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A cooperativa como alternativa

Muitas alternativas se apresentam para esses pequenos agentes econômicos, como exemplifica o criativo surgimento do MEI, uma configuração jurídica para microempreendedores individuais que, no Brasil, somam 14 milhões e, em Santa Catarina, mais de 600 mil.

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Foto: Divulgação

As dificuldades que a economia brasileira ciclicamente enfrenta e as profundas transformações nas relações de trabalho têm levado, nas últimas décadas, muitos brasileiros a empreender e/ou mudar de atividade. Muitas alternativas se apresentam para esses pequenos agentes econômicos, como exemplifica o criativo surgimento do MEI, uma configuração jurídica para microempreendedores individuais que, no Brasil, somam 14 milhões e, em Santa Catarina, mais de 600 mil.

Outra alternativa que oferece um oceano de possibilidades é o ingresso em cooperativas. As cooperativas – como reza o enunciado do primeiro postulado do cooperativismo (o princípio da adesão voluntária e livre) – são organizações abertas à participação de todos, independentemente de sexo, raça, classe social, opção política ou religiosa. Para participar, a pessoa deve conhecer e decidir se tem condições de cumprir os acordos estabelecidos pela Lei 5.764/1971 (Lei Geral das Cooperativas) e pelo estatuto de cada uma. Esse aspecto torna a Cooperativa uma instituição singular no panorama das organizações humanas.

Apoio ao trabalho, abertura de empresa, viabilização de empreendimento, aumento da produção, qualificação profissional etc. são algumas das linhas de atuação das cooperativas que, no País, estão organizadas em vários ramos (segmentos) como crédito, agropecuário, transporte, infraestrutura, saúde, trabalho, consumo, entre outros.

A Cooperativa guarda similitude com outra importante entidade associativista, o Sindicato, pois ambas promovem estudos, defesa e coordenação de interesses econômicos e profissionais da categoria congregada. O ator econômico ou profissional representado na entidade sindical recolhe, voluntariamente, a contribuição sindical, que até a reforma trabalhista de 2017 era compulsório, uma forma de imposto sindical.

A sociedade cooperativa não contempla nenhuma espécie de imposto ou qualquer outra obrigação originária. Para ser cooperante/cooperado, ou seja, associado de uma cooperativa, é preciso um mínimo de formação associativista, de vocação democrática, de maturidade, de interesse coletivo, de compreensão da realidade sociocultural e econômica envolvente. É preciso acreditar na ação coletiva sem esmorecer no esforço individual.

A cultura do associativismo não é robusta como poderia ser no Brasil, mas o desejo de aderir livre e voluntariamente deve nortear a decisão de ingressar no cooperativismo. Simultaneamente deve haver compreensão da amplitude desse processo para que seja esta uma atitude consequente. Somente assim o neo-cooperativista será dedicado, perseverante e útil para si e para a sociedade a qual se filiou. Por isso, as cooperativas notabilizam-se mais pela qualidade de seus associados do que pela extensão de seu quadro social.
Cursos de introdução ao cooperativismo foram criados e em muitas cooperativas são obrigatórios porque geram consciência dos direitos e deveres do cooperado, compreensão do papel do cooperativismo na vida contemporânea e educação para o agir coletivo. É um caminho para a apreensão do saber e, com ele, modificar a própria realidade, superar condicionantes e catapultar seu próprio desenvolvimento.

Não importa o nível de instrução e qualificação do interessado, seja trabalhador ou empresário, o cooperativismo representa um valioso e construtivo contraponto para esses tempos em que as crises se apresentam em várias camadas – moral, ambiental, política e econômica – em uma época de superficialismo das redes sociais, egoísmo, hedonismo, alienação e, o que é muito preocupante, polarização ideológica e veneração de anti-heróis.

O cooperativismo surgiu em 1844, em Rochdale (interior da Inglaterra), exatamente para enfrentar as dificuldades da época. Desde a concepção desse modelo de associativismo e de negócio, a cooperativa funda-se também em valores humanos, de responsabilidade, igualdade, justiça e solidariedade, valores éticos de honestidade, transparência, responsabilidade social e preocupação com o semelhante. Cooperativismo, portanto, não é para ególatras. É para quem – consciente e convicto – decide ingressar por adesão livre e voluntária.

Fonte: Por Luiz Vicente Suzin, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (OCESC).

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Saiba por que fungos e nematoides seguem tirando bilhões do agro

Organismos invisíveis avançam silenciosamente sobre as raízes, derrubam a produtividade e já geram prejuízos acima de R$ 35 bilhões por ano, enquanto a biotecnologia ganha espaço no manejo.

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No agronegócio brasileiro, algumas das maiores ameaças à produtividade estão escondidas sob os nossos pés. Fungos e nematoides do solo são organismos microscópicos que, muitas vezes, sem darem sinais aparentes, comprometem as raízes, reduzem a absorção de água e nutrientes e minam o vigor das plantas. Quando os sintomas se tornam visíveis, os prejuízos já estão instalados.

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), doenças fúngicas radiculares, como as causadas por RhizoctoniaFusarium e Sclerotium, podem permanecer no solo por longos períodos graças às suas estruturas de resistência, dificultando o controle e impactando culturas como soja, milho, feijão e hortaliças.

Artigo escrito por Bruno Arroyo, engenheiro agrônomo, com pós-graduação em Agronegócio.

Entre os inimigos invisíveis do solo, os nematoides ocupam lugar de destaque. Esses vermes microscópicos parasitam as raízes, formando galhas ou causando lesões que reduzem a eficiência do sistema radicular. Os reflexos são diretos: menor absorção de nutrientes, estresse hídrico precoce e queda na produtividade.

Pesquisas da Embrapa apontam que áreas infestadas por Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões radiculares) podem ter perdas médias de 21% na soja, o equivalente a 12 sacas por hectare. Além das evidências experimentais, estimativas da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN) indicam que os prejuízos anuais no agro superam R$ 35 bilhões, sendo cerca de R$ 16,2 bilhões apenas na soja.

O desafio do manejo

O controle de nematoides e doenças fúngicas é particularmente complexo porque não existe uma solução única. A própria Embrapa recomenda o manejo integrado, combinando práticas, como rotação de culturas com espécies não hospedeiras, para reduzir a população de patógenos no solo; o uso de cultivares resistentes, quando disponíveis; adubação equilibrada e correção do solo, que fortalecem as defesas naturais da planta; e o controle biológico, por meio de microrganismos benéficos (bactérias e fungos), que competem com fungos patogênicos e estimulam o crescimento vegetal. Essas práticas, quando aplicadas em conjunto, aumentam a resiliência do sistema produtivo e reduzem a dependência exclusiva de defensivos químicos.

Biotecnologia como aliada

Foto: SAA SP

A biotecnologia vem se consolidando como parceira estratégica do produtor. O uso de bioinsumos, seja via aplicação direta ou tecnologia On Farm, permite ampliar populações de microrganismos benéficos e fortalecer a saúde do solo.

Já desde 2023, dados da Spark Inteligência Estratégica citados pela Embrapa, indicam que o uso de bionematicidas no Brasil ultrapassou o de nematicidas químicos em importantes culturas. Na soja, os produtos biológicos já representavam cerca de 94% do mercado de nematicidas, enquanto no milho esse índice chegava a 100%, consolidando a liderança dos biológicos no controle de nematoides.

Esse movimento continua se ampliando em outras cadeias produtivas. Levantamento da Kynetec mostra que, em 2024, mesmo com a retração de 18% no mercado de defensivos para cana-de-açúcar, os produtos de matriz biológica já respondiam por 7% do total financeiro do setor, com bionematicidas e bioinseticidas representando 75% desse segmento. Esses números confirmam que a biotecnologia deixou de ser apenas uma alternativa e passou a ocupar papel central nas estratégias de manejo do solo e de controle de nematoides no agronegócio brasileiro.

Quando adotamos práticas integradas e combinamos biotecnologia com as recomendações científicas, damos passos importantes para preservar a produtividade e a sustentabilidade do agro. Em um cenário de custos crescentes de insumos, pressão por sustentabilidade e exigência de maior eficiência, deixar de lado esses inimigos invisíveis também significa renunciar margens que fazem diferença no resultado da safra.

A boa notícia é que hoje temos conhecimento científico e tecnologias biológicas robustas para transformar esse desafio em oportunidade. O futuro do agronegócio passa pela capacidade de unir ciência, inovação e sustentabilidade. Não se trata apenas de controlar patógenos, mas de preservar o potencial produtivo de cada hectare, garantindo alimento de qualidade e competitividade para o Brasil no cenário global.

Fonte: Artigo escrito por Bruno Arroyo, engenheiro agrônomo, com pós-graduação em Agronegócio.
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Industrialização no cooperativismo

Aposta das cooperativas catarinenses na agregação de valor transformou pequenas propriedades em polos produtivos modernos, fortalecendo a economia regional e elevando o padrão de vida no campo.

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A opção estratégica das cooperativas de Santa Catarina pela industrialização da produção primária – grãos, lácteos, carnes, frutas etc. – representa um dos movimentos mais ousados e transformadores da história econômica do Estado. Ao perceber que o campo não poderia permanecer restrito ao papel de mero fornecedor de matérias-primas, as lideranças cooperativistas estruturaram um complexo agroindustrial robusto, capaz de organizar a produção, agregar valor e garantir renda às famílias rurais. Essa visão antecipada rompeu com o antigo paradigma de dependência e inaugurou um modelo de desenvolvimento que alcançou resultados sociais e produtivos inéditos no País.

A industrialização cooperativa nasceu da necessidade concreta de oferecer ao pequeno e médio produtor condições reais de competir nos mercados nacional e mundial. A partir de uma política consistente de assistência técnica, financiamento de insumos, incorporação de tecnologias e difusão do conhecimento científico, as cooperativas criaram as bases para um ambiente rural moderno, dinâmico e inovador. O setor que, no passado, convivia com incertezas e improvisos, passou a operar com planejamento, escala, previsibilidade e segurança econômica.

Artigo escrito pelo presidente do Sistema Ocesc Vanir Zanatta.

Essa transformação teve efeitos profundos. Ao elevar a renda e melhorar as condições de vida no campo, o cooperativismo contribuiu decisivamente para fixar o homem no meio rural, ampliar o acesso a serviços essenciais e impulsionar o desenvolvimento regional. A eletrificação rural, a habitação, o saneamento, a mecanização agrícola e a adoção de equipamentos de última geração são frutos diretos da ação integrada das cooperativas ao longo de décadas.

O grande oeste catarinense, outrora isolado e economicamente frágil, encontrou no cooperativismo uma resposta sólida para seus desafios estruturais. A tradição cultural das etnias colonizadoras, a topografia acidentada e a predominância de minifúndios criaram um cenário propício à cooperação, que rapidamente se consolidou como ferramenta de proteção econômica, defesa política e fortalecimento social. Hoje, o ramo agropecuário responde pela maior parcela do PIB cooperativista do Estado e sustenta um agronegócio altamente competitivo, marcado pela presença de tecnologias avançadas que vão da biotecnologia à inteligência artificial.

A decisão histórica de industrializar a produção primária não apenas agregou valor aos alimentos catarinenses, mas consolidou um modelo de desenvolvimento sustentável, orientado pela eficiência, pela competitividade e pelo compromisso com o bem-estar coletivo. Nesse ambiente, o conhecimento compartilhado tornou-se diferencial estratégico, essencial para enfrentar mercados globalizados e mudanças tecnológicas aceleradas.

A experiência catarinense demonstra que cooperar não é apenas uma alternativa econômica, mas um instrumento de transformação social. A industrialização promovida pelas cooperativas reafirma a atualidade e a força desse modelo, que segue inspirando investimentos, guiando decisões e moldando o futuro do desenvolvimento regional.

Fonte: Artigo escrito pelo presidente do Sistema Ocesc Vanir Zanatta.
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Seguro rural segue fragilizado e expõe produtores a riscos crescentes no campo

Insuficiência de recursos para subvenção no Plano Safra 2025/26 compromete a proteção contra perdas climáticas e ameaça a estabilidade produtiva, econômica e social da agropecuária brasileira.

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Foto: Sistema Faep

O mercado de seguro rural no Brasil atravessa um momento crítico. Ainda que o anúncio do Plano Safra 2025/2026 tenha trazido um montante expressivo de recursos para crédito rural destinados à agricultura empresarial e agricultura familiar a dotação específica para instrumentos de proteção de risco, como o seguro rural, permanece insuficiente e fragiliza uma das bases da sustentabilidade da atividade primária.

A verdade é que o risco inerente à produção agropecuária — seja no cultivo agrícola, na pecuária ou no extrativismo — exige políticas robustas de gestão de risco. Fenômenos como geadas, secas, granizo, excesso hídrico, pragas ou enfermidades generalizadas não apenas reduzem a produção: geram efeito multiplicador sobre cadeias produtivas, impactam renda, crédito e até o abastecimento alimentar nacional.

Artigo escrito por José Zeferino Pedrozo, Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)

O mercado de seguro rural brasileiro padece precisamente porque essas variáveis permanecem imprevisíveis e, muitas vezes, fora do alcance da tomada de decisão dos produtores.

Neste contexto, o instrumento do seguro rural ganha protagonismo. Ele não é gasto, mas investimento em resiliência. Por meio dele, impulsiona‑se a adoção de tecnologias modernas, a formalização de operações, a garantia de continuidade da atividade diante de imprevistos.

Contudo, o quadro orçamentário evidencia fragilidade. Dados recentes apontam que no orçamento federal o programa de subvenção ao prêmio do seguro rural (PSR) não recebeu o aporte necessário e, em alguns casos, houve bloqueios ou suplementações negadas.

Embora o Plano Safra tenha ampliado o volume de crédito para custeio e investimento, não houve anúncio claro de aumento proporcional para o seguro rural ou para a subvenção do prêmio que viabilize ampla adesão dos produtores. Esse desalinhamento entre necessidade e dotação compromete fortemente a segurança da atividade primária. Quando um produtor investe em plantações, em criação ou extrativismo, assume risco de mercado (preço, logística, demanda) e risco “natural” (clima, solo, pragas). Diferente de empresas urbanas cujo risco pode ser parcialmente controlado, o agricultor lida com variáveis que escapam completamente de seu controle — daí a expressão “incerteza estrutural” da atividade rural.

Sem seguro rural acessível, um evento climático severo pode levar à ruptura de ciclo produtivo, insolvência, endividamento e até saída definitiva do campo. Essa vulnerabilidade afeta desde pequenos agricultores familiares até grandes produtores, mas atinge com especial gravidade quem tem menor escala, menor acesso à tecnologia e menor margem de manobra. A cobertura de seguro, com subsídio ao prêmio, é ferramenta de inclusão e de garantia de que o produtor não será exposto sozinho ao risco máximo.

É notório que os órgãos responsáveis pela política agrícola e orçamentária precisam reforçar o Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural, elevando os recursos e garantindo liberação tempestiva. Sem isso, a atividade agropecuária permanecerá vulnerável, e o Brasil perderá não apenas em produtividade, mas em estabilidade social e econômica no meio rural. É hora de tratar o seguro rural não apenas como um componente do Plano Safra, mas como pilar da política pública agropecuária.

Fonte: Artigo escrito por José Zeferino Pedrozo, Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de SC (Faesc) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar/SC)
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