Suínos
A qualidade de carne como diferencial produtivo: é preciso escolher entre qualidade ou produtividade?
O mercado consumidor de produtos de origem animal vem se mostrando mais exigente ao longo do tempo
Artigo escrito por Mariana Anrain Andreis, Msc Melhoramento Genético Animal (UFMG), do Departamento de Melhoramento Genético da DB Genética Suína
O trabalho realizado pelas empresas de genética nos últimos anos em características produtivas e reprodutivas, como ganho de peso diário (GPD), conversão alimentar (CA) e tamanho de leitegada (TL) está mostrando os seus resultados. Níveis nunca antes vistos de produtividade estão sendo alcançados e visualiza-se, para os próximos anos, um contínuo crescimento, elevando os níveis produtivos a novos patamares. Com o avanço já realizado nessas etapas, novas características estão sendo incorporadas ao trabalho de melhoramento. É o caso dos esforços empreendidos pelo segmento para responder ao crescente interesse dos diferentes setores da cadeia produtiva de suínos por qualidade de carne. Essa tendência, que está se consolidando no mercado nacional, também tem aparecido nas exportações, já que algumas empresas do setor têm buscado por alternativas para atender mercados específicos, como o japonês.
A busca por qualidade, inclusive, ganha mais força a cada dia. O mercado consumidor de produtos de origem animal vem se mostrando mais exigente ao longo do tempo. Além de preços razoáveis e quantidade, os consumidores demandam produtos de maior qualidade. A definição de “qualidade da carne suína”, por sua vez, é complexa e variável, podendo incluir aspectos de processamento, de conservação, de consumo, de valor nutricional e biológico da carne, e de costumes e de hábitos alimentares dos consumidores.
Mesmo dentro da cadeia produtiva, existem interesses distintos para o processamento na indústria ou para o consumo in natura quando se trata da qualidade da carne. A indústria preza por menor perda de água por gotejamento após cozimento, e por maior rendimento pós-processamento, com carne que absorva os temperos, gerando um produto de qualidade. Para o consumo in natura, preza-se por aspectos como cor, sabor, suculência, firmeza, entre outros relacionados à qualidade sensorial da carne.
De modo geral, tem-se utilizado alguns indicadores para determinar a qualidade da carne, como as medidas indicativas, entre elas o pH inicial (45 minutos a uma hora após o abate) e final (24 horas após o abate), a capacidade de retenção de água, o teor e o perfil dos tipos de gordura, a cor, a maciez, a suculência e o sabor da carne.
Outros Focos
Quando se pensa em melhoria da qualidade de carne em suínos, especialmente para consumo in natura, os focos principais são maciez, cor e a % de gordura intramuscular (GIM), que são alguns dos preditores de qualidade de carne para esse nicho.
Por meio do manejo, a % GIM pode ser manipulada de várias maneiras, incluindo o aumento do peso de abate, as dietas mais ricas em gorduras ou o aumento de lisina na fase final da terminação. Essas estratégias, de maneira geral, trazem algum prejuízo na produtividade dos animais, elevando custos de produção.
As características de qualidade de carne são também passíveis de serem melhoradas por seleção genética. A herdabilidade e o efeito de ambiente permanente para as principais características ligadas à qualidade de carne em suínos. De maneira global, as características têm herdabilidade de moderada à alta, o que indica que a seleção para essas características pode trazer um retorno efetivo em um intervalo médio de tempo.
Com relação à % de GIM, existem duas estratégias que são possíveis de serem seguidas
- A primeira considera a seleção para GIM dentro de um plantel já melhorado para características produtivas, como GPD e CA. O resultado da seleção nessa proposta depende em grande parte da variância genética e, portanto, fenotípica que se tem nesses planteis, ou seja, para que haja possibilidade de seleção, tem que haver animais com boa % de GIM presentes nesse plantel. Aqui, pode-se encontrar uma situação desconfortável, pois, com a seleção contínua para redução da espessura de toucinho, houve uma redução da % de GIM em maior ou em menor quantidade, de acordo com a estratégia adotada por cada programa de melhoramento;
- A segunda estratégia é a incorporação de linhagens cuja qualidade de carne já é diferenciada. É o caso da raça Duroc. Essa raça tem amplos relatos de possuir % GIM maior que as demais raças comumente utilizadas nos cruzamentos comerciais, além de coloração mais avermelhada, o que é desejável especialmente para consumo in natura por despertar maior interesse do consumidor na escolha e na compra do produto. Dentro dessa estratégia, a seleção para as características de produção pode ser feita de maneira focada, para dar destaque e produtividade às linhagens. É exatamente a estratégia que foi seguida com o Duroc em países como a Dinamarca. Nessa região, selecionou-se animais voltados para produtividade e carcaça por, aproximadamente, 40 anos, desenvolvendo linhagens com o desempenho competitivo que se mensura atualmente, sem perder os atributos qualitativos que possuíam.
Ganhos Concomitantes
Algumas discussões foram levantadas em relação ao desempenho de recria e de terminação em animais voltados para qualidade de carne. Havia um temor que a opção por animais com vantagens em relação a esse aspecto traria perdas em desempenho. No entanto, nos últimos anos, o desempenho à campo dessas linhagens tem demonstrado o contrário. Em experimentos conduzidos em ambiente acadêmico, verificou-se que a velocidade de crescimento e a deposição de carne magra na carcaça não foi afetada por maior % de gordura intramuscular na carcaça. Resultados assim foram corroborados por outros estudos, nos quais observou-se que os conteúdos de gordura e de músculos podem ser selecionados de maneira independente. Em observações de campo, tais resultados têm se replicado.
Sendo assim, o que se verifica na prática é que, sendo o trabalho de melhoramento genético bem conduzido, é possível o desenvolvimento de linhagens com qualidade de carne, GPD e CA concomitantemente. Existe a possibilidade de uma dissociação entre essas características a nível genético e, consequentemente, fenotípico, garantindo os ganhos em relação à qualidade de carne e à produtividade.
Resultado depende da estratégia de seleção
Seguindo esse raciocínio, é importante destacar que as características variam fortemente dentro de uma mesma raça, dependendo da estratégia de seleção que foi desenhada por cada empresa de melhoramento. Embora haja informações gerais sobre as raças, como, por exemplo, o fato do Duroc ser melhor em qualidade de carne do que linhagens Pietrain, há, certamente, diferenças em relação à qualidade e à produtividade dentro das populações de Duroc espalhadas pelo mundo. Muitos trabalhos já foram conduzidos nesse sentido, mostrando diferenças em características de crescimento, de rendimento de carcaça e de cortes, ainda que dentro da própria raça Duroc as características ligadas à qualidade de carne estejam presentes em todas as populações e dentro dos padrões estabelecidos como adequados para que a carne seja dita de "qualidade", ou seja, com boa coloração e com boa % de GIM.
Existem oportunidades para se produzir carne suína com qualidade dentro dos atuais pacotes genéticos disponíveis, não havendo nessa escolha, necessariamente, perdas em produtividade, especialmente em GPD e em CA. Isso certamente se deve a um trabalho longo de seleção para essas características dentro dos programas de melhoramento.
Enfim, conclui-se que a qualidade e a produtividade podem andar juntas, trazendo ganhos ao produtor, à indústria e, principalmente, aos consumidores, que podem ter à sua disposição produtos de qualidade, sem custos adicionais.
Mais informações você encontra na edição de Suínos e Peixes de maio/junho de 2018.
Fonte: O Presente Rural

Suínos
Poder de compra do suinocultor cai e relação de troca com farelo atinge pior nível do semestre
Após pico histórico em setembro, alta nos preços do farelo de soja reduz competitividade e encarece a alimentação dos plantéis em novembro.

A relação de troca de suíno vivo por farelo de soja atingiu em setembro o momento mais favorável ao suinocultor paulista em 20 anos.
No entanto, desde outubro, o derivado de soja passou a registrar pequenos aumentos nos preços, contexto que tem desfavorecido o poder de compra do suinocultor.
Assim, neste mês de novembro, a relação de troca de animal vivo por farelo já é a pior deste segundo semestre.
Cálculos do Cepea mostram que, com a venda de um quilo de suíno vivo na região de Campinas, o produtor pode adquirir, nesta parcial de novembro (até o dia 18), R$ 5,13 quilos de farelo, contra R$ 5,37 quilos em outubro e R$ 5,57 quilos em setembro.
Trata-se do menor poder de compra desde junho deste ano, quando era possível adquirir R$ 5,02 quilos.
Suínos
Aurora Coop lança primeiro Relatório de Sustentabilidade e consolida compromisso com o futuro
Documento reúne práticas ambientais, sociais e de governança, reforçando o compromisso da Aurora Coop com transparência, inovação e desenvolvimento sustentável.

A Aurora Coop acaba de publicar o seu primeiro Relatório de Sustentabilidade, referente ao exercício de 2024, documento que inaugura uma nova etapa na trajetória da cooperativa. O lançamento reafirma o compromisso da instituição em integrar a sustentabilidade à estratégia corporativa e aos processos de gestão de um dos maiores conglomerados agroindustriais do país.
Segundo o presidente Neivor Canton, o relatório é fruto de um trabalho que alia governança, responsabilidade social e visão de futuro. “A sustentabilidade, para nós, não é apenas um conceito, mas uma prática incorporada em todas as nossas cadeias produtivas. Este relatório demonstra a maturidade da Aurora Coop e nossa disposição em ampliar a transparência com a sociedade”, destacou.
Em 2024, a Aurora Coop registrou receita operacional bruta de R$ 24,9 bilhões, crescimento de 14,2% em relação ao ano anterior. Presente em mais de 80 países distribuídos em 13 regiões comerciais, incluindo África, América do Norte, Ásia e Europa, a cooperativa consolidou a posição de destaque internacional ao responder por 21,6% das exportações brasileiras de carne suína e 8,4% das exportações de carne de frango.

Vice-presidente da Aurora Coop Marcos Antonio Zordan e o presidente Neivor Canton
De acordo com o vice-presidente de agronegócios, Marcos Antonio Zordan, os números atestam a força do cooperativismo e a capacidade de geração de riqueza regional. “O modelo cooperativista mostra sua eficiência ao unir produção, competitividade e compromisso social. Esses resultados são compartilhados entre os cooperados e as comunidades, e reforçam a relevância do setor no desenvolvimento do país”, afirmou.
A jornada de sustentabilidade da Aurora Coop foi desenhada em consonância com padrões internacionais e com base na escuta ativa dos públicos estratégicos. Entre os temas prioritários figuram: uso racional da água, gestão de efluentes, transição energética, práticas empregatícias, saúde e bem-estar animal, segurança do consumidor e desenvolvimento local. “O documento reflete uma organização que reconhece a responsabilidade de atuar em cadeias longas e complexas, como a avicultura, a suinocultura e a produção de lácteos”, sublinha Canton.
Impacto social e ambiental
Em 2024, a cooperativa gerou 2.510 novos empregos, alcançando o marco de 46,8 mil colaboradores, dos quais 31% em cargos de liderança são ocupados por mulheres. Foram distribuídos R$ 3,3 bilhões em salários e benefícios, além de R$ 580 milhões em investimentos sociais e de infraestrutura, com destaque para a ampliação de unidades industriais e melhorias estruturais que fortaleceram as economias locais.
A Fundação Aury Luiz Bodanese (FALB), braço social da Aurora Coop, realizou mais de 930 ações em oito estados, beneficiando diretamente mais de 54 mil pessoas. Em resposta à emergência climática no Rio Grande do Sul, a instituição doou 100 toneladas de alimentos, antecipou o 13º salário dos colaboradores da região, disponibilizou logística para doações, distribuiu EPIs a voluntários e destinou recursos à aquisição de medicamentos.
O relatório evidencia práticas voltadas ao uso eficiente de recursos naturais e à gestão de resíduos com foco na circularidade. Em 2024, a cooperativa intensificou a autogeração de energia a partir de fontes renováveis e devolveu ao meio ambiente mais de 90% da água utilizada, devidamente tratada.
Outras iniciativas incluem reflorestamento próprio, rotas logísticas otimizadas e embalagens sustentáveis: 79% dos materiais vieram de fontes renováveis, 60% do papelão utilizado eram reciclados e 86% dos resíduos foram reaproveitados, especialmente por meio de compostagem, biodigestão e reciclagem. Em parceria com o Instituto Recicleiros, a Aurora Coop atuou na Logística Reversa de Embalagens em nível nacional. “O cuidado ambiental é parte de nossa responsabilidade como produtores de alimentos e como cidadãos cooperativistas”, enfatiza Zordan.
O bem-estar animal e a segurança do consumidor estão no cerne da atuação da cooperativa. Práticas rigorosas asseguram o respeito aos animais e a inocuidade dos alimentos, garantindo a confiança dos mercados internos e externos.
Futuro sustentável
Para Neivor Canton, a publicação do primeiro relatório é um marco institucional que projeta a Aurora Coop para novos patamares de governança. “Este documento não é um ponto de chegada, mas de partida. Ao comunicar com transparência nossas ações e resultados, reforçamos nossa identidade cooperativista e reiteramos o compromisso de gerar prosperidade compartilhada e preservar os recursos para as futuras gerações.”
Já Marcos Antonio Zordan ressalta que a iniciativa insere a Aurora Coop no rol das empresas globais que aliam competitividade e responsabilidade. “A sustentabilidade é o caminho para garantir longevidade empresarial, fortalecer o vínculo com a sociedade e assegurar alimentos produzidos de forma ética e responsável.”
O Relatório de Sustentabilidade 2024 da Aurora Coop confirma o papel de liderança da cooperativa como referência nacional e internacional na integração entre desempenho econômico, responsabilidade social e cuidado ambiental. Trata-se de uma publicação que fortalece a identidade cooperativista e projeta a instituição como protagonista na construção de um futuro sustentável.
Com distribuição nacional nas principais regiões produtoras do agro brasileiro, O Presente Rural – Suinocultura também está disponível em formato digital. O conteúdo completo pode ser acessado gratuitamente em PDF, na aba Edições Impressas do site.
Suínos
Swine Day 2025 reforça integração entre ciência e indústria na suinocultura
Com 180 participantes, painéis técnicos, pré-evento sanitário e palestras internacionais, encontro promoveu troca qualificada e aproximação entre universidade e setor produtivo.

Realizado nos dias 12 e 13 de novembro, na Faculdade de Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Swine Day chegou à sua 9ª edição reunindo 180 participantes, 23 empresas apoiadoras, quatro painéis, 29 apresentações orais e oito espaços de discussão. O encontro reafirmou sua vocação de aproximar pesquisa científica e indústria suinícola, promovendo ambiente de troca técnica e atualização profissional.
O evento também contou com um pré-evento dedicado exclusivamente aos desafios sanitários causados por Mycoplasma hyopneumoniae na suinocultura mundial, com quatro apresentações orais, uma mesa-redonda e 2 espaços de debate direcionados ao tema.
As pesquisas apresentadas foram organizadas em quatro painéis temáticos: UFRGS–ISU, Sanidade, Nutrição e Saúde e Produção e Reprodução. Cada sessão contou com momentos de discussão, reforçando a proposta do Swine Day de estimular o diálogo técnico entre academia, empresas e profissionais da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação estiveram as palestras âncoras. A primeira, ministrada pelo Daniel Linhares, apresentou “Estratégias epidemiológicas para monitoria sanitária em rebanhos suínos: metodologias utilizadas nos EUA que poderiam ser aplicadas no Brasil”. Já o Gustavo Silva abordou “Ferramentas de análise de dados aplicadas à tomada de decisão na indústria de suínos”.
Durante o encerramento, a comissão organizadora agradeceu a participação dos presentes e anunciou que a próxima edição do Swine Day será realizada nos dias 11 e 12 de novembro de 2026.
Com elevado nível técnico, forte participação institucional e apoio do setor privado, o Swine Day 2025 foi considerado pela organização um sucesso, consolidando sua importância como espaço de conexão entre ciência e indústria dentro da suinocultura brasileira.
