos anos.

Do ponto de vista econômico, é um movimento que faz todo o sentido. Segundo o Broto Notícias, o custo de recuperação de uma pastagem varia de R$ 6 mil a R$ 30 mil por hectare, dependendo do nível de degradação, tipo de solo e métodos adotados. Parece caro? Talvez à primeira vista. Mas quando olhamos para o retorno — aumento de produtividade por hectare, redução de custos operacionais e acesso a mercados premium que pagam mais por produtos rastreáveis e sustentáveis — a conta fecha rapidamente.

Vi isso acontecer em fazendas que visitei em viagens técnicas com a AgroTravel ao redor do mundo.

Como bem lembra Gazzoni, o produtor brasileiro já tem tecnologia e conhecimento para fazer essa virada. O que falta, muitas vezes, é entender que sustentabilidade é investimento, e não custo. E agora, com bilhões de dólares disponíveis em crédito via BNDES, Banco do Brasil e fundos internacionais, esse argumento fica ainda mais forte.

Estamos acompanhando os trabalhos da COP30, que este ano acontece no Brasil, e o mundo inteiro está olhando para nosso país. A oportunidade está escancarada: quem se antecipar, quem enxergar a recuperação de pastagens como um ativo estratégico, vai liderar o agro brasileiro do futuro.

Sempre digo nos grupos que acompanham as viagens da AgroTravel: o futuro do agro não está em abrir novas áreas, mas em transformar cada hectare já aberto em um ativo de alta performance. O artigo de Gazzoni só reforçou o que vejo na prática. E, como economista, reafirmo: essa é a equação mais inteligente que já tivemos nas mãos.

Fonte: Assessoria AgroTravel
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Meio ambiente e cooperativismo

Movimento econômico e social baseado em valores éticos e solidários, o cooperativismo reafirma, em tempos de COP 30, seu papel essencial na construção de um futuro sustentável, unindo produção, preservação e desenvolvimento coletivo.

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Foto: Divulgação/Sistema Faep

As cooperativas representam o mais elevado estágio da organização humana em torno de valores éticos, solidários e sustentáveis. Elas não existem apenas para gerar resultados econômicos, mas para promover o desenvolvimento coletivo em harmonia com o meio ambiente e com as comunidades em que atuam. Por essência e por princípios universais, o cooperativismo defende a preservação da natureza, a gestão responsável dos recursos e o equilíbrio entre produção e sustentabilidade. Esse compromisso ambiental não é um apêndice, mas uma convicção enraizada na própria identidade cooperativista.

Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).

Em tempos de COP 30 é essencial lembrar que, nas cooperativas, cada decisão administrativa, cada projeto de ampliação e cada investimento em unidades industriais, agrícolas, logísticas ou administrativas é precedido por uma análise criteriosa dos impactos ambientais. O crescimento não se mede apenas em números, mas também na capacidade de reduzir emissões, otimizar o uso da água, reciclar resíduos e proteger a biodiversidade. É essa consciência prática e constante que diferencia o cooperativismo das demais formas de organização econômica. Ele entende que não há prosperidade possível em um planeta degradado, nem futuro para a economia sem o equilíbrio ambiental.

As cooperativas são parceiras leais do Poder Público na implementação de políticas voltadas ao meio ambiente. Estão sempre presentes em programas de reflorestamento, saneamento básico, manejo de resíduos, recuperação de nascentes e educação ambiental. Mas sua contribuição vai além da sustentabilidade ecológica — elas também participam ativamente de ações que promovem segurança, educação, cultura e mobilidade urbana, compreendendo que a proteção ambiental é inseparável da qualidade de vida e do bem-estar social. Onde há uma cooperativa, há compromisso com o futuro coletivo.

Essas instituições agem com coerência e exemplo, estimulando a cidadania e o senso de responsabilidade em seus empregados, cooperados, clientes e comunidades. Elas ensinam, pelo exemplo, que o progresso verdadeiro não nasce da exploração desenfreada, mas da gestão equilibrada e consciente dos recursos. O cooperativismo forma cidadãos engajados, capazes de compreender que o planeta é uma herança comum e que sua preservação é um dever de todos.

A defesa do meio ambiente é, portanto, um desdobramento natural dos princípios cooperativistas — entre eles, o interesse pela comunidade, a responsabilidade social e a intercooperação. Cada árvore preservada, cada solo recuperado e cada nascente protegida são expressões concretas de uma filosofia que valoriza a vida. As cooperativas não esperam por imposições legais ou incentivos externos para agir: elas o fazem porque acreditam que sua missão é cuidar das pessoas e do mundo em que elas vivem.

O cooperativismo é, por natureza, o caminho da sustentabilidade. Ele demonstra, todos os dias, que é possível crescer produzindo, prosperar preservando e inovar sem destruir. Em tempos de mudanças climáticas e desafios globais, as cooperativas reafirmam sua vocação de construir um mundo melhor, mais justo e solidário. Elas provam, com ações e resultados, que a economia pode — e deve — caminhar de mãos dadas com o meio ambiente. Essa é a essência do cooperativismo: servir, preservar e transformar.

Fonte: Artigo escrito por Vanir Zanatta, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).
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